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Resenha do livro “Eu Sou Aquilo” - Nisargadatta



Eu Sou Aquilo

A afirmação parece confusa: Eu sou "aquilo"... o que? Parece que a frase não foi completada. Mas para quem já leu essa obra primorosa, estas três palavras fazem muito sentido. Mais do que isso, são um lembrete para não perdermos o rumo. Sri Nisargadatta Maharaj as repetia o tempo todo, em cada um de seus satsangs (encontro com os discípulos) para enfatizar que devemos parar de acrescentar adjetivos à nossa essência. Somos aquilo que somos. Por que limitar nosso ser usando adjetivos?

É inquietante pensar em nós mesmos sem adicionar adjetivos, sem dizer "eu sou bonito", "eu sou infeliz", "eu sou inteligente", "eu sou casado e tenho dois filhos", "eu sou advogado". Mas esse é o objetivo de Maharaj ao nos conduzir por seus diálogos iluminadores. Usando a estrutura de ensino que aparece frequentemente nos Upanishads (literatura hindu), Sri Nisargadatta Maharaj se sentava com as pessoas que vinham procurá-lo, buscadores de todas as partes do mundo, para conversar durante uma hora ou duas todos os dias. Essas conversas gravadas e transcritas por um desses buscadores (Maurice Frydman), se transformou no livro I Am That.

Lembro que meu primeiro contato com esse livro foi num retiro de meditação, onde o instrutor leu alguns de seus capítulos. Senti-me tocado pela simplicidade e clareza dos ensinamentos de Maharaj e logo consegui uma cópia do livro. Comecei a ler avidamente, numa manhã de domingo. Bebia o néctar de cada palavra. Era como se eu estivesse lá, em sua saleta (que nunca conheci pessoalmente) rodeada por outros buscadores e envolvido em sua luz. Após alguns poucos capítulos, minha cabeça rodava. Tudo parecia tão claro e, ao mesmo tempo, tão estranho. Parecia que o meu quarto, os objetos ao meu redor e a minha própria vida era apenas uma miragem comparada àquela sensação de eternidade e grandeza que eu sentia. Aquele homem dizia tantas verdades, me dava tantos tapas com luvas de pelica, que eu, com medo de me iluminar naquele momento, fechei o livro e fui para o cinema. Assim, são os diálogos de Sri Nisargadatta Maharaj: iluminadores, comoventes e simples. Muitas vezes, mais do que responder aos ouvientes, ele os desafia com perguntas cujo objetivo é destruir a ignorância e nos dar um lampejo da grande realidade. Depois de lê-los é impossível esquecer seus ensinamentos. Pelo menos foi assim para mim.


Sri Nisargadatta Maharaj viveu uma vida comum: trabalhou, casou-se, teve filhos. Era dono de uma pequena loja em Mumbai (Bombay), onde vendia roupas para crianças, tabaco e cigarros artesanais, o que lhe deu alguma estabilidade financeira. Apesar da vida pacata, Maruti (seu antigo nome), era dono de uma mente inquieta, repleta de questões. Um amigo lhe apresentou, um dia, ao mestre Sri Siddharameshwar Maharaj e este foi seu ponto de mutação. O Guru lhe deu um mantra e algumas instruções sobre meditação. Ele praticou assiduamente e em pouco tempo começou a ter visões e estados de transe. Alguma coisa explodiu dentro dele dando nascimento a uma consciência cósmica e a um sentido de vida eterna. A identidade de Maruti, o pequeno comerciante, se dissolveu e a personalidade iluminada de Sri Nisargadatta emergiu.

Quando questionado sobre como aconteceu sua iluminação, ele diz:

Aconteceu que eu acreditei em meu Guru. Ele me disse que eu não sou nada além de mim mesmo, e eu acreditei nele. Acreditando nele, passei a me comportar de acordo e parei de me preocupar com tudo o que não era eu ou que não era do meu ser.

Parece simples demais. Bastou a ele perceber que não era nada além de si mesmo e tornar-se fiel a essa percepção. Mas, talvez, a iluminação seja realmente simples. Quando um ouvinte lhe pergunta qual a diferença básica entre ele e Maharaj, este lhe responde que não há nenhuma diferença. Sua vida é uma sucessão de eventos como a de qualquer um de nós. A diferença, segundo ele, está no fato de que o iluminado não se apega a esses fatos e olha "o show que passa apenas como um show que passa", enquanto nós nos apegamos às coisas e acontecimentos e nos movemos com eles de um lado para o outro. Assim, nossa mente está sempre cheia de coisas, pessoas e ideias. Nunca estamos focados em nós mesmos. Vamos aonde os pensamentos nos mandam, mas nunca penetramos em nós mesmos. Ele nos aconselha:

Coloque a si mesmo dentro do foco. Torne-se consciente da sua própria existência. Veja como você funciona, verifique os motivos e os resultados das suas ações. Estude a prisão que você, inadvertidamente, construiu a sua volta.

Porém, afirmar "eu sou" não é o final da jornada. Pensar em si mesmo sem se definir é apenas o começo, uma útil ferramenta que pode nos levar a vislumbrar a nossa essência. Mas, de acordo com seus ensinamentos, até o sentido de "eu sou" desaparece quando nos iluminamos. Não que perdemos a consciência de quem somos ou tenhamos que deixar de lado o ego e suas atribuições. Mas o corpo, o ego, a mente e nossos próprios pensamentos se tornam acessórios da nossa essência, que ele chama de Self. São como roupas que usamos. Vestir uma roupa diferente não nos modifica na essência. Nem o que acontece às nossas roupas nos afeta, tanto que quando estão velhas, jogamo-las fora e compramos outra. Quando alguém pergunta a ele se um iluminado também sente fome ou sono, Maharaj responde que sim e que pode até ficar irritado por não ter sua refeição na hora certa. Mas a fome e a irritação são percebidas por ele como um eco distante de algo que está acontecendo na periferia de seu ser. O mesmo acontece quando alguém lhe faz uma pergunta. Ele conhece a resposta ao mesmo tempo em que a pergunta é formulada. Ela não passa pelo racional ou pela mente.

No texto "O Self Está Além da Mente" podemos compreender um pouco mais sobre a maneira como a mente atua. Um ouvinte lhe pede uma técnica ou um conselho para tornar sua mente estável, ao que Maharaj responde que a natureza da mente é a instabilidade. Ela está habituada a ficar vagando de uma coisa para outra. O que podemos fazer é mudar o foco da consciência para além da mente. Ele nos prescreve a seguinte técnica:

Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento "Eu Sou". A mente se rebelará no início, mas com paciência e perseverança, ela irá render-se e ficará quieta. Uma vez quieta, as coisas começarão a acontecer espontânea e naturalmente, sem nenhuma interferência da sua parte.

Muitos dos ouvintes de Nisargadatta Maharaj lhe perguntam sobre a felicidade e o sofrimento e, em suas perguntas podemos perceber o quanto todos nós buscamos a felicidade no lugar errado. A felicidade verdadeira não pode estar em coisas que vêm e vão. O prazer não é duradouro. Ele vem sempre seguido da dor. Muitas vezes, começamos a sofrer no momento em que alcançamos aquilo que nos é prazeroso, pois já pensamos na dor que sentiremos ao perdê-lo. Assim, a verdadeira felicidade só é encontrada no Self. "Encontre seu Self real (svarupa) e tudo mais virá com ele."

Ao descobrirmos nossa verdadeira natureza, nem o medo, nem o sofrimento ou a dúvida terão lugar em nossa mente. O Self é nossa essência imortal. Por isso, um iluminado não teme nem mesmo a morte. Ele percebe que o fim do corpo não é o fim do ser. Sri Nisargadatta nos surpreende ao afirmar: "O que se ganha estando vivo? O que se perde ao morrer? Aquilo que nasceu, deve morrer; aquilo que nunca nasceu, não pode morrer. Tudo depende do que você acredita ser". Se acreditarmos ser o corpo, teremos que morrer, já que esse corpo nasceu um dia.

