Ramana Maharshi




A Nossa Verdadeira Identidade

Você quer ver Deus em tudo, mas não em si mesmo? Se tudo é Deus, você não está incluído nesse tudo?

Cada pessoa é o Ser e, na verdade, é infinita. Contudo, cada pessoa interpreta erradamente o seu corpo como sendo o Ser. Para se conhecer alguma coisa, é necessário a iluminação. Isso só pode ser da natureza da luz, no entanto, Ele ilumina tanto a luz física quanto a escuridão física. Ou seja, Ele se situa além da aparente - luz e trevas. Ele mesmo não é nenhuma delas, mas é dito como sendo a luz porque ilumina ambos. Ele é infinito e é Consciência. A consciência é o Ser de que todas as pessoas estão conscientes. Ninguém nunca está longe do Ser e, portanto, todos são de fato auto-realizados, apenas - e esse é o grande mistério - as pessoas não sabem disso e querem realizar o Ser. A realização consiste apenas em acabar com a falsa ideia de que a pessoa não é realizada. Não há nada de novo a ser adquirido. Ela já deve existir, ou não seria eterna, e apenas pelo o que é eterno vale a pena lutar.

Nós identificamos o "eu" com um corpo, nós consideramos o Ser como tendo um corpo, e como tendo limites, e disso vem todos os nossos problemas. Tudo o que temos que fazer é deixar de identificar o ser com o corpo, com formas e limites, e então conheceremos nós mesmo como sendo o Ser que sempre somos.

No momento que você começa a procurar pelo Ser e vai cada vez mais fundo, o Ser real está te esperando lá para te por para dentro. Então o que quer que seja feito é feito por algo mais e você não tem participação nisso. Nesse processo, todas as dúvidas e discussões são abandonadas automaticamente assim como alguém que dorme, por certo tempo, esquece todas as suas preocupações.

Ramana Maharshi

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A Natureza de Deus

Pergunta: Deus está separado do Ser?

Bhagavan: O Ser é Deus, o "eu sou" é Deus. Essas perguntas surgem porque você está se segurando ao ser-ego. Elas não surgirão se você segurar-se no verdadeiro Ser. Pois o Ser real não irá perguntar e nem pode perguntar o que é absurdo. Somente Deus, que parece ser não-existente, verdadeiramente existe, enquanto que o indivíduo, que parece estar existindo, é sempre não-existente. Os sábios dizem que o estado no qual a pessoa conhece sua própria não-existência (sunya) apenas é o glorioso conhecimento supremo.

Agora você pensa que você é um indivíduo, que existe o universo e que Deus está além do cosmos. Portanto, há a ideia do sentido de separação. Essa ideia deve ir. Pois Deus não está separado de você ou do cosmos. O Gita também diz: "O Ser sou Eu, o Deus do sono, Alojado no coração de cada criatura. Sou o alvorecer e o meio-dia de toda forma, também sou seu destino final". (Bhagavad Gita, X - 20).

Portanto, Deus não apenas está no coração de todos, ele é o suporte de todos, a fonte de todos, a morada e o fim de todos. Tudo procedeu Dele, tem sua estada dele, e finalmente se resolve Nele. Portanto, Ele não está separado.

No que diz respeito à sua localização, Deus não reside em nenhum outro lugar além do Coração. É devido à ilusão criada pelo ego, a ideia "eu sou o corpo", que o reino de Deus é concebido como estando em outra parte. Esteja certo que o Coração é o reino de Deus.

A Realização Existe Aqui e Agora

Uma vez que a falsa noção "Eu sou o corpo" ou "eu não sou realizado" foi retirada, a Suprema Consciência ou o Ser permanece sozinho, e em seu estado atual de conhecimento as pessoas chamam isso de "Realização". Mas a verdade é que a Realização é eterna e já existe, aqui e agora. A consciência é puro conhecimento. A mente surge dela e é composta de pensamentos. A essência da mente é apenas ciência ou consciência. No entanto, quando o ego a anuvia, ela funciona como raciocínio, pensar ou perceber. A mente universal, não sendo limitada pelo ego, não tem nada fora de si própria e, portanto, está apenas ciente. Isso é o que a Bíblia entende por "Eu sou o que sou".

Descubra o Eu

Perguntar "Quem sou eu?" significa realmente tentar descobrir a fonte do ego ou do pensamento-"eu". Não é para você pensar em outras coisas, como "eu não sou o corpo". Buscar a fonte do "eu" serve como um meio de se livrar de todos os outros pensamentos. Não deveríamos dar escopo para outros pensamentos, tais como os que você mencionou, mas devemos manter a atenção fixada em descobrir a fonte do pensamento-"eu" ao questionar, conforme cada pensamento que surge, para quem o pensamento surge. Se a resposta for "eu tenho o pensamento" continue a inquirição perguntando "quem é esse 'eu' e qual é a sua fonte?"

A escritura não tem a intenção de fazer você pensar "eu sou brahman". Aham ("eu") é conhecido por todo mundo. Brahman habita como aham em todos. Descubra o "eu". O eu já é Brahman. Você não precisa pensar isso. Simplesmente encontre o "eu".

O Ser real é o "eu" infinito. Esse "Eu" é a perfeição. É eterno. Não tem origem e nem fim. O outro "eu" nasce e também morre. Ele é impermanente. Veja a quem os pensamentos cambiantes pertencem. Será descoberto que eles surgem após o pensamento-"eu". Segure o pensamento-"eu" e eles irão retroceder. Trace de volta para a origem do pensamento-"eu". O Ser apenas irá sobrar.

