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Ramsh Balsekar



Os psicólogos dizem que o condicionamento total que você recebeu até a idade de três ou quatro anos é seu condicionamento básico. Haverá mais condicionamentos, mas o condicionamento básico que cria a personalidade é a soma dos genes mais o condicionamento ambiental. Chamo isso de programação. Cada organismo corpo/mente é programado de maneira única. Não há dois organismos corpo/mente iguais.

Problemas divergentes são causados pelo intelecto, ao dividir o que por natureza é total e indivisível. O intelecto cria o problema ao dividir polaridade. Os opostos que existem não podem existir por si mesmos. Não pode haver o "para cima" sem o "para baixo", não pode haver a beleza sem a feiúra. Mas o que o intelecto quer é, isso ou aquilo. Ao comparar e querer selecionar, o intelecto cria um problema divergente, e problemas divergentes jamais podem ser solvidos. Um problema divergente pode apenas dissolver através da compreensão do próprio problema, da compreensão que ele realmente não é um problema, que ele é criado pelo intelecto querendo escolher entre os opostos que não são opostos de maneira nenhuma. São interrelacionados.

Ramsh Balsekar

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Vamos supor que haja duas pessoas: uma tenta superar seus limites e consegue, a outra não consegue. O que eu entendo é que, seja aquela que prospera, seja aquela que fracassa, cada uma o faz porque isso é o destino de cada organismo corpo/mente - que é a vontade de Deus.

A minha pergunta é: Qual das duas vontades prevalece? Aquela do indivíduo ou aquela de Deus? Pela sua própria experiência, até que ponto seu livre arbítrio prevaleceu?

Quando você quer algo e você trabalha para isso e isso acontece, acontece porque sua vontade coincidia com a vontade de Deus.

Que você aceite a vontade de Deus ou você não aceite a vontade de Deus, isso também é a vontade de Deus!


Uso a palavra "programar" em referencia às características inerentes ao organismo corpo/mente. A "programação" para mim significa os gens mais os condicionamentos ambientais. Fisicamente você não pôde escolher seus pais, portanto você não teve escolha quanto aos seus genes. Do mesmo modo, você não teve escolha quanto ao ambiente onde você nasceu. Portanto você não teve nenhuma escolha sobre os condicionamentos da infância que você recebeu naquele ambiente, que inclui o condicionamento em casa, na sociedade, escola e a igreja.

Quando qualquer coisa que aconteça é aceita, então não há nenhuma infelicidade, não há nenhuma miséria, nenhuma culpa, nenhum orgulho, nenhum ódio, nenhuma inveja. O que ha de errado nisso? E, como já disse, as ações acontece através desse organismo corpo/mente e, se esse individuo descobre que uma atitude feriu alguém, nasce a compaixão. Como a compaixão poderia surgir se não houvesse nenhum coração?

O ser humano tem o intelecto para saber que se fizer certas coisas, coisas terríveis acontecerão? Tem o intelecto para saber que se produzir armamentos nucleares ou armas químicas, então as pessoas as usarão e coisas terríveis acontecerão ao mundo? Tem o intelecto - portanto se tiver livre arbítrio, então por que o faz? Se possui o livre arbítrio, por que reduziu o mundo a essa condição?

O que o ser humano pensa que ele deva fazer é baseado na programação.

Como a ação acontece? A resposta é que a energia dentro deste organismo corpo/mente produz a ação de acordo com a programação.

As palavras do Buda são muito claras. Quem tem o controle sobre aquilo que acontece? Deus tem o controle! Isso, como vimos, é à base de cada religião. É, mas porque existem as guerras religiosas se isso está na base de cada religião? São os intérpretes que causam estas guerras! E como é que isso poderia acontecer se não fosse a vontade de Deus?


Por que Deus criou o mundo como é? Mas veja, um ser humano é somente um objeto criado que é parte da totalidade da manifestação que veio da Fonte. Portanto minha resposta é: "um objeto criado jamais poderia conhecer seu criador!" Deixe-me trazer uma metáfora. Vamos imaginar que você pinte um quadro, e nesse quadro você pinta uma figura. Então aquela figura quer saber primeiro, por que você, como um pintor pintou esse quadro particular, e segundo, por que você pintou aquela figura de modo tão feio! Veja, como pode um objeto criado jamais conhecer a vontade do próprio criador? Meu ponto de vista é que, embora seja assim, isso não o impede de fazer o que você pensa que você deva fazer! Aceitar que nada acontece a menos que seja a vontade de Deus, isso não impede a qualquer pessoa de fazer o que ela pensa que deva fazer. Poderia ser de outra forma?

A energia dentro deste organismo corpo/mente não permitirá a este organismo corpo/mente permanecer inativo nem mesmo por um momento. A energia continuará a produzir alguma ação, física ou mental, a cada instante, de acordo com a programação do organismo corpo/mente e o destino do organismo corpo/mente, que é a vontade de Deus. Mas isso não impede a você, que ainda pensa que é um indivíduo, de fazer o que você pensa que você deve fazer. Portanto, o que de fato eu digo é, "Aquilo que você pensa que você deve fazer em qualquer situação, em qualquer momento particular, é precisamente aquilo que Deus quer que você pense que você deve fazer!" Definitivamente, aceitar a vontade de Deus não vai impedi-lo de fazer o que você pensa que você deve fazer. Vê? Aliás, você não pode fazer nada mais que fazê-lo!

Aquilo que você gosta só pode ser porque é a vontade de Deus que você goste. Nada pode acontecer a menos que seja Sua vontade.

Cada vez mais os cientistas estão chegando à conclusão que os místicos sempre sustentaram - de que qualquer ação que aconteça, podemos sempre buscar o motivo na programação.

Você afirma que você sabe que deveria se conter, então por que você não se contém? Se um organismo corpo/mente não é programado para trair sua esposa, então qualquer coisa que digam os outros, ele não o fará. Se você for programado de maneira que você não levantará sua mão contra ninguém, você começará a matar as pessoas? Agora, se existisse uma lei permitindo que você bata em sua esposa sem que você corra nenhum risco, você começaria a surrar sua esposa? Não, a menos que o organismo corpo/mente seja programado para fazer isso, e se é programado para fazer isso, o fará de qualquer jeito. Então como disse, aceitar a vontade de Deus não vai impedi-lo de fazer qualquer coisa que você pense que você deva fazer. Faça-a! Faça exatamente aquilo que você acha que deva ser feito!

Se você quiser você pode jogar fora o conceito de destino e dizer que ninguém realmente pode saber alguma coisa sobre nada. Ótimo! Não há nenhuma necessidade de manter o conceito de destino. Afinal de contas, se aceita que o que acontece não está em seu controle, então quem estaria preocupado com o destino?


Toda religião te pede para se livrar do ego, mas "aquele" para quem as religiões falam para se livrar do ego - é o ego. É falado para o ego se livrar do ego! Mas o ego não vai cometer suicídio. Portanto a questão realmente é: Quem criou o ego? Que temos que nos livrar do ego - de acordo. Mas quem criou o ego? Você não criou o ego. De onde poderia o ego ter vindo? De onde ele poderia ter vindo exceto da Fonte! Se você chama essa Fonte de Consciência ou Energia Primordial, ou Deus ou Ciência (awareness) não faz diferença, com tanto que você entenda que é a Fonte.