Sem nenhuma cerimônia, Sri Nisargadatta coloca sempre a responsabilidade em nossas mãos. Quando alguém lhe diz que tudo o que deseja é ter paz, prontamente ele responde:

Desprenda-se de tudo que não deixa sua mente descansar. Renuncie a tudo que perturba sua paz. Se você quer paz, mereça-a.

O Buscador retruca que todo mundo merece ter paz e Maharaj dispara "Somente a merecem aqueles que não a perturbam".

De conversa em conversa, Maharaj vai iluminando a escuridão de seus ouvintes, ajudando-os a se desapegarem da dor, do medo, da confusão. Em sua generosidade, nos brinda com a realidade, com a sabedoria libertadora, com a consciência do que somos em essência. Seus ensinamentos não estão limitados a um lugar, um povo ou uma época, pois ele não é um homem com um passado ou um futuro. Ele é o presente vivo - eterno e imutável.

Fonte: http://metamorficus.blogspot.com/2009/07/eu-sou-aquilo.html


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Do livro “Eu Sou Aquilo” (continuação) - Nisargadatta

A Pessoa é o Resultado de Um Mal Entendido

Realize que o que você pensa ser si mesmo é simplesmente uma cadeia de eventos; que enquanto tudo acontece, vem e vai, você sozinho é, o imutável entre o mutável, o auto-evidente entre o inferido. Separe o observado do observador e abandone as falsas identificações.

A sucessão de momentos transientes cria a ilusão de tempo, mas a realidade imutável de puro ser não está em movimento, pois todo movimento requer um fundo imóvel. Ele é por si mesmo o fundo. Uma vez encontrado dentro de você mesmo, você sabe que você nunca perdeu aquele ser independente.

O que muda não é real, o que é real não muda. Agora, o que é isto em você que não muda? Na medida em que haja comida, há corpo e mente.

Quando a comida é retirada, o corpo morre e a mente dissolve. Mas o observador perece? Isso é uma questão de experiência vivencial de que o eu, o self é independente da mente e do corpo. Isto é ser-consciência, benção.

Consciência de ser é benção. Você deve realizar a si mesmo como o imóvel por trás e além do móvel, a testemunha silenciosa de tudo que acontece.

A pessoa nunca é o sujeito. Você pode ver a pessoa, mas você não é a pessoa.

O seu ser como uma pessoa é decorrente da ilusão de espaço e tempo; Você imagina a si mesmo como existindo em um certo ponto ocupando um certo volume; sua personalidade é decorrente de sua auto identificação com o corpo.

Como a personalidade vem a ser? Identificando o presente com o passado e projetando-o no futuro.

O corpo-mente é como um quarto. Ele está lá, mas eu não preciso viver dentro dele todo o tempo. A pessoa é meramente o resultado de um mal entendido. Na realidade, não há tal coisa.

Sentimentos, pensamentos e ações correm diante do expectador em infinita sucessão, deixando traços no cérebro e criando uma ilusão de continuidade. Uma reflexão do expectador na mente cria o senso de "eu" e a pessoa adquire uma aparente existência independente. Na realidade não há nenhuma pessoa, somente o observador identificando-se com o "eu" e o "meu".

É porque "eu sou" é falso que ele quer continuar. A realidade não necessita continuar-sabendo-se indestrutível, ela é indiferente de formas e expressões. Para fortalecer e estabilizar o "Eu sou", nós fazemos todo tipo de coisas - todas em vão, pois o "eu sou" está sendo reconstruído de momento a momento. É um trabalho incessante, e a única solução radical é dissolver o senso separador "eu sou" tal ou qual "pessoa". Não é o "eu sou" que é falso, mas o que você toma como sendo você. Eu posso ver, além de qualquer sombra de dúvida, que você não é o que você acredita ser.

O que é realmente seu, você não está consciente. Aquilo do qual você está consciente não é nem você nem seu. Seu é o poder da percepção, não o que você percebe. É um engano tomar o consciente como sendo o homem inteiro. O homem é o inconsciente, o consciente e o superconsciente, mas você não é o homem. Seu é a tela do cinema, a luz, e o poder de ver, mas o filme não é você.

Como é minha presença, a qual está sempre aqui e agora, que dá qualidade de realidade a qualquer evento, eu devo estar além do tempo e espaço. E nunca nasci, nem jamais morrerei.

Tome a ideia "Eu nasci". Você pode tomá-la como sendo verdadeira.

Ela não é. Você não nasceu, nem jamais morrerá. É a ideia que nasceu e morrerá, não você. Ao identificar-se com ela você se tornou mortal. Seu engano está em sua crença de que você nasceu. Você nunca nasceu e jamais morrerá.

Entre o relembrado, e o real, o atual, há uma diferença básica a qual pode ser observada de momento a momento. Em nenhum ponto do tempo o atual é relembrado. Entre os dois há uma diferença em tipo, não meramente em intensidade. O atual é inconfundivelmente tal. Por nenhum esforço de vontade ou imaginação você pode intercambiar os dois. Agora, o que é isso que dá ao atual essa qualidade única? Um momento atrás, o relembrado era atual, em um momento o atual será o relembrado. O que faz o atual único? Obviamente, é o senso de estar presente. Na memória e antecipação, há um claro sentimento de que se trata de um estado mental sob observação, enquanto no atual o sentimento é primariamente de estar presente e alerta. Onde quer que vá, o senso de aqui e agora é levado contigo todo o tempo. Significa que você é independente de espaço e tempo, que espaço e tempo estão em você, não que você está neles. É sua identificação com o corpo, o qual, obviamente é limitado no tempo e espaço, que lhe dá o sentimento de finitude. Na realidade você é infinito e eterno.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://metamorficus.blogspot.com/2009/07/eu-sou-aquilo.html
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Do livro “Eu Sou Aquilo” - Nisargadatta

A Sensação de Ser do "Eu Sou"

Como não posso ser o que percebo, não sou este corpo-mente ou qualquer coisa da qual esteja consciente.

Não sou esta pessoa, este corpo-mente ou qualquer coisa.

Até mesmo dizer que você não é o corpo não é de todo verdade. De certa maneira você é tudo, os corpos, os corações, os espíritos, e muito mais ainda. Mergulhe profundamente na sensação "eu sou" e encontrará. Como reencontrar algo perdido ou esquecido? Você aguarda presente no espírito até que ela venha a você. A sensação de ser do "eu sou" é a primeira a emergir. Pergunte-se de onde ela vem ou contente-se de contemplá-la com calma. Quando o mental se fixa, imóvel, sobre "eu sou" você entra em um estado que você não pode exprimir, mas você pode experimentar. Tudo que você tem a fazer é tentar sem cessar. Apesar de tudo, esta sensação "eu sou" lhe é sempre presente, mas você a transplantou para todo gênero de coisas: corpo, sentimento, pensamento, opinião, posses interiores ou exteriores etc. Por causa delas você se tem por algo que você não é.

Como corpo, você está no espaço. Como mente, você está no tempo.

Mas é você um mero corpo com uma mente nele? Você já investigou alguma vez?

Por que não investigar a própria ideia de corpo? É a mente que surge no corpo ou é o corpo que surge na mente? Certamente deve haver uma mente para conceber a ideia "eu-sou-o-corpo". Um corpo sem uma mente não pode ser "meu corpo". "Meu corpo" estará invariavelmente ausente quando a mente está ausente. Ele também está ausente quando a mente está profundamente engajada em pensamentos e sentimentos.