Na pergunta "quem sou eu?", o "eu" refere-se ao ego. Ao tentar traçá-lo e encontrar a fonte dele, vemos que ele não tem existência separada, mas funde-se no "eu" real.

Investigação de Si

Qualquer forma que sua investigação vier a tomar, você deve finalmente chegar ao "eu" uno, o Ser. Todas essas distinções feitas entre "eu" e "você", mestre e discípulo, são apenas um sinal de ignorância. Apenas o "Eu" Supremo é. Pensar o contrário é enganar a si mesmo. Portanto, uma vez que seu objetivo é transcender aqui e agora estas superficialidades da existência física através da auto-investigação, onde está o mérito de fazer distinções de "você" e "eu", que dizem respeito apenas ao corpo? Quando você volta à mente para dentro, buscando a fonte do pensamento, onde está o "você" e o "eu"? Você deve procurar e deve ser o Ser que inclui tudo.

Manifestação do Supremo

A realidade deve ser sempre real. Ela não tem nomes ou formas, mas é ela que constitui a base das formas e nomes. Ela está dando base a todas as limitações, sendo ela própria ilimitada. Não é limitada de forma nenhuma. Ela dá base às irrealidades, sendo ela própria Real. Ela é aquilo que é. Ela é como é. Transcende o discurso e está além de descrição, tal como presença ou a ausência do Ser.

Você vê várias cenas passando na tela de um cinema: o fogo parece queimar edifícios até reduzi-los a cinzas; a água parece naufragar navios, mas a tela em que as imagens são projetadas permanece sem ser queimada e seca. Por quê? Porque as imagens são irreais e a tela é real. Do mesmo modo, reflexos passam diante de um espelho, mas esse não é afetado de maneira nenhuma pelo número ou pela qualidade dos reflexos.

É a ilusão que faz a pessoa tomar por inexistente e irreal, aquilo que está sempre presente e que penetra tudo, que é cheio de perfeição e auto-luminoso e que é, de fato, o Ser e o núcleo do próprio Ser da pessoa. Inversamente, é a ilusão que faz a pessoa considerar como real e auto-existente o que é inexistente e irreal, ou seja, a trilogia - o mundo, o ego e Deus. Para aqueles que não realizaram o Ser, bem como para aqueles que realizaram, o mundo é real. Mas, para os primeiros, a verdade é adaptada à forma do mundo, enquanto que para os últimos a Verdade brilha como a Perfeição sem forma e como o substrato do mundo. Esta é a única diferença entre eles.

O mundo é irreal como mundo, mas real como o Ser. Se você considerar o mundo como não sendo o Ser, ele não é real. Tudo, você chamando-o de ilusão (Maya) ou de Jogo Divino (Leela) ou Energia (Shakti) deve estar dentro do Ser e não aparte dele.

O Caminho Direto

Você quer ver Deus em tudo, mas não em si mesmo? Se tudo é Deus, você não está incluído nesse tudo?

Ver Deus é ser Deus. Não existe o "tudo" aparte de Deus para ele permear. Apenas Ele existe.

Deus é necessário para a prática espiritual (sadhana). Mas mesmo no caminho da devoção, o fim do Sadhana é atingido apenas após a completa rendição. O que isso significa exceto que o apagamento do ego resulta no Ser ficando como ele sempre foi? Em qualquer caminho que for escolhido, o "eu" é inescapável, o "eu" que realiza ações altruístas (nishkama karma), o "eu" que anseia por se unir com o Senhor do qual ele sente estar separado, o "eu" que sente que se afastou da sua natureza real, e assim por diante. A fonte desse "eu" precisa ser descoberta. Então todas as questões serão resolvidas.

O Propósito

Em certo sentido, falar da auto-realização é uma ilusão. É só porque as pessoas têm estado sob a ilusão de que o não-ser é o Ser e o irreal é o Real, que elas têm que ser tiradas disso por meio de outra ilusão chamada auto-realização; porque, na realidade, o Ser é sempre o Ser e não existe tal coisa como realizar o Ser. Quem é para realizar o que, e como, quando tudo o que existe é o Ser e nada mais que o Ser (Self)?

Você é o Ser mesmo agora, mas você confunde sua atual consciência ou o seu ego, com a Consciência Absoluta, ou, o Ser (Self). Essa falsa identificação é devida à ignorância, e a ignorância desaparece juntamente com o ego.

A Realização já existe, nenhuma tentativa precisa ser feita para tentar alcançá-la. Por que ela não é nada, novo ou externo a ser adquirido. É sempre e em toda parte - aqui e agora, também.

Qual é o maior benefício que pode ser atribuído a você? É a felicidade, e a felicidade é nascida da paz. A paz só pode reinar onde não haja perturbação, e a perturbação se deve aos pensamentos que surgem na mente. Quando a própria mente estiver ausente, haverá perfeita paz. A menos que a pessoa tenha aniquilado a mente, ela não pode ganhar a paz e ser feliz.

O Ser Transcende o Intelecto

É como um filme no cinema. Há a luz na tela e as sombras que passam rapidamente impressionam a audiência, a forma de uma atuação de alguma peça. Similarmente, será também assim se na mesma representação o público também for mostrado. Aquele que vê e aquilo que é visto estarão então apenas na tela. Aplique isso a você mesmo.

Meditação e Autoinquirição

Aquele que se engaja na investigação (autoinquirição) começa mantendo-se em si mesmo, e perguntando a si mesmo "Quem sou eu?", então o Ser (o Si mesmo real) torna-se claro para ele.

Introdução






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