Portanto o ego também veio da Fonte. É por isso que eu chamo o ego de Hipnose divina. A hipnose é - "eu" considero a mim mesmo um ser separado com um sentido de que posso fazer. Por que a Fonte criou o sentido de separação? Porque sem a separação as relações inter-humanas não aconteceriam. É apenas por causa dessa separação que nós temos amizade e inimizade, amor e ódio. Tudo isso acontece apenas porque cada indivíduo considera a si mesmo um ser separado. E sem as relações inter-humanas a vida como conhecemos não aconteceria.

Com o ego tendo sido destruído o sábio não fica orgulhoso; o sábio não se sente culpado, não odeia nem inveja ninguém. Portanto a ausência de culpa, orgulho, raiva, inveja, torna a vida pacífica. E é para esse fim que a busca toda tem sido - a paz no estado desperto que existe no estado de sono profundo. Meu conceito de toda a busca espiritual é ter aquela paz que prevalece durante o sono profundo, mesmo durante o estado desperto, durante nossa vida diária de trabalho. E esse tipo de paz prevalece em nossa vida diária se isto acontece: não há ego para sentir culpa, orgulho, raiva ou inveja.

Cada evento, cada pensamento, cada sentimento que diz respeito a qualquer "indivíduo" é um movimento na consciência, trazido pela Consciência (Brahman).

Cada coisa ou objeto no universo manifesto é um produto da Consciência, tanto durante a ilusão quando a manifestação parecia ser "real", como depois da realização da verdade. Não somos nada além da Consciência, e nunca fomos nenhuma outra coisa. Talvez seria mais fácil de "entender" a Verdade, se fosse concebido que nunca houve nenhum "nós" em momento algum, e tudo o que existe - e tudo o que sempre existiu - é a consciência (Brahman).

"Nós" pensamos sobre nós mesmos, consciente ou inconscientemente, como seres sencientes e, portanto como separados da manifestação: nós somos o sujeito e o resto da manifestação é o objeto. A realidade é que "nós" como fenômeno manifestado, somos na verdade nada além de uma parte do universo manifestado. O que nos faz pensar de nós mesmos como separados é o fato que o aparente universo torna-se conhecido a nós, como seres sencientes, através da senciência operando através das faculdades cognitivas. Essa "senciência", como um aspecto da própria Consciência, é uma manifestação direta da "mente total" (Brahman). E é por isso que não conseguimos nos livrar do profundo sentimento de que "eu" sou diferente da aparência manifesta. E assim de fato somos, mas a ilusão (Maya) consiste no fato de que em vez de considerarmo-nos coletivamente como a senciência que nos capacita reconhecer a manifestação (incluindo os seres sencientes) que apareceu na Consciência, consideramos a nós mesmos como entidades individuais separadas. E aí reside nosso sofrimento e prisão.

Tão logo haja a realização (o despertar para o fato) que nós não somos entidades separadas, mas sim a própria Consciência (com a senciência atuando como um meio para reconhecer a manifestação), a ilusão de separação - a causa de nosso sofrimento e aprisionamento - desaparece. Há então uma percepção clara de que não manifestos, somos Nômenos (oposto de fenômenos), e enquanto manifestos, somos aparência - não mais separados do que substância e forma (o ouro e os ornamentos de ouro). A manifestação surge do não manifesto e no devido tempo submerge de volta no não manifesto. Os seres humanos como indivíduos são realmente muito irrelevantes, exceto, é claro, como personagens ilusórios numa peça num sonho que é conhecida como vida.


A Consciência impessoal é o Shiva ou Atman; ou o Ser, como Ramana Maharshi costumava dizer. E o jiva ou o ser que é o "ser egoísta", é a consciência identificada. O que Ramana Maharshi costumava dizer é que a Consciência é o oceano todo. A Consciência universal ou o Ser é o oceano e o jiva ou a consciência identificada é uma bolha. Mas a bolha em si, enquanto permanece uma bolha, está aparentemente separada. Entretanto, o que é a bolha senão água? E quando a bolha estoura, para onde ela vai? Ela se torna o oceano.

Quando a compreensão acontece, não faz diferença que palavras são usadas ou que mestre as usou. Cada mestre usou palavras diferentes apenas por uma razão: sua audiência era diferente, as circunstâncias diferentes, as pessoas diferentes e os tempos diferentes.

Tudo o que existe é a consciência. Naquele estado original chame-o de realidade, chame-o de absoluto, chame-o de um nada, naquele estado não havia razão de estar ciente de nada. Assim a Consciência-em-repouso não estava ciente de si mesma. Ela tornou-se ciente de si mesma apenas quando esse repentino sentimento "Eu Sou" surgiu. O "Eu Sou" é o sentimento impessoal de estar ciente. E foi ai que a Consciência-em-repouso tornou-se Consciência-em-movimento, quando a energia potencial tornou-se energia de fato. Elas não são duas. Nada separado sai da energia potencial.

A Consciência-em-movimento não está separada da Consciência-em-repouso. A Consciência-em-repouso torna-se a Consciência-em-movimento, é esse momento que a ciência chama de Big Bang, o místico chama de o repentino surgimento da consciência (awareness).


Por trezentos anos a física Newtoniana prevaleceu, dizendo que você pode pegar um pedaço do universo, você pode observá-lo e pode entender aquela parte. Mas agora, desde que a teoria da mecânica quântica apareceu, uma partícula se move e o cientista pode saber apenas a sua localização e a sua velocidade, mas não ambos. Se ele sabe a velocidade, ele não pode saber o local onde a partícula estará. Ele não pode saber as duas coisas. Todo o universo e o seu funcionamento estão baseados em polaridade, opostos interconectados: homem-mulher, sujeito-objeto, acima-abaixo, bem-mal, doente-saudável, felicidade-tristeza. Em todo o universo não existe nada que é estático, nenhum planeta, nenhuma galáxia. Tudo está movendo e o movimento significa mudança.

A mente humana pensa em termos laterais, mas quase tudo no universo é circular. Qualquer coisa que muda tem que voltar novamente. O cientista diz hoje que falar num mundo no qual tudo é preciso, constante e mensurável é uma proposição impraticável. Em tal mundo um pequenino elétron dentro de todo átomo teria que trabalhar a cada instante sem parar. Ele queimaria a si próprio. Toda a energia pararia. Tudo voltaria dentro de um núcleo.

A vida é incerteza. Isso é o que o místico tem dito por milhares de anos, e agora o cientista concorda. Temos que viver com a insegurança. Temos que viver com a mudança. Segurança é um mito. Você não pode viver com segurança; e tentar fazer isso significa frustração. Compreender profundamente isso e aceitar que viver e que a vida está baseada em mudança, a pessoa gostando disso ou não, é um grande passo a frente.

O amor e o ódio são opostos interconectados na fenomenalidade. Na fenomenalidade, nada neste universo pode existir exceto em bases duais. Nada é único, nada é constante, nada. Tudo está mudando o tempo todo. A mudança e os opostos interconectados são a própria essência da existência.