Você observa o coração sentido, a mente pensando, o corpo agindo; o próprio ato de perceber mostra que você não é o que você percebe.

O percebido não pode ser o percebedor. O que quer que você veja, ouça ou pense a respeito, lembre-se - você não é o que acontece, você é aquele para quem isso acontece.

Desejo, medo, problema, alegria, eles não podem aparecer a menos que você esteja lá para que eles possam te aparecer. Assim, o que quer que aconteça aponta para sua existência como um centro de percepção. Abandone os apontadores e esteja consciente daquilo que eles estão apontando.

Quando você realiza que a distinção entre o interno e o externo só existe na mente, você não mais temerá. Você não é o corpo nem está no corpo.

Não há tal coisa como o corpo. Você se confundiu gravemente. Para compreender corretamente, investigue. Você não está no corpo, o corpo está em você! A mente está em você. Eles acontecem para você. Eles estão lá porque você os acha interessantes.

Você só sabe que reage. Quem reage e a que, você não sabe. Você sabe imediatamente que você existe: "Eu sou".

O "eu sou isso", "eu sou aquilo" é imaginário.

Para mim mesmo, eu não sou nem percebível nem concebível; não há nada para onde eu possa apontar e dizer: "isso sou eu". Você se identifica com tudo tão facilmente! Eu acho isso impossível. O sentimento "eu não sou isso ou aquilo", e "não há nenhum meu" é tão forte em mim que tão logo uma coisa ou um pensamento aparece, imediatamente surge o senso "isso não sou eu". O que quer que você possa ouvir, ver ou pensar a respeito, eu não sou aquilo. Eu sou livre de ser um preceito ou um conceito.

Como você não pode ver sua face, mas somente seu reflexo no espelho, assim você pode conhecer somente sua imagem refletida no espelho de pura consciência. Veja as impurezas e remova-as. A natureza do espelho perfeito é tal que você não pode vê-lo. O que quer que você veja serão sempre impurezas. Dê as costas para elas, abandone-as, aperceba-se delas como não desejadas. Todas as percepções são impurezas.

Tendo aperfeiçoado o espelho de modo que ele reflita corretamente, verdadeiramente, você pode virar o espelho e ver nele um reflexo de si mesmo - verdadeiro na medida em que espelhos refletem. Mas o reflexo não é você mesmo - você é o observador do reflexo.

Lembre-se, nada que você perceba é você mesmo.

O que é realmente seu, você não está consciente.

Você não é nada do que possa estar consciente.

Como deve haver algo imutável para registrar descontinuidade, eu não sou este corpo-mente, o qual não é nem contínuo nem permanente.

A mente é descontinua. De novo e de novo ela sai do ar, como em um sono ou distração. Deve haver algo contínuo para registrar a descontinuidade.

Memória é sempre parcial, não confiável e evanescente. Ela não explica o forte senso de identidade que permeia a consciência, o senso "Eu sou". Encontre o que está na raiz dele.

Você não pode estar consciente daquilo que não muda. Toda consciência é consciência de mudança. Mas a própria percepção de mudança - ela não necessita de um fundo imutável?

O eu baseado na memória é momentâneo. Mas tal eu demanda uma continuidade inquebrantável por trás dele. Você sabe por experiência própria que há intervalos, falhas quando seu eu é esquecido. O que o trás de volta à vida? O que o acorda pela manhã? Deve haver algum fator constante suprindo as falhas na consciência. Se você olha cuidadosamente, você descobrirá que até sua consciência diária acontece em flashes, com falhas intervindo todo o tempo. O que existe nesses intervalos? O que mais pode ser senão seu ser real, que é fora do tempo? A mente e a não-mente são um para ele.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://metamorficus.blogspot.com/2009/07/eu-sou-aquilo.html
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Sobre Nisargadatta Maharaj

Um Homem simples e sem instrução intelectual

Quando perguntavam sobre a data de seu nascimento, o Mestre replicava brandamente que ele nunca nasceu!

As poucas informações existentes sobre ele foram coletadas com familiares e amigos e, muitas vezes, são incongruentes. Conta-se que ele nasceu na lua cheia de Março de 1897, que coincide com o festival Hanuman Jayanti, quando os hindus homenageiam Hanuman, o famoso deus-macaco do Ramayana. Por isso, o recém-nascido recebeu o nome de Maruti (outro nome de Hanuman).

O garoto cresceu quase sem instrução, numa família pobre e seu pai trabalhava como serviçal numa residência em Bombay. Mais tarde, a família se mudou para uma pequena fazenda num vilarejo próximo à floresta de Ratnagiri, Maharastra. Maruti auxiliava seu pai nos afazeres da fazenda e suas diversões eram tão simples como seu trabalho, mas ele foi contemplado com uma mente inquisitiva, que borbulhava com questões de todos os tipos.

Quando Maruti completou 18 anos, seu pai faleceu deixando a viúva e seus seis filhos. Isto obrigou Maruti a mudar-se para Bombay em busca de melhores rendimentos para ajudar sua família. Após trabalhar algum tempo como auxiliar em um escritório, ele conseguiu montar uma pequena loja onde vendia roupas para crianças, tabaco e cigarros artesanais. Dizem que esse negócio cresceu e lhe proporcionou alguma estabilidade financeira. Nesse período ele se casou e teve um filho e três filhas.

Até a meia idade, Maruti viveu uma vida normal, como a de qualquer outro indiano. Um amigo lhe apresentou um dia, ao mestre Sri Siddharameshwar Maharaj, e este foi seu ponto de mutação. O Guru lhe deu um mantra e algumas instruções sobre meditação. Logo no início de sua prática, Maruti começou a ter visões e chegando a entrar em transe algumas vezes. Alguma coisa explodiu dentro dele dando nascimento a uma consciência cósmica e um sentido de vida eterna. A identidade de Maruti, o pequeno comerciante, se dissolveu e a personalidade iluminada de Sri Nisargadatta emergiu.

Após sua experiência de iluminação, Sri Nisargadatta Maharaj começou a viver uma vida dupla. Ele continuava conduzindo seus negócios, mas não era mais o mercador preocupado com o lucro. Mais tarde, decidiu abandonar sua família e sua loja (como é costume na Índia) e viver como peregrino. Com os pés descalços, se encaminhou para o Himalaia onde planejava passar o resto de seus anos em busca da vida eterna. Mas logo retrocedeu e percebeu a futilidade dessa busca. A vida eterna não era algo para ser desejado. Ele já a possuía. Tendo ido além da idéia de "eu sou este corpo", ele penetrou num estado mental tão cheio de alegria, paz e glória que qualquer coisa lhe parecia inútil comparado a essa sensação.

Embora sem instrução, seus diálogos são iluminadores num grau extraordinário. Embora tenha nascido e crescido na pobreza, ele é o mais rico dos homens, pois é dono de uma ilimitada abundância de conhecimento perene. Ele é caloroso e gentil, perspicaz e bem-humorado, absolutamente sem medos e totalmente verdadeiro, inspirando, guiando e dando suporte a todos que o procuram.

Qualquer tentativa de escrever uma nota biográfica sobre tal homem é frívola e fútil. Porque ele não é um homem com um passado ou um futuro; ele é o presente vivo - eterno e imutável. Ele é o Self que se tornou todas as coisa.

Seu principal livro é I Am That, onde estão transcritas suas conversas com os seus discípulos. Sri Nisargadatta Maharaj faleceu em 1981.

Fonte: http://www.yoga.pro.br/artigos/234/3015/quem-e-sri-nisargadatta-maharaj
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Meditação - Nisargadatta

Tornar-se Consciente e Familiarizar-se Com a Vida Interior

Discípulo: Todos os professores nos aconselham a meditar. Qual é o objetivo da meditação?

Maharaj: Nós conhecemos o mundo exterior de sensações e ações, mas do nosso mundo interior de pensamentos e sentimentos nós conhecemos muito pouco. O objetivo inicial da meditação é tornar-se consciente e familiarizar-se com a vida interior. O objetivo final é alcançar a fonte de vida e consciência.

Incidentemente, a prática da meditação afeta profundamente nosso caráter. Nós somos escravos do que não conhecemos. Daquilo que conhecemos somos mestres. Qualquer que seja o vício ou a fraqueza, se os descobrimos dentro de nós e entendemos as suas causas e como funcionam, nos tornamos capazes de superá-los por conhecê-los bem. O inconsciente se dissolve quando trazido à consciência. A dissolução do inconsciente libera energia: a mente se sente adequada e se torna quieta, silenciosa.

D: Para que serve uma mente quieta?

M: Quando a mente está quieta, nós podemos nos perceber como puros observadores. Nós nos afastamos da experiência e do experimentador e nos mantemos a parte, no estado de pura consciência, a qual está entre e além dos dois. A personalidade, baseada na identificação com o ego e em imaginar que somos alguma coisa: "Eu sou isto, eu sou aquilo", continua, mas somente como parte do mundo objetivo. A sua identificação com a testemunha se quebra.

D: Até onde eu sei, vivemos em muitos níveis e a vida em diferentes níveis requer energia. O ego, pela sua natureza se delicia com tudo e sua energia se dispersa. Não é o objetivo da meditação represar a energia em seus níveis superiores ou movimentá-la para baixo e para cima, permitindo que os níveis superiores do ser se desenvolvam?

M: Isso tem mais a ver com os gunas (qualidades) do que com níveis. A meditação é uma atividade sátvica e que se volta para a completa eliminação de tamas, a inércia e rajas, a mobilidade ou atividade. Satva puro (harmonia) é a perfeita libertação da indolência e da agitação.

D: Como fortalecer e purificar Satva?

M: Satva é pura e forte sempre. É como o sol que pode parecer obscurecido pelas nuvens ou pelo pó, mas somente do ponto de vista do observador. Trabalhe com as causas do obscurecimento, não com o sol.

D: Para que serve Satva?

M: Para que serve a verdade, a bondade, a harmonia, a beleza? Essas qualidades são metas em si mesmo. Elas se manifestam, espontaneamente, sem nenhum esforço, quando deixamos as coisas seguirem seu curso, quando não interferimos, quando não evitamos, ou desejamos ou conceituamos, mas simplesmente, as experimentamos em total consciência. Essa consciência por si só é Satva. Satva não utiliza coisas e nem é usada pelas pessoas, ela as preenche.

D: Como eu não posso incrementar satva, devo trabalhar com tamas e rajas somente? Como faço para lidar com elas?

M: Observando suas influências em você e sobre você. Esteja consciente delas em operação. Observe-as se expressando em seus pensamentos, palavras e atos. Gradualmente, a força delas sobre você diminuirá e a clara luz de satva começará a emergir. Isso não é nem difícil nem um longo processo. A seriedade e sinceridade são as únicas condições para o sucesso.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://www.arunayoga.com.br/?artigo/mostrar/58




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A experiência direta (continuação) - Nisargadatta

Você Já É Universal

Pergunta: Como posso tornar-me universal?

Maharaj: Mas você já é universal. Você não necessita nem pode tornar-se o que já é. Só deixe de imaginar que você é o particular. O que vem e vai não tem ser. Ele deve sua própria aparição à realidade. Você sabe que existe um mundo, mas o mundo conhece você? Todo conhecimento flui de você, assim como todo ser e toda alegria. Compreenda que você é a fonte eterna, e aceite tudo como próprio. Tal aceitação é verdadeiro amor.

P: Tudo o que diz soa muito bonito. Mas como alguém pode fazer disto um modo de vida?

M: Sem nunca ter abandonado a sua casa, está perguntando pelo caminho para casa. Livre-se das falsas ideias, isso é tudo. Juntar ideias corretas não o levará a nenhum lugar. Simplesmente deixe de imaginar.

P: Não é uma questão de realização, mas de entendimento.

M: Não tente entender! É suficiente que não entenda mal. Não confie em sua mente para alcançar a liberação. É a mente a que o levou à escravidão. Vá além dela de uma vez. O que não tem princípio não pode ter uma causa. Não é que você soubesse o que era e então esqueceu. Uma vez que saiba, não pode esquecer. A ignorância não tem princípio, mas pode ter fim. Investigue quem é ignorante, e a ignorância se dissolverá como um sonho. O mundo está cheio de contradições, daí que você busca a harmonia e a paz. Mas estas não podem ser encontradas no mundo, pois o mundo é filho do caos. Para encontrar ordem tem que buscar dentro de si mesmo. O mundo aparece só quando você nasce em um corpo. Sem corpo não há mundo. Primeiro investigue se você é o corpo. A compreensão do mundo chegará depois.

P: O que você diz soa convincente, mas para que serve à pessoa em particular, para quem sabe que está no mundo e é do mundo?

M: Milhões de pessoas comem pão, mas poucos conhecem tudo sobre o trigo. E só aqueles que sabem podem melhorar o pão. De modo similar, só aqueles que conhecem o ser, que viram além do mundo, podem melhorar o mundo. O valor que eles têm para as pessoas é imenso, já que são sua única esperança de salvação. O que está no mundo não pode salvar o mundo; se realmente se interessa em ajudar o mundo, deve sair dele.

P: Mas pode alguém sair do mundo?

M: Quem nasceu primeiro, você ou o mundo? Enquanto der prioridade ao mundo, estará limitado por ele; uma vez que compreenda, sem o menor traço de dúvida, que o mundo está em você e não você no mundo, você está fora dele. Certamente, seu corpo permanece no mundo e do mundo, mas você não é enganado por ele. Todas as escrituras dizem que, antes que o mundo fosse, o criador era. Quem conhece o criador? Só o que existia antes do criador, seu próprio ser real, a origem de todos os mundos com seus criadores.

P: Tudo o que você diz é mantido pela sua compreensão de que o mundo é sua própria projeção. Você admite que se refere a seu próprio mundo pessoal, subjetivo, o mundo dado a você através de sua mente e seus sentidos. Nesse sentido cada um de nós vive em um mundo de sua própria projeção. Estes mundos privados dificilmente se tocam uns com os outros e surgem, e se dissolvem, no "eu sou" em seu centro. Mas, com toda certeza, por trás destes mundos privados, há de existir um mundo objetivo, comum, do qual os mundos privados são meras sombras. Nega você a existência de tal mundo objetivo, comum a todos?

M: A realidade não é nem objetiva nem subjetiva, nem matéria nem mente, nem tempo nem espaço. Estas divisões necessitam de alguém a quem acontecer, um centro consciente separado. Mas a realidade é tudo e nada, a totalidade e a exclusão, a plenitude e o vazio, totalmente consistente, absolutamente paradoxal. Você não pode falar sobre ela, pode apenas perder seu ser nela. Quando você nega realidade a tudo, chega a um resíduo que não pode ser negado. Toda conversa sobre gnana é um sinal de ignorância. É a mente que imagina que não sabe e então vem a saber. A realidade não conhece nada destas contorções. Mesmo a ideia de Deus como criador é falsa. Devo meu ser a qualquer outro ser? Por que eu sou, tudo é.

P: Como é possível? Uma criança nasce dentro do mundo, não o mundo na criança. O mundo é velho e a criança, nova.

M: A criança nasce dentro de seu mundo. Agora, você nasceu dentro do mundo, ou o mundo apareceu a você? Nascer significa criar um mundo ao redor de você como o centro. Mas você criou a você mesmo? Ou alguém criou você? Todos criam um mundo para si mesmo e vem nele, aprisionados pela própria ignorância. Tudo o que temos que fazer é negar realidade a nossa prisão.