A dificuldade surge quando a mente-dividida do sujeito-objeto não aceita que o amor e o ódio são opostos, que o bem e o mal estão interconectados. Um não pode existir sem o outro. A beleza não pode existir por si mesma. No momento que você fala da beleza, a feiúra já está lá. No momento que você fala da bondade, o mal já está lá. Como você pode falar da beleza na ausência da feiúra? O ser humano quer experimentar uma e não a outra. Isso não pode ser feito.

Nada pode ser constante na vida. A mudança é a própria base da vida. Também com a felicidade, a infelicidade está automaticamente conectada com ela, pois a mudança é inevitável. A miséria vem porque a mente-dividida compara, julga, e quer a felicidade à exclusão da infelicidade. A mente-dividida não aceita que a mudança está fadada a acontecer.

Quando surge a compreensão que, "isso também passará", seja miséria ou felicidade, essa compreensão trará uma tremenda mudança na perspectiva. Então quando há alguma compreensão, você não considera que aqueles que não a possuem são indignos, você não se considera ser "um favorito de Alá", pois você sabe que este estado de consciência passará, e outros estados de consciência virão. E quando os outros estados de consciência surgirem, você não se sentirá miserável, pois eles não eram totalmente inesperados. Isso não trará a miséria na profundidade que teria trazido anteriormente. Portanto a base dessa aceitação é que tudo está movendo, e, portanto a mudança é a própria base da vida e basicamente tudo é ilusão.

Qualquer coisa que eu diga, ou que qualquer pessoa diga, qualquer coisa que as escrituras dizem, é tudo um conceito. Precisamos de conceitos para comunicar até que a mente tenha atingido um estágio onde ela percebe que o que ela está buscando está além da compreensão dela.


A analogia do espelho para a Consciência, a qual reflete tudo, não retém nada, e em Si mesma não tem existência perceptível. Isto é, a Consciência é o pano de fundo do que parecemos ser como objetos (fenômenos), e ainda ela não é algo objetivo (um objeto). Assim como um reflexo no espelho é uma mera aparência sem nenhuma existência, e o espelho é o que tem existência, mas não é afetado de maneira nenhuma pelo que está refletido, assim também o aparato psicossomático (o organismo corpo-mente), sendo apenas uma aparência na Consciência, não tem existência independente. A Consciência na qual ele aparece não é afetada de forma nenhuma pela aparência dos objetos nela.

A Fonte que criou esta manifestação dentro de Si como um reflexo, está fazendo esta manifestação funcionar. Portanto, a manifestação e seu funcionamento, os quais chamamos de vida - toda ela é um reflexo na Fonte.

Primeiro há a Fonte. A Fonte cria um reflexo. O reflexo é o Eu Sou. Agora, Ramana Maharshi diz que a Fonte é o "Eu-Eu". Ele A nomeia de "Eu-Eu" meramente para distingui-la do Eu Sou. O "Eu-Eu" é a Energia latente (potencial). A Energia Potencial torna-se ativa na forma de manifestação como o Eu Sou, e torna-se ciente da manifestação. O Eu Sou é a Consciência (awareness) impessoal da manifestação e do seu funcionamento. Então, para o funcionamento da manifestação acontecer, a Fonte - ou Deus, ou o Eu Sou - cria estes organismos corpo-mente e, por conseguinte "eu's" individuais, ao identificar a Si mesma com esses organismos corpo-mente. Portanto, a Energia Universal, a Energia Potencial, torna-se ativa nesta manifestação. O "Eu-Eu" ao sair do estado latente, torna-se o Eu Sou, e o Eu Sou torna-se o eu sou Markus. Por que o Eu Sou torna-se Markus? Porque sem o Markus e os outros bilhões de nomes, a vida como conhecemos não aconteceria.

Então, a manifestação é real? Ela é real e irreal. A questão - a manifestação é real ou não? Está errada. A manifestação é tanto real quanto irreal: real na medida em que ela pode ser observada, irreal com base que ela não tem existência independente própria dela, sem a Consciência. Desse modo, a única coisa que tem existência independente dela própria é a Realidade, e essa Realidade é a Consciência. A Consciência é a única Realidade. Todo o resto é um reflexo dessa Realidade dentro de Si mesma.

O Eu Sou torna-se um conceito quando você fala sobre ele. Essa pura Ciência (awareness) da Existência é a Verdade, mas a partir do momento que eu falo a respeito dela, Ela se torna um conceito.

Introdução







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A Consciência é Tudo Que Existe - Ramsh Balsekar



O valor ou a utilidade de um conceito está apenas no quanto ele aponta para a Verdade


Ramesh: No que diz respeito ao "Eu Sou", não faz diferença se há a manifestação ou não. A manifestação veio do Eu Sou. O funcionamento da manifestação está no Eu Sou. É como o reflexo num espelho. Então o que você aceita, e o que quer que aconteça é meramente um reflexo no Eu Sou. Toda a manifestação é um reflexo na Fonte - de outro modo, haveria dois.

Peter: Portanto, não pode ser um reflexo da fonte, é um reflexo na Fonte?

Ramesh: Apenas pode ser na Fonte. Tudo isto é um reflexo na Fonte porque a Fonte é tudo que existe. Portanto, para qualquer coisa que acontece, você escolhe um conceito. Você não pode ficar sem conceitos, senão você teria que ficar em silêncio. E se a questão "Quem sou eu?" surge, esse é o primeiro pensamento de todos que precisa de uma resposta. A resposta é um conceito, um conceito sendo algo que aponta para a Verdade. O valor ou a utilidade de um conceito está apenas no quanto ele aponta para a Verdade. Você vê? E esse conceito - que é a totalidade da manifestação e o funcionamento desta manifestação é um reflexo na Fonte - é um apontador para a Verdade, a qual é a Fonte.

"Assim como a superfície de um espelho existe dentro e fora da imagem refletida no espelho, também o Ser supremo existe tanto dentro quanto fora do corpo físico." (Ashtavakra)

Nesse verso importante, Ashtavakra aponta que o que nós somos como sujeitos definidamente, não é uma coisa ou um objeto, que o pronome pessoal inevitavelmente sugere, mas mais um processo ou um pano de fundo, como a tela na qual um filme é visto. Na ausência de um pano de fundo não poderia haver nenhuma aparência de modo algum, embora no caso da manifestação fenomenal, o próprio "pano de fundo" - a Consciência - constitui a aparência e é responsável por ela. O ponto é que a menos que houver um total "afastamento" para a impessoalidade, a consideração "quem ou o que sou eu?" pode significar de fato uma transferência simples de mais - do objeto para o sujeito (da fenomenalidade para a não-fenomelalidade / do manifesto para o não-manifesto). Isso não teria força suficiente para quebrar o condicionamento trazido pela noção de identidade que conduz à suposta limitação. É apenas um afastamento direto para a impessoalidade que é mais provável de trazer a alarmante transformação conhecida como metanoesis, onde há uma convicção repentina e imediata de que a identificação com uma entidade individual separada, na verdade, nunca existiu realmente e era essencialmente nada além de uma ilusão.

Talvez seja por essa razão que Ashtavakra sugere a analogia do espelho para a Consciência, a qual reflete tudo, não retém nada, e em Si mesma não tem existência perceptível. Isto é, a Consciência é o pano de fundo do que parecemos ser como objetos (fenômenos), e ainda ela não é algo objetivo (um objeto). Assim como um reflexo no espelho é uma mera aparência sem nenhuma existência, e o espelho é o que tem existência, mas não é afetado de maneira nenhuma pelo que está refletido, assim também o aparato psicossomático (o organismo corpo-mente), sendo apenas uma aparência na Consciência, não tem existência independente. A Consciência na qual ele aparece não é afetada de forma nenhuma pela aparência dos objetos nela.