P: Justamente como o estado de vigília existe no sonho em forma de semente, assim o mundo que a criança cria ao nascer existia antes de seu nascimento. Com quem repousa a semente?

M: Com aquele que é testemunha do nascimento e da morte, mas nem nasce nem morre. Só ele é a semente da criação assim como seu resíduo. Não peça à mente que confirme o que está além dela. A experiência direta é a única confirmação válida.

Nisargadatta maharaj



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A Experiência Direta - Nisargadatta

Você Nunca Se Afastou Da Perfeição

Pergunta: Tenho vindo mais para estar com você do que para escutá-lo. As palavras podem dizer muito pouco, muito mais pode ser comunicado em silêncio.

Maharaj: Primeiro palavras, depois silêncio. Deve-se estar maduro para o silêncio.

P: Posso viver em silêncio?

M: O trabalho altruísta leva ao silêncio porque, quando você trabalha sem egoísmo, não necessita pedir ajuda. Sendo indiferente aos resultados se está disposto a trabalhar com os meios mais inadequados. Não há a preocupação de estar muito bem preparado e bem equipado. Nem tampouco pede reconhecimento ou assistência, simplesmente faz o que pode e o que é necessário fazer, deixando o êxito ou o fracasso ao desconhecido. Tudo é causado por inumeráveis fatores, dos quais o esforço pessoal é apenas um. Às vezes, pela magia da mente e do coração humanos, o mais improvável acontece quando a vontade e o amor humanos cooperam.

P: O que está errado em pedir ajuda quando o trabalho vale à pena?

M: Onde está à necessidade de pedir ajuda? Isto meramente mostra fraqueza e ansiedade. Trabalhe, e o universo trabalhará com você. Depois de tudo, a própria ideia de fazer o correto lhe chega do desconhecido. No que diz respeito aos resultados, deixe-os ao desconhecido; passe simplesmente pelos movimentos necessários. Você é só um elo na longa cadeia de causação. Essencialmente, tudo acontece apenas na mente. Quando você trabalha por algo com todo seu coração e firmeza, este algo acontece, já que a função da mente é fazer que aconteçam as coisas. Na realidade, nada falta e nada é necessário, todo trabalho só existe na superfície. Nas profundezas, há uma perfeita paz. Todos os problemas surgiram porque você definiu a si mesmo e, portanto, limitou-se. Quando não pensa que você é isto ou aquilo, todo conflito cessa. Qualquer tentativa de fazer algo que solucione os seus problemas fracassará, pois o que é causado pelo desejo só pode ser desfeito pela liberação do desejo. Você se encerrou no tempo e no espaço, comprimiu-se ao lapso de duração de uma vida e ao volume de um corpo, e criou assim os inumeráveis conflitos da vida e da morte, do prazer e da dor, da esperança e do medo. Não pode libertar-se dos problemas sem abandonar as ilusões.

P: Uma pessoa é naturalmente limitada.

M: Não existe a pessoa. Existem apenas restrições e limitações. A soma total destas define a pessoa. Você crê que conhece a si mesmo quando sabe que você é. Mas você nunca sabe quem é. A pessoa meramente parece ser, como o espaço dentro do pote parece ter a forma, o volume e o odor do pote. Veja que você não é o que você acredita ser. Lute com todas as forças de que dispõe contra a ideia de que você pode ser nomeado ou descrito. Não é assim. Negue-se a pensar em si mesmo em termos disto ou daquilo. Não existe outra saída da miséria, que você criou para si mesmo, através da cega aceitação sem investigação. O sofrimento é uma chamada à investigação; toda dor necessita investigação. Não seja preguiçoso para pensar.

P: A atividade é a essência da realidade. Não há virtude em não trabalhar. Junto com o pensamento, alguma coisa deve ser feita.

M: Trabalhar no mundo é duro, privar-se de todo trabalho desnecessário é ainda mais duro.

P: Para a pessoa que sou, tudo isto parece impossível.

M: O que você sabe sobre si mesmo? Você só pode ser o que é na realidade. Você só pode parecer o que não é. Você nunca se afastou da perfeição. Toda a idéia de melhoramento é convencional e verbal. Assim como o sol não conhece a escuridão, o ser não conhece o não-ser. É a mente que, por conhecer o outro, torna-se o outro. Mesmo assim, a mente é nada mais que o ser. É o ser que se torna o outro, o não-ser, e ainda assim permanece sendo o ser. Tudo o mais é suposição. Do mesmo modo que uma nuvem escurece o sol sem afetá-lo de qualquer modo, a suposição obscurece a realidade sem destruí-la. A própria idéia de destruição da realidade é ridícula; o destruidor sempre é mais real que o destruído. A realidade é o destruidor final. Toda separação, toda espécie de afastamento e alienação, é falsa. Tudo é um - esta é a solução final para todo conflito.

P: Como é que, apesar de tanta instrução e assistência, não progredimos?

M: Enquanto imaginarmos que somos personalidades separadas, totalmente aparte das outras, não podemos compreender a realidade que é essencialmente impessoal. Primeiro devemos conhecer-nos como testemunhas apenas, centros de observação sem dimensão e atemporais, e então compreender este imenso oceano de Consciência que é, ao mesmo tempo, a mente e a matéria, e está além de ambas.

P: Seja o que for na realidade, eu me sinto uma pessoa pequena e separada, uma entre muitas.

M: A ideia de ser uma pessoa se deve à ilusão do tempo e do espaço; você se imagina em um certo ponto e ocupando um certo volume; sua personalidade é resultado de sua identificação com o corpo. Seus pensamentos e sentimentos existem em sucessão, têm sua duração no tempo, e fazem com que você imagine a si mesmo, devido à memória, como tendo uma duração. Na realidade, o tempo e o espaço existem em você, mas você não existe neles. São modos de percepção, mas não os únicos. O tempo e o espaço são como palavras escritas no papel; o papel é real; as palavras, uma mera convenção. Que idade você tem?

P: Quarenta e oito anos!

M: o que o faz dizer quarenta e oito anos? O que o faz dizer: estou aqui? Hábitos verbais nascidos de suposições. A mente cria o tempo e o espaço e entende suas próprias criações como realidade. Tudo está aqui e agora, mas não o vemos. Verdadeiramente, tudo existe em mim e sobre mim. Não há nada mais. A própria idéia de "outro" é um desastre e uma calamidade.

P: Qual é a causa da personificação, da auto-limitação no tempo e no espaço?

M: Aquilo que não existe não pode ter uma causa. Não existe uma pessoa separada. Ainda do ponto de vista empírico, é óbvio que tudo é causa de tudo, que tudo é como é porque o universo inteiro é como é.

P: Mas a personalidade deve ter uma causa.

M: Como chega a existir a personalidade? Pela recordação. Ao identificar o presente com o passado e projetando-o no futuro. Pense em si mesmo como algo momentâneo, sem passado ou futuro, e sua personalidade se dissolve.

P: O "eu sou" não permanece?

M: A palavra "permanece" não se aplica aqui. "Eu sou" sempre é novo. Você não necessita recordá-lo para que seja. De fato, antes que você possa experimentar qualquer coisa, deve existir o sentido de ser. Neste momento, seu ser está misturado com as experiências. Tudo o que você necessita é desatar o ser do nó das experiências. Uma vez que tenha conhecido o ser puro, sem ser isto ou aquilo, você o distinguirá entre as experiências e não será mais enganado pelos nomes e pelas formas. A auto-limitação é a própria essência da personalidade.