A Fonte que criou esta manifestação dentro de Si como um reflexo, está fazendo esta manifestação funcionar. Portanto, a manifestação e seu funcionamento, os quais chamamos de vida - toda ela é um reflexo na Fonte.

Primeiro há a Fonte. A Fonte cria um reflexo. O reflexo é o Eu Sou. Agora, Ramana Maharshi diz que a Fonte é o "Eu-Eu". Ele A nomeia de "Eu-Eu" meramente para distingui-la do Eu Sou. O "Eu-Eu" é a Energia latente (potencial). A Energia Potencial torna-se ativa na forma de manifestação como o Eu Sou, e torna-se ciente da manifestação. O Eu Sou é a Consciência (awareness) impessoal da manifestação e do seu funcionamento. Então, para o funcionamento da manifestação acontecer, a Fonte - ou Deus, ou o Eu Sou - cria estes organismos corpo-mente e, por conseguinte "eu's" individuais, ao identificar a Si mesma com esses organismos corpo-mente. Portanto, a Energia Universal, a Energia Potencial, torna-se ativa nesta manifestação. O "Eu-Eu" ao sair do estado latente, torna-se o Eu Sou, e o Eu Sou torna-se o eu sou Markus. Por que o Eu Sou torna-se Markus? Porque sem o Markus e os outros bilhões de nomes, a vida como conhecemos não aconteceria.

Então, a manifestação é real? Ela é real e irreal. A questão - a manifestação é real ou não? Está errada. A manifestação é tanto real quanto irreal: real na medida em que ela pode ser observada, irreal com base que ela não tem existência independente própria dela, sem a Consciência. Desse modo, a única coisa que tem existência independente dela própria é a Realidade, e essa Realidade é a Consciência. A Consciência é a única Realidade. Todo o resto é um reflexo dessa Realidade dentro de Si mesma.

Lance: Estou tendo problemas em entender o "Eu-Eu" e o Eu Sou.

Ramesh: Não existem problemas, pois eles não são dois. A Consciência-em-repouso é o Eu-Eu. Quando ela está em movimento ela é o Eu Sou. Portanto, o Eu-Eu é um conceito que realmente não te interessa. É apenas um conceito. O que realmente te interessa é o Eu Sou.

Lance: O Eu sou é a totalidade da manifestação.

Ramesh: Correto.

Lance: Então quando estamos no estado de sono o que ele vira?

Ramesh: Eu Sou, pois há um corpo ali e ele está na fenomenalidade.

Lance: Portanto, quando não existe a manifestação há somente o Eu-Eu.

Ramesh: Sim.

Lance: Num livro sobre Ramana Maharshi é dito que quando investigamos a fundo "Quem sou eu?", encontramos o nada.

Ramesh: Está vendo, Ramana Maharshi, portanto, não distingue realmente entre o "Eu-Eu" e o "Eu sou" porque é inútil. O Eu-Eu é meramente um conceito a respeito do qual ele falou, por que se preocupar. O que interessa a você é o Eu Sou e o eu sou Lance. E quando o Lance não está aí, o Eu Sou está.

Lance: O que é o estado de sonhos então?

Ramesh: O estado de sono com sonhos é a Consciência-em-ação identificada. O que é o sonho da vida, então? O sonho da vida é o sonho do Eu Sou. O Lance tem um sonho pessoal e o Eu Sou tem o sonho vivo. Desse modo, o que acontece na verdade é que você acorda do seu sonho pessoal para o sonho vivo.

Lance: No sono profundo existe o Eu-Eu?

Ramesh: O Eu Sou! O Eu-Eu realmente não te interessa.

Lance: Mas agora sinto necessidade de saber.

Ramesh: Então da onde vem o Eu Sou? Essa é uma questão conceitual. E para essa pergunta conceitual a resposta conceitual é que o Eu Sou é a Energia impessoal tornada ativa na forma de manifestação, e o Eu-Eu é a Energia Potencial (latente). O "eu" pessoal que o Lance pensa que é ele, é a Energia impessoal identificando-se como um ego que pensa que ele é o fazedor e que precisa saber. Quando verdadeiramente não há mais questões, então não há fazedor. Onde não há fazedor não há ego. E onde não há ego, aí o Eu Sou brilha a partir de um organismo corpo-mente sem identificação pessoal. Quando o organismo corpo-mente morre, o Eu Sou continua como Eu Sou. E quando a totalidade da manifestação chega a um fim, ai o Eu Sou é Eu-Eu, a Consciência-em-repouso. E tudo isso é um conceito.

Peter: Você disse que o "eu" no Eu Sou não é o Ego. Mas o que é ele? Eu não entendi quando você disse o Eu-Eu.

Ramesh: Você vê, a Consciência não ciente de Si mesma, a Energia Potencial, é um conceito. Não cometa engano! Eu-Eu, Eu Sou, eu sou Peter - a coisa toda é um conceito com o intuito de compreender a sua natureza real. Assim o Eu-Eu é a Energia Potencial antes da manifestação.

Peter: A manifestação de mim?

Ramesh: Não. A totalidade da manifestação.

Peter: Portanto, esse Eu é totalmente não individual?

Ramesh: Isso. Bem, na verdade, seja Eu-Eu, Eu Sou - eles não são dois. O Eu-Eu torna-se Eu Sou na manifestação. O Eu-Eu torna-se ciente de Si mesmo na forma de Eu sou. Mas é a mesma Consciência una.

Peter: É um nome para a Consciência? Um rótulo para a Consciência?

Ramesh: Isso mesmo. Um conceito. É por isso que falo sempre que o Eu Sou torna-se um conceito quando você fala sobre ele. Essa pura Ciência (awareness) da Existência é a Verdade, mas a partir do momento que eu falo a respeito dela, Ela se torna um conceito.

Peter: Qual é a relação entre a Consciência e a palavra "Eu"?

Ramesh: Esse é apenas um nome dado para a Consciência.

Peter: Sim, é o que você acabou de chamar de rótulo.

Ramesh: Sim. Você vê, até "Consciência" é um rótulo. "Deus" é um rótulo.

Peter: É confuso usar o "eu" que usamos para nossa individualidade nesse contexto.

Ramesh: Portanto, eu digo Eu-Eu, Eu Sou e eu sou Peter.

Peter: São três "eus" diferentes.



Ramesh: Ou é a mesma Consciência, mas a relevância é para um ponto diferente.

Peter: O último indica o ego.

Ramesh: O último indica o ego.

Peter: O do meio, Eu Sou ...

Ramesh: A Consciência impessoal.

Peter: E o Eu-Eu ...

Ramesh: É a Consciência impessoal antes ...

Peter: Da potencialização, da manifestação.

Ramesh: Sim, correto. De novo, são palavras para explicar a mesma coisa.

Pergunta: Num certo momento perguntaram para Nisargadatta Maharaj, "Existe algo que seja real nesse jogo?" Ele disse algo parecido com, "A ação do amor." Foi tudo o que ele disse, eu acho.