Nisargadatta maharaj



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O desafio do Mestre - Nisargadatta

Não Vejo Diferença Nenhuma Entre Você e Eu

Discípulo: Maharaj, você está sentado aí, diante de mim e eu estou aqui a seus pés. Qual a diferença básica entre nós?

Maharaj: Não há nenhuma diferença básica.

D: Mas, ainda assim parece ter alguma diferença real. Eu vim a você, você não veio até mim.

M: É porque você imagina essas diferenças que você veio aqui e vai ali em busca de uma pessoa superior.

D: Mas você é uma pessoa superior. Você alega conhecer a realidade enquanto eu não.

M: Eu por acaso lhe disse que você não sabe nada e, portanto, que você é inferior? Deixe aqueles que criaram essas distinções, prová-las. Eu não alego conhecer algo que você não conhece. Na verdade eu sei muito menos do que você.

D: Suas palavras são sábias, seu comportamento é nobre e sua graça é poderosa.

M: Eu não sei nada sobre tudo isso e não vejo diferença nenhuma entre você e eu. A minha vida é uma sucessão de eventos exatamente como a sua. A única diferença entre nós é que eu estou desapegado e vejo o show que passa somente como um show que passa, enquanto você se apega às coisas e se move com elas de um lado para o outro.

D: O que o torna uma pessoa tão imparcial?

M: Nada em especial. Aconteceu que eu acreditei no meu Guru. Ele me disse que eu não sou nada além de mim mesmo, e eu acreditei nele. Acreditando nele, eu passei a me comportar de acordo e parei de me preocupar com tudo o que não era eu ou que não era do meu ser.

D: Por que você foi tão bem aventurado em acreditar totalmente no seu professor enquanto nossa fé é nominal e verbal?

M: Quem pode dizer? Isso simplesmente aconteceu. Coisas acontecem sem causa e sem razão e, de qualquer forma, que diferença faz quem é quem? A sua elevada opinião sobre mim é apenas a sua opinião. A qualquer momento você pode mudá-la. Por que dar tanta importância a opiniões, mesmo que sejam as suas?

D: Ainda assim você é diferente. Sua mente parece estar sempre quieta e feliz e milagres acontecem a sua volta.

M: Eu não sei nada sobre milagres. E fico pensando se a natureza admite exceções às suas leis, a menos que concordemos que tudo seja um milagre. Para mim, isso não existe. Há uma consciência onde tudo acontece. Esses milagres são bastante óbvios e fazem parte da experiência de todos. Você apenas não olha com o cuidado suficiente. Olhe atentamente e veja o que eu vejo.

D: E o que você vê?

M: Eu vejo o que você também pode ver aqui e agora, mas pelo foco errado da sua atenção. Você não dá atenção a si próprio. Sua mente está cheia de coisas, pessoas e idéias, nunca com você mesmo. Coloque a si mesmo dentro do foco. Torne-se consciente da sua própria existência. Veja como você funciona, verifique os motivos e os resultados das suas ações.

Estude a prisão que você, inadvertidamente, construiu a sua volta. Descobrindo o que você não é você acabará se conhecendo. O caminho de volta a si mesmo vai através da recusa e da rejeição. Uma coisa é certa: o real não é imaginário, não é produto da mente. Até mesmo o sentido de "eu sou" não é continuo, apesar de ser um sinalizador útil; ele mostra onde procurar, mas não o que procurar. Apenas dê uma boa olhada nisso.

Uma vez que você estiver convencido de que você não pode dizer verdadeiramente nada sobre si próprio, exceto "eu sou", e de que nada para o que você possa apontar pode ser você mesmo, a necessidade do "eu sou" termina. Você não mais tentará verbalizar o que você é. Tudo o que você precisa é livrar-se da tendência de definir a si mesmo. Todas as definições aplicam-se somente ao seu corpo e às suas expressões.

Uma vez que esta obsessão com o corpo termine, você reverterá ao seu estado natural, espontaneamente e sem esforço. A única diferença entre nós é que eu estou consciente do meu estado natural, enquanto você está a devanear. Assim como o ouro usado numa jóia não leva nenhuma vantagem em relação ao ouro em pó, exceto quando a mente as cria, assim também somos uno em essência - diferimos apenas na aparência. Descobrimos isto sendo sinceros, procurando, inquirindo, questionando diariamente, a toda hora, dedicando uma vida a essa descoberta.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://www.yoga.pro.br/artigos/237/70/jnana-yoga-o-desafio-do-mestre




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O ser está além da mente - Nisargadatta

Ao Esclarecer a Confusão Da Mente Você Se Livrará Dela

Questionador: Quando criança, eu frequentemente experimentava estados de completa felicidade, chegando ao êxtase. Mais tarde, eles cessaram. Mas desde que vim para a Índia eles reapareceram, principalmente depois que o encontrei. Ainda assim, esses estados, embora maravilhosos, não são duradouros. Eles vão e vêm sem que eu saiba quando voltarão.

Maharaj: Como alguma coisa pode permanecer estável em uma mente, quando ela mesma não é estável?

Q: Como posso tornar minha mente estável?

M. Como pode uma mente instável tornar-se a si mesma estável? É claro que não pode. É natureza da mente ficar vagando. Tudo que se pode fazer é deslocar o foco da consciência para além da mente.

Q: Como se faz isso?

M: Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento "Eu Sou". A mente se rebelará no início, mas com paciência e perseverança, ela irá render-se e ficar quieta. Uma vez quieta, as coisas começarão a acontecer espontânea e naturalmente, sem nenhuma interferência da sua parte.

Q: Posso evitar esta batalha com minha mente?

M: Sim, você pode. Apenas viva sua vida da maneira como ela se apresenta, mas fique alerta, vigilante, permitindo que cada coisa aconteça da maneira que acontecer, fazendo as coisas naturais de um jeito natural, sofrendo, regozijando-se, da forma como as coisas vierem. Esta também é uma maneira.

Q: Bem, então eu posso também me casar, ter filhos, tocar um negócio... ser feliz.

M: Certamente. Você pode ser feliz ou não, a escolha é sua.

Q: Bem, eu quero a felicidade.

M: A verdadeira felicidade não pode ser encontrada em coisas que mudam e se vão. Prazer e dor se alternam inexoravelmente. A felicidade vem do self e pode ser encontrada somente nele. Encontre o seu self real (swarupa) e tudo mais virá com ele.

Q: Se o meu verdadeiro self é paz e amor, por que ele é tão inquieto, tão agitado?

M: Não é seu ser real que é agitado, mas seu reflexo na mente é que parece agitado, pois a mente é agitada. É como o reflexo da lua na água movimentada pelo vento. O vento do desejo agita a mente e o "eu", que nada mais é do que o reflexo do Self na mente, parece mutável. Mas essas ideias de movimento, inquietação, prazer e dor estão todas na mente. O Self está além da mente, consciente, mas sem envolvimento.

Q: Como alcançá-lo?

M: Você é o Self, aqui e agora. Deixe a mente em paz, fique consciente, não se envolva e você irá perceber que permanecer alerta, mas desprendido, assistindo os acontecimentos indo e vindo, é um aspecto da sua natureza real.

Q: Quais são os outros aspectos?

M: Os aspectos são em número infinito. Conheça um e você conhecerá todos.

Q: Diga alguma coisa que possa me ajudar.

M: Você é quem sabe melhor o que você necessita!

Q: Eu não tenho descanso. Como posso obter paz?

M: Para que você quer paz?

Q: Para ser feliz.

M: Você não é feliz?

Q: Não, eu não sou.

M: O que o torna infeliz?

Q: Eu tenho o que não quero, e quero o que não tenho.

M: Por que você não inverte a situação: queira o que você tem e não se importe com o que não tem?

Q: Eu quero o que é prazeroso e não quero o que é doloroso.

M: Como você sabe o que é prazeroso ou não?

Q: Em função da experiência passada, é claro.

M: Guiado pela memória você tem perseguido o prazeroso e fugido do não prazeroso. Você tem obtido sucesso?

Q: Não, não tenho. O prazeroso não dura. A dor instala-se novamente.

M: Que dor?

Q: O desejo pelo prazer, o medo da dor, ambos são estados de angústia. Existe um estado de prazer puro?

M: Cada prazer, físico ou mental, necessita de um instrumento. Tanto os instrumentos físicos como mentais são materiais, eles cansam e tornam-se batidos. O prazer que eles proporcionam é necessariamente limitado em intensidade e duração. A dor é o pano de fundo de todos os seus prazeres. Você os quer porque você sofre. Por outro lado, a busca pelo prazer é a causa da dor. É um círculo vicioso.

Q: Eu posso ver o mecanismo da minha confusão, mas não vejo a forma de sair dele.

M: O exame detalhado do mecanismo mostra o caminho. Afinal, sua confusão está só na sua mente, que nunca lutou muito contra a confusão e nunca se agarrou tanto a ela. Sua mente se rebela apenas contra a dor.

Q: Então, tudo o que tenho a fazer é permanecer confuso?

M: Fique alerta. Questione, observe, investigue, aprenda tudo que puder sobre a confusão, como ela opera, o que ela faz a você e aos outros. Ao esclarecer a confusão você se livrará dela.

Q: Quando olho para dentro de mim, percebo que meu desejo mais forte é criar um monumento, construir alguma coisa que possa durar mais do que eu. Mesmo quando eu penso em um lar, esposa e filhos, é porque eles são uma testemunha duradoura e sólida de mim mesmo.

M: Certo, construa um monumento para você. Como você pensa fazer isso?

Q: Importa pouco o que eu construo, desde que seja permanente.

M: Certamente, você vê por si mesmo que nada é permanente. Tudo se desgasta, quebra, dissolve. O próprio chão onde você constrói também desaparecerá. O que você pode construir que dure mais que tudo?

Q: Intelectualmente, verbalmente, estou consciente de que tudo é transitório. Ainda assim, de alguma forma meu coração deseja permanência. Quero criar algo que dure.

M: Então você precisa construir isso com alguma coisa duradoura. O que você tem que é duradouro? Nem seu corpo, nem sua mente duram. Você precisa procurar em outro lugar.

Q: Eu anseio pela permanência, mas não a encontro em nenhum lugar.

M: Você, você mesmo não é permanente?

Q: Eu nasci e meu destino é morrer.

M: Você pode verdadeiramente dizer que você não era antes de nascer e você pode possivelmente dizer quando estiver morto: "Agora eu não sou mais"? Você não pode dizer, pela sua própria experiência, que você não é. Você só pode dizer "Eu sou". Os outros também não podem dizer-lhe "você não é".

Q: Não há "Eu sou" no sono.

M: Antes de fazer tais afirmações examine cuidadosamente seu estado de vigília. Você logo descobrirá que ele está cheio de falhas, quando a mente fica em branco. Perceba como você se recorda pouco mesmo quando totalmente acordado. Você não pode dizer que você não estava consciente durante o sono. Você apenas não se lembra. Uma falha na memória não é necessariamente uma falha na consciência.

Q: Posso lembrar, por mim mesmo, meu estado de sono profundo?

M: É claro! Eliminando os intervalos durante suas horas de vigília você gradualmente eliminará os longos intervalos de ausência da mente, que você chama de sono. Você ficará consciente de que está dormindo.

Q: Mas o problema da permanência, da continuidade do ser, ainda continua sem solução.

M: A permanência é mera ideia, nascida da ação do tempo. O tempo, por sua vez, depende da memória. Por permanência você entende uma memória que não falha através de um tempo que seja contínuo. Você quer eternizar a mente, o que não é possível.

Q: Então o que é eterno?

M: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar uma coisa transitória - somente o imutável é eterno.

Q: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não desejo mais conhecimento. Tudo que eu quero é paz.

M: Você pode obter toda paz que você quer apenas pedindo.

Q: Eu estou pedindo.

M: Você deve pedir com um coração não dividido e viver uma vida integrada.

Q: Como?

M: Desprenda-se de tudo que não deixa sua mente descansar. Renuncie a tudo que perturba sua paz. Se você quer paz, mereça-a.

Q: Certamente todos merecem paz.

M: Somente a merecem aqueles que não a perturbam.

Q: De que forma eu perturbo a paz?

M: Sendo um escravo de seus desejos e medos.

Q: Mesmo quando eles são justificáveis?

M: Reações emocionais, nascidas da ignorância e da inadvertência, nunca se justificam. Procure uma mente clara e um coração limpo. Tudo que você precisa é manter-se bem alerta, investigando a verdadeira natureza de você mesmo. Este é o único caminho para a paz.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://www.yoga.pro.br/artigos/236/70/o-ser-esta-alem-da-mente




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O estado livre de desejos: A mais elevada bênção - Nisargadatta (Continuação)

Tudo o Que Pode Ser Percebido é Transitório, Só o "Eu Sou" é Permanente

Pergunta: Eu me dedico ao estudo da filosofia, da sociologia e da educação. Creio que necessito mais desenvolvimento mental antes de poder sonhar com a auto-realização. Estou no caminho correto?

Maharaj: Para ganhar a vida é necessário algum conhecimento especializado. O conhecimento geral desenvolve a mente, não há dúvida. Mas, se vai passar toda a vida juntando conhecimento, você construirá um muro ao redor de si mesmo. Para ir além da mente, não será necessária uma mente bem preparada.

P: Então, o que será necessário?

M: Desconfiar de sua mente, e ir além.

P: O que encontrarei além da mente?

M: A experiência direta de ser, conhecer e amar.

P: Como se vai além da mente?

M: Há muitos pontos de partida, todos levam à mesma meta. Pode começar com um trabalho desinteressado, abandonando o fruto da ação; então poderá deixar de pensar e terminar abandonando todos os desejos. Abandonar (tyaga), neste caso, é o fator operativo. Ou você pode não se preocupar com nada do que queira ou pense, ou faça, permanecendo apenas no pensamento e sentimento "eu sou", enfocando o "eu sou" firmemente em sua mente. Todo tipo de experiências pode ocorrer então; permaneça inabalável, com o conhecimento de que tudo o que pode ser percebido é transitório, e que só o "eu sou" dura.

P: Eu não posso dedicar toda a minha vida a tais práticas. Tenho que atender as minhas obrigações.

M: Não deixe de atender as suas obrigações! A ação na qual não esteja emocionalmente implicado e que seja benéfica, e não cause sofrimento, não o limitará. Você pode ocupar-se em várias direções e trabalhar com enorme empenho, e permanecer interiormente livre e sereno, com a mente como um espelho que a tudo reflete sem ser afetada.

P: Tal estado é realizável?

M: Não falaria dele se assim não fosse. Por que haveria de ocupar-me com fantasias?

P: Todos citam as escrituras.

M: Aqueles que conhecem apenas as escrituras não conhecem nada. Conhecer é ser. Eu sei do que falo não por ter lido ou por ter ouvido.

P: Estou estudando sânscrito com um professor, mas realmente só estou lendo as escrituras. Eu busco a auto-realização, e vim obter a orientação necessária. Por favor, diga-me o que deverei fazer.

M: Já que leu as escrituras, por que pergunta?

P: As escrituras mostram as linhas gerais, mas o indivíduo necessita de instruções pessoais.

M: Seu próprio ser é seu ultimo mestre (sadguru). O mestre externo (Guru) é meramente um sinal no caminho. Só seu mestre interno caminhará com você até a meta, pois ele é a meta.

P: O mestre interior não é encontrado facilmente.