Ramesh: A ação do amor? De qualquer forma, o que quer que ele tenha dito, eu te digo o que ele estava querendo dizer. (risos)

A questão é, "O que é real?" O que é real é a conexão inseparável entre o real real e o falso real. Tem de haver uma conexão senão seriam dois. Então, o que os mantém juntos, unidos? É o amor. Chame isso de compaixão, de como você quiser, o melhor é não chamá-lo de nada. Isso é o que ele quis dizer.

Ramesh S. Balsekar





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A Natureza da Consciência II - Ramsh Balsekar


Precisamos de conceitos para comunicar até que a mente tenha atingido um estágio onde ela percebe que o que ela está buscando está além da compreensão dela

Pergunta: Não estou certo a respeito da diferença entre a dualidade e o dualismo.

Ramesh: A dualidade é a base na qual esta manifestação acontece. Portanto, se a dualidade é entendida como dualidade, como meros pólos opostos, em que um não pode existir sem o outro, isso é compreensão. Isso é iluminação. É a própria Consciência que descendeu do nível da dualidade para o nível do dualismo e identificou-se com cada objeto e criou essas relações sujeito-objeto de modo que esse Lila (jogo divino) possa continuar. Portanto, é a Consciência que se identificou consigo mesma e continua a identificação por um tempo. Então, algum mecanismo corpo-mente que esteve vivendo sua vida de uma maneira perfeitamente razoável, saudável e feliz, é atingido por um impulso de descobrir, "qual é o sentido da vida?", "estou realmente separado do próximo?" E assim a mente volta-se para dentro, e o buscador inicia sua busca miserável! O processo de desidentificação prossegue então até que ocorre a compreensão de que o dualismo é uma piada, uma piada cósmica. E essa realização eleva o dualismo de volta para o nível da dualidade. Quando aquele nível de dualidade também torna-se insuportável, então o "eu" e o "Tu" também desaparece.

P: Entendo o que você está dizendo. Estou acompanhando com bastante clareza. A Consciência é tudo o que há, e tudo é apenas a Consciência entretendo a si mesma. Mas quando tenho filhos que são paralíticos, é difícil chegar à paz com essa maneira impessoal de ver as coisas. As inquietações pessoais são o que realmente contam.

R: Sim, mas contam apenas para o individuo. Pois o "mim", reagindo aos eventos é tudo o que a vida é. É por isso que o ser humano quer segurança. Mas segurança é algo que não pode acontecer, e, portanto o ser humano é infeliz.

Por trezentos anos a física Newtoniana prevaleceu dizendo que você pode pegar um pedaço do universo, você pode observá-lo e pode entender aquela parte. Mas agora, desde que a teoria da mecânica quântica apareceu, uma partícula se move e o cientista pode saber apenas a sua localização e a sua velocidade, mas não ambos. Se ele sabe a velocidade, ele não pode saber o local onde a partícula estará. Ele não pode saber as duas coisas. Todo o universo e o seu funcionamento estão baseados em polaridade, opostos interconectados: homem-mulher, sujeito-objeto, acima-abaixo, bem-mal, doente-saudável, felicidade-tristeza. Em todo o universo não existe nada que é estático, nenhum planeta, nenhuma galáxia. Tudo está movendo e o movimento significa mudança.

A mente humana pensa em termos laterais, mas quase tudo no universo é circular. Qualquer coisa que muda tem que voltar novamente. O cientista diz hoje que falar num mundo no qual tudo é preciso, constante e mensurável é uma proposição impraticável. Em tal mundo um pequenino elétron dentro de todo átomo teria que trabalhar a cada instante sem parar. Ele queimaria a si próprio. Toda a energia pararia. Tudo voltaria dentro de um núcleo.

A vida é incerteza. Isso é o que o místico tem dito por milhares de anos, e agora o cientista concorda. Temos que viver com a insegurança. Temos que viver com a mudança. Segurança é um mito. Você não pode viver com segurança; e tentar fazer isso significa frustração. Compreender profundamente isso e aceitar que viver e que a vida está baseada em mudança, a pessoa gostando disso ou não, é um grande passo a frente.

P: Sinto-me confortável com o conceito de uma consciência-mãe amorosa, que deseja que eu cresça através dessa existência. Estou tendo dificuldades de adequar isso com o que você está ensinando.

R: O amor e o ódio são opostos interconectados na fenomenalidade. Na fenomenalidade, nada neste universo pode existir exceto em bases duais. Nada é único, nada é constante, nada. Tudo está mudando o tempo todo. A mudança e os opostos interconectados são a própria essência da existência.

A dificuldade surge quando a mente-dividida do sujeito-objeto não aceita que o amor e o ódio são opostos, que o bem e o mal estão interconectados. Um não pode existir sem o outro. A beleza não pode existir por si mesma. No momento que você fala da beleza, a feiúra já está lá. No momento que você fala da bondade, o mal já está lá. Como você pode falar da beleza na ausência da feiúra? O ser humano quer experimentar uma e não a outra. Isso não pode ser feito.

Nada pode ser constante na vida. A mudança é a própria base da vida. Também com a felicidade, a infelicidade está automaticamente conectada com ela, pois a mudança é inevitável. A miséria vem porque a mente-dividida compara, julga, e quer a felicidade à exclusão da infelicidade. A mente-dividida não aceita que a mudança está fadada a acontecer.

Quando surge a compreensão que, "isso também passará", seja miséria ou felicidade, essa compreensão trará uma tremenda mudança na perspectiva. Então quando há alguma compreensão, você não considera que aqueles que não a possuem são indignos, você não se considera ser "um favorito de Alá", pois você sabe que este estado de consciência passará, e outros estados de consciência virão. E quando os outros estados de consciência surgirem, você não se sentirá miserável, pois eles não eram totalmente inesperados. Isso não trará a miséria na profundidade que teria trazido anteriormente. Portanto a base dessa aceitação é que tudo está movendo, e, portanto a mudança é a própria base da vida e basicamente tudo é ilusão.

P: Parece-me que tudo pode ser considerado irreal, exceto o fato de que eu existo. Há uma diferença entre o "eu existo" e o possessivo "meu", como o "meu corpo", "minhas ideias", "minha casa", a existência em si é incontestável.

R: Portanto, o que quer que digamos, o que quer que pensamos é um conceito. A única coisa que não é um conceito, a única verdade, é o sentido de presença. Eu sou. Estou vivo. Essa é a única verdade. Mas essa verdade, mesmo essa verdade está no nível dos fenômenos.

P: E essa verdade também é um conceito.

R: Certo. Finalmente, até esse Eu Sou é um conceito. Mas na ausência de todos os outros conceitos, a única coisa que sabemos (tudo mais é um conceito) é o sentido e presença: Eu Sou, Eu existo. Se você imaginasse que você é o único ser senciente na terra, então o sentido de presença seria tudo o que existiria. E nesse caso não haveria nem mesmo o sentido de que "eu existo". O sentido seria, "há a existência". Existe a consciência porque existe algo o qual se estar ciente a respeito, e isso é o resto da manifestação.

P: E se não colocarmos isso em palavra então é verdade.

R: Sim. Isso é a Realidade.

P: "Eu Sou". Essa é a única coisa da qual podemos saber?

R: Correto. Eu sou, aqui e agora, no momento presente.

P: Como sabemos isso?

R: Você não sabe disso?

P: A maneira como sei disso é que eu sempre tenho um pensamento que Eu Sou. Eu sinto as coisas.

R: Não. Não!

P: O próprio sentido de presença?

R: Correto. O sentido de presença está sempre ai. Portanto, o que estou dizendo é, você não tem que ter o sentido de presença. O sentido de presença está ai.

P: Sem um objeto?

R: Sim. Originalmente esse sentido de presença é impessoal. Quando você acorda pela manhã o primeiro sentido de presença é impessoal. Então emerge em você, o Eu sou tal e tal. A identificação pessoal vem depois. Originalmente há meramente o sentido de presença impessoal.

P: Você realmente não é um "eu" ("mim") de maneira nenhuma. Não há o sentido de ser um "mim" ("eu")?

R: Correto.

P: O sentido de presença depende de que haja um corpo.

R: Sim. O sentido de presença surge apenas quando há um corpo. Se não houver um corpo, não há um instrumento no qual o sentido de presença possa aparecer.

P: É um instrumento muito frágil.

R: De fato! Mas o único ponto é que existem bilhões deles. Então se um vai, não importa. Neste corpo existem milhões de células morrendo e sendo criadas o tempo todo. Alguém jamais pensa naquela célula individual? "Pobre célula, não viveu quase nem meio segundo e morreu!"

P: Você está falando sobre aceitação e sobre sentir a presença do presente e ver tudo o que está a nossa frente como sendo o que a vida é?

R: Isso. Novamente, deixe-me repetir, qualquer coisa que eu diga, ou que qualquer pessoa diga, qualquer coisa que as escrituras dizem, é tudo um conceito. Precisamos de conceitos para comunicar até que a mente tenha atingido um estágio onde ela percebe que o que ela está buscando está além da compreensão dela.

Então a mente irá aquietar-se e então o silêncio irá reinar. Até lá, até mesmo esse sentido de presença do qual estamos falando a respeito está no nível dos fenômenos. Você vê, existe a presença do sentido de presença e a ausência do sentido de presença. No sono profundo ou sob efeito de sedativos há uma ausência do sentido de presença. Então existe a presença e a ausência desse sentido de presença. Essa presença e ausência dele é parte da fenomenalidade. Na não-fenomenalidade, a qual é o potencial, que é a consciência-em-repouso, há a ausência tanto da presença do sentido de presença quanto da ausência dele.

Deixe-me colocar de outra forma, (embora nenhuma ilustração jamais possa ser completa em si mesma, pois uma ilustração constrói um objeto e o assunto que estamos falando a respeito não está nem um pouco relacionado ao nível dos objetos): Você acorda de manhã. Você está desperto. Existe a presença da barba. Você a raspa. Agora existe a ausência da presença da barba. Mas num mino existe a potencial presença e ausência da barba. Há uma ausência da presença da barba e uma ausência da ausência da barba. Potencial, sim- portanto estou falando sobre Aquele estado; aquele estado original onde há uma ausência de ambos a presença do sentido de Presença quanto da ausência da ausência do sentido de Presença.

P: A Consciência-em-repouso não é simplesmente aquele conceito básico sobre o qual a Consciência-em-movimento ocorre?

R: Correto.

P: Mas a cessação dos pensamentos, a cessação da atividade, para que postular ou conceitualizar que ela vai para algum lugar? Por que não é simplesmente uma cessação de movimento?

R: Novamente, está absolutamente correto. Assim, mais nenhuma questão permanece. Concordo inteiramente. Mas, por essa questão persistir, você tem que receber um conceito adicional.

Isso é o que pode ser chamado de um problema divergente. Os cientistas lidam com problemas que são convergentes. Cem cientistas realizando o mesmo experimento devem obter o mesmo resultado. Quando o problema diz respeito a uma experiência interior da Consciência, torna-se um problema divergente. Em outras palavras, problemas divergentes são causados pelo intelecto, ao dividir o que por natureza é total e indivisível. O intelecto cria o problema ao dividir polaridade. Os opostos que existem não podem existir por si mesmos. Não pode haver o "para cima" sem o "para baixo", não pode haver a beleza sem a feiúra. Mas o que o intelecto quer é, isso ou aquilo. Ao comparar e querer selecionar, o intelecto cria um problema divergente, e problemas divergentes jamais podem ser solvidos. Um problema divergente pode apenas dissolver através da compreensão do próprio problema, da compreensão que ele realmente não é um problema, que ele é criado pelo intelecto querendo escolher entre os opostos que não são opostos de maneira nenhuma. São interrelacionados.

Por exemplo, na educação uma ideia é que o aluno deve ter disciplina. Portanto um pouco de disciplina é bom, mais disciplina é melhor e disciplina total é perfeita. A escola se torna uma prisão. O outro lado diz, "Não, o aluno deve ter liberdade de pensamento e de ação". Portanto, se um pouco de liberdade é uma boa coisa, mais liberdade deve ser melhor, e liberdade absoluta seria perfeita. Então a escola torna-se um caos. Assim, o isso ou aquilo, querer escolher entre dois opostos é criar um problema divergente. Os dois opostos estão interrelacionados, você não pode ter um ou o outro. Quando isso é entendido, e que o universo inteiro está baseado nessa polaridade onde você não pode escolher, então não é necessário solver o problema. O problema se dissolve.

Havia dois monges estudando num seminário e ambos apreciavam muito fumar. O problema deles era, "É permitido fumar quando estou orando?" Eles não conseguiam chegar a um acordo, então cada um disse que iria falar com seu superior. Ao se encontrarem novamente mais tarde, um monge perguntou para o outro se o abade tinha dito se era permitido fumar. Ele disse: "Não, fui severamente repreendido até mesmo por mencionar isso. O que seu abade disse?" O outro respondeu: "Ele ficou feliz comigo. Disse que tudo bem. O que você perguntou ao seu superior?" "Perguntei se eu podia fumar quando estava rezando". "Então é por isso. Eu perguntei, 'posso rezar quando estou fumando?'"

O mesmo problema depende de como o vemos. É tudo uma questão de perspectiva. A base da vida é a polaridade e a polaridade aparece devido à mudança. O universo e tudo nele estão num movimento continuo. E movimento não significa movimento lateral como o intelecto humano pensa. É um movimento circular. Portanto as mudanças devem acontecer. Se isso não é entendido, então cria problemas. E a maioria dos problemas da vida são problemas divergentes.

Ramesh S. Balsekar






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A Natureza da Consciência - Ramsh Balsekar


A Consciência como um obstáculo, é a Consciência identificada

Pergunta: Essa "fonte" da qual você fala, é separada em cada individuo ou é algo que encobre todo mundo?

Ramesh: É algo que encobre a todos. Está dentro de todos, de todo objeto.

P: Uma parte é separada e dada para mim e outra parte para outra pessoa?

R: Não, não. É tudo um. Essa é a totalidade da qual os místicos têm falado a respeito por centenas de anos, e que os cientistas têm falado desde que a mecânica quântica foi desenvolvida. Tudo o que há, é essa totalidade e unidade que não pode ser separada.