M: Já que está em você e com você, a dificuldade não pode ser séria. Olhe para dentro e o encontrará.

P: Quando olho para dentro, encontro sensações e percepções, pensamentos e sentimentos, desejos e medos, lembranças e expectativas. Estou imerso nesta nuvem e não vejo nada.

M: Este que vê tudo isto, e o nada também, é o mestre interior. Só ele é, todo o restante parece ser. Ele é seu próprio ser (swarupa), sua esperança e segurança de liberdade; encontre-o e una-se a ele, e estará a salvo e seguro.

P: Acredito, mas quando procuro este ser interior, vejo que me escapa.

M: A idéia "me escapa", onde surge?

P: Na mente.

M: E quem conhece a mente?

P: A testemunha da mente conhece a mente.

M: Veio alguém para dizer-lhe: "Eu sou a testemunha da mente"?

P: Claro que não. Seria apenas outra idéia na mente.

M: Então, quem é a testemunha?

P: Eu sou.

M: De modo que conhece a testemunha porque você é a testemunha. Não necessita ver a testemunha em sua frente. Aqui, de novo, ser é conhecer.

P: Sim, vejo que eu sou a testemunha, a própria Consciência. Mas, em que isso me beneficia?

M: Que pergunta! Que tipo de benefício você espera? Não é suficiente conhecer o que se é?

P: Qual a utilidade do autoconhecimento?

M: Ajuda-o a entender o que você não é e o libera de idéias, ações e desejos falsos.

P: Se apenas fosse a testemunha, que importaria o correto e o incorreto?

M: O que ajuda a conhecer a si mesmo é correto; o que o impede, é incorreto. Conhecer o ser real de si mesmo é uma bem-aventurança, esquecê-lo é dor.

P: É a consciência da testemunha o verdadeiro Ser?

M: É o reflexo do real na mente (buddhi). O real está além. A testemunha é a porta pela qual você vai além.

P: Qual o propósito da meditação?

M: Ver o falso como falso é meditação. Isto deve continuar todo o tempo.

P: Disseram-nos para que meditemos regularmente.

M: O exercício diário deliberado de discriminar entre o verdadeiro e o falso, e a renúncia do falso, é meditação. Há muitos tipos de meditação para começar, mas, finalmente, todos se fundem em um.

P: Diga-me, por favor, qual é o caminho mais curto para a auto-realização?

M: Nenhum caminho é curto ou longo, mas algumas pessoas são mais sérias que outras. Posso contar-lhe de mim mesmo. Eu era um homem simples, mas confiei no meu Guru. O que ele me disse para fazer, eu fiz. Disse-me que me concentrasse no "eu sou", e o fiz. Disse-me que estou além de tudo o que se pode perceber ou conceber-se, e eu acreditei nele. Dei-lhe meu coração e minha alma, toda minha atenção e todo o meu tempo disponível (tinha que trabalhar para manter minha família). Como resultado da fé e da dedicação sincera, realizei meu ser (swarupa) em três anos. Você pode escolher o caminho que lhe convenha; sua seriedade determinará o grau de progresso.

P: Nenhuma sugestão para mim?

M: Estabeleça-se firmemente na Consciência de "eu sou". Este é o princípio e também o fim de todo esforço.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://busca-espiritual.blogspot.com/2009_10_01_archive.html




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O Estado Livre de Desejos: A Mais Elevada Bênção - Nisargadatta

Tudo o Que Teve Princípio Deverá Ter Fim

Questionador: Encontrei-me com muitas pessoas realizadas, mas nunca com um homem liberado. Você já conheceu algum homem liberado, ou a liberação significa, entre outras coisas, abandonar também o corpo?

Maharaj: O que você quer dizer por realização e liberação?

Q: Por realização quero dizer uma experiência maravilhosa de paz, bondade e beleza, quando o mundo tem sentido, e há uma total unidade de substância e essência. Apesar de tal experiência não durar, não pode ser esquecida. Brilha na mente como recordação e desejo. Sei do que estou falando porque tenho tido tais experiências.

Por liberação quero dizer estar permanentemente nesse maravilhoso estado. O que pergunto é se a liberação é compatível com a sobrevivência do corpo.

M: Que está errado com o corpo?

Q: O corpo é muito débil e de breve duração. Cria necessidades e desejos. Limita-nos dolorosamente.

M: E daí? Deixe que as expressões físicas sejam limitadas. Mas a liberação é liberação do ser de suas idéias falsas e auto-impostas; não está contida em nenhuma experiência particular, por mais gloriosa que seja.

Q: Dura para sempre?

M: Toda experiência é limitada no tempo. Tudo o que teve princípio deverá ter fim.

Q: De modo que a liberação, em meu sentido da palavra, não existe?

M: Pelo contrário, sempre se é livre. Você é consciente e livre para ser consciente. Ninguém pode tirar isto de você. Você já se conheceu alguma vez estando inconsciente ou sem existência?

Q: Eu posso não lembrar, mas isto não prova que ocasionalmente não esteja inconsciente.

M: Por que não passar da experiência para o experimentador e compreender todo o alcance da única afirmação verdadeira que pode fazer: "Eu sou"?

Q: Como isto é feito?

M: Aqui não há "como". Só conserve na mente o sentimento "eu sou", fundindo-se nele até que sua mente e seu sentimento se tornem um. Por tentativas repetidas, você topará com o equilíbrio adequado de atenção e afeto, e sua mente estará firmemente estabelecida no pensamento-sentimento "eu sou". Não importa o que você pense, diga ou faça, este sentido de ser imutável e afetuoso permanecerá como o sempre presente fundamento da mente.

Q: E você o chama liberação?

M: Chamo-o o normal. Que há de mal em ser, conhecer e atuar sem esforço e com muita alegria? Por que considerá-lo inusual a ponto de esperar a destruição imediata do corpo? Que está errado com o corpo para que tenha que morrer? Corrija sua atitude em relação ao corpo e não o incomode. Não o mime, não o torture. Simplesmente deixe-o ir, muitas das vezes abaixo do limiar da atenção consciente.

Q: A recordação de minhas experiências maravilhosas me persegue. Quero-as de volta.

M: Porque as quer de volta, não pode tê-las. O estado de ansiedade por qualquer coisa bloqueia toda experiência profunda. Nada de valor pode ocorrer a uma mente que sabe exatamente o que quer, porque nada que a mente possa visualizar e querer será de muito valor.

Q: Então, o que vale a pena querer?

M: Queira o melhor. A mais alta felicidade, a maior liberdade. A ausência de desejos é a mais elevada bem-aventurança.

Q: Estar livre de desejos não é a liberdade que eu quero. Eu quero a liberdade de satisfazer meus desejos.

M: Você é livre para satisfazer seus desejos. De fato, não está fazendo outra coisa.

Q: Eu tento, mas existem obstáculos que me deixam frustrado.

M: Supere-os.

Q: Não posso, sou demasiado fraco.

M: O que o faz fraco? Que é esta fraqueza? Outros satisfazem seus desejos, por que você não?

Q: Talvez me falte energia.

M: O que aconteceu a sua energia? Para onde foi? Não a dispersou em muitos desejos e ocupações contraditórios? Você não tem uma provisão infinita de energia.

Q: Por que não?

M: Os seus objetivos são pequenos e baixos. Não pedem por mais. Apenas a energia de Deus é infinita porque Ele não quer nada para si mesmo. Seja como Ele e todos os seus desejos se realizarão. Quanto mais elevados forem seus objetivos e mais amplos seus desejos, mais energia terá para sua satisfação. Deseje o bem de todos e o universo trabalhará com você. Mas, se quiser seu próprio prazer, terá que ganhá-lo duramente. Antes de desejar, mereça.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://busca-espiritual.blogspot.com/2009_10_01_archive.html


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