A Consciência impessoal é o Shiva ou Atman; ou o Ser, como Ramana Maharshi costumava dizer. E o jiva ou o ser que é o "ser egoísta", é a consciência identificada. O que Ramana Maharshi costumava dizer é que a Consciência é o oceano todo. A Consciência universal ou o Ser é o oceano e o jiva ou a consciência identificada é uma bolha. Mas a bolha em si, enquanto permanece uma bolha, está aparentemente separada. Entretanto, o que é a bolha senão água? E quando a bolha estoura, para onde ela vai? Ela se torna o oceano.

Quando a compreensão acontece, não faz diferença que palavras são usadas ou que mestre as usou. Cada mestre usou palavras diferentes apenas por uma razão: sua audiência era diferente, as circunstâncias diferentes, as pessoas diferentes e os tempos diferentes.

Nisargadatta me disse uma vez, fiquei surpreso quando ele disse: "Muitos de meus colegas não gostam do que eu digo, pois eu não estou repetindo como um papagaio as palavras que meu guru usava. O que sai de meus lábios é o que você precisa, não o que os meus colegas e eu precisamos." O que me surpreendeu foi quando ele adicionou, "Quando você falar, o que você dirá não será uma repetição do que eu estive dizendo". Assim, muitas pessoas que costumavam ir ao Nisargadatta não gostam do que eu digo. Eles falam, "Isso não é o que o Maharaj disse!" É claro que não é o que ele disse!

P: De acordo com o que você diz, a Consciência é todas as coisas.

R: Sim.

P: A Consciência criou o "eu"?

R: Sim. O "eu" não é nada além da Consciência. A forma é uma outra questão. Mas o "eu" ainda é a Consciência que criou a identificação dentro do corpo na forma de um "eu".

P: Se o sentido de "eu" vem da Consciência, a Consciência está ali, não é?

R: Ela está ali. Ela está aqui, e estará aqui mesmo quando este organismo corpo-mente não estiver aqui. Esse é o ponto. É por isso que a questão básica do Zen é, "Qual era a sua face original? Qual era a sua natureza real antes dos seus pais nascerem"? Sua natureza verdadeira não começou com o seu nascimento e não irá perecer com a morte do corpo.

P: No livro, "Antes da consciência", Nisargadatta Maharaj diz, "a Consciência é tudo o que há". Ele diz isso uma porção de vezes, mas às vezes ele fala da Consciência de uma maneira negativa, que devemos ir antes da Consciência. Ele fala dela de duas maneiras diferentes, como o Absoluto, e como algo que está nos impedindo. Ele sugere que temos que ir além da Consciência. Eu não entendo.

R: A Consciência, quando ele fala dela como um obstáculo, é a Consciência identificada. Antes da Consciência é a Consciência-em-repouso, que é a nossa natureza real. Então ele fala sobre o "noumenal" e o fenomenal. Na fenomenalidade, este sentido de presença é o estado desperto, e é quando sua mente está ativa. Então o sentido de presença que ele considera ser uma obstrução, é o sentido de presença no estado desperto, que implica a continua conceptualização da mente. A mente não conceitualiza, não pode conceitualizar no sono profundo, porque o sentido de presença está ausente. No "Antes da Consciência", o que ele fala sobre, é a ausência de ambos a presença do sentido de presença e da ausência do sentido de presença onde a questão da Consciência não surge de maneira alguma. Pois no estado de repouso, a Consciência nem mesmo está ciente de si mesma.

P: Por que ela não está ciente de si mesma?

R: Porque não existe "outro" (algo separado) para estar ciente.

P: Então, o antes da Consciência é a Consciência-em-repouso? E não significa a ausência dela. Não é apenas a pura Consciência?

R: É a pura Consciência. Esse estado não está negando a Consciência. Ele nega essa alternância da presença e da ausência da Consciência que ocorre apenas na fenomenalidade, portanto está negando a própria fenomenalidade.

P: Quem é que faz essa negação da fenomenalidade?

R: É a mente. Portanto, a Realidade última só pode existir quando ocorre a negação do próprio negador. Quando a própria mente é negada, não há nenhuma "pessoa" para negar. Não há nenhuma "pessoa" para pensar sobre um conceito a respeito da realidade. Esse é um estado onde nenhum conceito é possível.

P: Essa é a pura Consciência?

R: Sim, você pode chamá-la de pura Consciência, Consciência-em-repouso.

P: Anterior à consciência identificada?

R: Com tanto que você a entenda, não há necessidade de nenhuma palavra.

P: Ela também é impura?

R: A partir do momento que você nomeia ela de pura Consciência, ela fica impura.

P: Você diz que isto é "tudo um mundo de sonhos, uma ilusão", e que nós criamos toda manifestação. Ao mesmo tempo você diz que para que a mente e a Consciência possam aparecer, tem de haver um corpo. O que vem primeiro, o corpo ou a Consciência?

R: Tudo o que existe é a consciência. Naquele estado original chame-o de realidade, chame-o de absoluto, chame-o de um nada, naquele estado não havia razão de estar ciente de nada. Assim a Consciência-em-repouso não estava ciente de si mesma. Ela tornou-se ciente de si mesma apenas quando esse repentino sentimento "Eu Sou" surgiu. O "Eu Sou" é o sentimento impessoal de estar ciente. E foi ai que a Consciência-em-repouso tornou-se Consciência-em-movimento, quando a energia potencial tornou-se energia de fato. Elas não são duas. Nada separado sai da energia potencial.

A Consciência-em-movimento não está separada da Consciência-em-repouso. A Consciência-em-repouso torna-se a Consciência-em-movimento, é esse momento que a ciência chama de Big Bang, o místico chama de o repentino surgimento da consciência (awareness).

Ramesh S. Balsekar

Fonte: http://ricardo-yoga.blogspot.com/












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Ego – O Sentido de Separação - Ramsh Balsekar


Liberação é a compreensão total e final no coração de que não há um fazedor

O que é a escravidão? A escravidão é - "eu" sou uma pessoa separada, com livre arbítrio e responsável por minhas ações, e portanto, "eu" devo fazer boas coisas. O que é a escravidão? O ego é a escravidão. "Quem" fica feliz ou "quem" fica infeliz? O ego, o sentido de que se pode fazer. O corpo não pode ficar feliz ou triste. Portanto aquele que fica feliz ou infeliz é o ego. E o que é a liberação? Liberação é a liberdade do senso alternado de alegria e tristeza. Liberação é a compreensão total e final no coração de que não há um fazedor, nem um experimentador.

Toda religião te pede para se livrar do ego, mas "aquele" para quem as religiões falam para se livrar do ego - é o ego. É falado para o ego se livrar do ego! Mas o ego não vai cometer suicídio. Portanto a questão realmente é: Quem criou o ego? Que temos que nos livrar do ego - de acordo. Mas quem criou o ego? Você não criou o ego. De onde poderia o ego ter vindo? De onde ele poderia ter vindo exceto da Fonte! Se você chama essa Fonte de Consciência ou Energia Primordial, ou Deus ou Ciência (awareness) não faz diferença, com tanto que você entenda que é a Fonte.

Portanto o ego também veio da Fonte. É por isso que eu chamo o ego de Hipnose divina. A hipnose é - "eu" considero a mim mesmo um ser separado com um sentido de que posso fazer. Por que a Fonte criou o sentido de separação? Porque sem a separação as relações inter-humanas não aconteceriam. É apenas por causa dessa separação que nós temos amizade e inimizade, amor e ódio. Tudo isso acontece apenas porque cada indivíduo considera a si mesmo um ser separado. E sem as relações inter-humanas a vida como conhecemos não aconteceria.

Lembre, a Fonte tendo criado o ego, ou a Hipnose divina, está no processo de remover a hipnose em alguns poucos casos, não em todos os casos. Então o Ego - o sentido de separação, a hipnose divina, o sentido de fazedor individual - basicamente foi destruído no caso de poucos organismos corpo-mente chamados sábios.

O que permanece no caso do organismo corpo-mente chamado sábio? A programação permanece. É por isso que você pode ter dez sábios, e em cada caso o sentido de fazer pessoal foi demolido, mas eles têm vidas diferentes. Por quê? Porque a programação é diferente. Em outras palavras, embora o ego tenha sido destruído, a Fonte continua a usar aqueles organismos corpo-mente dos sábios da mesma maneira que a Fonte usa os outros organismos corpo-mente - introduzindo um estimulo e trazendo uma resposta. Portanto os organismos corpo-mente dos sábios continuam a funcionar exatamente como antes, mas sem o sentido de autoria das ações e sem o sentido de separação.

Se o organismo corpo-mente do sábio tem a programação de ter o pavio curto, então aquele sábio antes da liberação costumava ficar bravo muito rápido. E depois da iluminação o sábio continua a ficar bravo muito rápido. A programação é para a braveza surgir. A única diferença é que antes o sábio costumava dizer, "eu não deveria ficar bravo com meus amigos. Meus amigos não gostam disso. E me disseram para não ficar bravo, pois assim minha pressão arterial irá subir, portanto tenho que controlar minha braveza". Tudo isso era o envolvimento do ego, que costumava aparecer antes do ego ser destruído. O que acontece depois do ego ser destruído? Quando a braveza surge o sábio não diz, "eu estou bravo, eu não deveria ficar bravo." Ele não diz isso. A braveza que surgiu e o efeito dela é meramente testemunhado, incluindo as consequências. Por outro lado, se algo está acontecendo e a compaixão surge, anteriormente o ego diria, "eu sou um homem compassivo e as pessoas deveriam me respeitar". Mas depois que o ego é destruído, não há tal pensamento. O sábio não pensa assim. Tudo o que ele vê é a compaixão surgindo e tomando o seu curso.

A compaixão do sábio pode tomar qualquer forma. Ao encontrar alguém machucado ele pode fazer um curativo nessa pessoa, ou ao ver alguém passando necessidades ele pode dar-lhe algum dinheiro. Então a compaixão surge e toma seu próprio curso, mas o sábio nunca está envolvido naquela ação como sendo uma ação sua. Essa é a única diferença de acordo com o meu conceito. O sentido de autoria das ações foi apagado para sempre. Ele apenas testemunha as coisas acontecendo não como as "minhas" ações ou as ações de alguma pessoa. Se a ação de algum outro organismo corpo-mente machuca o sábio, o machucado estará lá. Mas sabendo que ninguém faz coisa alguma, A Consciência é tudo o que existe, o sábio não pode odiar ninguém. Quem ele irá odiar? Todas as ações são ações de Deus ou se você quiser colocar de uma maneira diferente, todas as ações são o funcionamento impessoal da Consciência. Então "quem" o sábio irá odiar? A Consciência? Deus?

Com o ego tendo sido destruído o sábio não fica orgulhoso; o sábio não se sente culpado, não odeia nem inveja ninguém. Portanto a ausência de culpa, orgulho, raiva, inveja, torna a vida pacífica. E é para esse fim que a busca toda tem sido - a paz no estado desperto que existe no estado de sono profundo. Meu conceito de toda a busca espiritual é ter aquela paz que prevalece durante o sono profundo, mesmo durante o estado desperto, durante nossa vida diária de trabalho. E esse tipo de paz prevalece em nossa vida diária se isto acontece: não há ego para sentir culpa, orgulho, raiva ou inveja.

Cada evento, cada pensamento, cada sentimento que diz respeito a qualquer "indivíduo" é um movimento na consciência, trazido pela Consciência (Brahman).

Cada coisa ou objeto no universo manifesto é um produto da Consciência, tanto durante a ilusão quando a manifestação parecia ser "real", como depois da realização da verdade. Não somos nada além da Consciência, e nunca fomos nenhuma outra coisa. Talvez seria mais fácil de "entender" a Verdade, se fosse concebido que nunca houve nenhum "nós" em momento algum, e tudo o que existe - e tudo o que sempre existiu - é a consciência (Brahman).

"Nós" pensamos sobre nós mesmos, consciente ou inconscientemente, como seres sencientes e, portanto como separados da manifestação: nós somos o sujeito e o resto da manifestação é o objeto. A realidade é que "nós" como fenômeno manifestado, somos na verdade nada além de uma parte do universo manifestado. O que nos faz pensar de nós mesmos como separados é o fato que o aparente universo torna-se conhecido a nós, como seres sencientes, através da senciência operando através das faculdades cognitivas. Essa "senciência", como um aspecto da própria Consciência, é uma manifestação direta da "mente total" (Brahman). E é por isso que não conseguimos nos livrar do profundo sentimento de que "eu" sou diferente da aparência manifesta. E assim de fato somos, mas a ilusão (Maya) consiste no fato de que em vez de considerarmo-nos coletivamente como a senciência que nos capacita reconhecer a manifestação (incluindo os seres sencientes) que apareceu na Consciência, consideramos a nós mesmos como entidades individuais separadas. E aí reside nosso sofrimento e prisão.

Tão logo haja a realização (o despertar para o fato) que nós não somos entidades separadas, mas sim a própria Consciência (com a senciência atuando como um meio para reconhecer a manifestação), a ilusão de separação - a causa de nosso sofrimento e aprisionamento - desaparece. Há então uma percepção clara de que não manifestos, somos Nômenos (oposto de fenômenos), e enquanto manifestos, somos aparência - não mais separados do que substância e forma (o ouro e os ornamentos de ouro). A manifestação surge do não manifesto e no devido tempo submerge de volta no não manifesto. Os seres humanos como indivíduos são realmente muito irrelevantes, exceto, é claro, como personagens ilusórios numa peça num sonho que é conhecida como vida.

Ramesh S. Balsekar

Fonte: http://ricardo-yoga.blogspot.com/










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A Verdade Além dos Conceitos – (2) - Ramsh Balsekar


Qualquer ação que aconteça, podemos sempre buscar o motivo na programação

WIE: É claro que você acredita que tudo que nós fazemos é porque é a vontade de Deus que nós o façamos. Mas me parece que isso só faria realmente sentido no caso de um indivíduo que chegou ao fim do caminho espiritual - que tenha acabado com o ego - porque as ações dessa pessoa não estão a serviço de si mesma e, portanto, não surgiria nenhuma deformação com a vontade de Deus. Mas até esse ponto, se um indivíduo age incorretamente em relação a outro, bem poderia ser somente uma reação compulsiva porque a pessoa sente-se egoísta. Se este é o caso, então o que você diz poderia realmente ser usado como uma justificativa para um comportamento desagradável ou agressivo. Você acaba de dizer, "é tudo a vontade de Deus. Não tem importância!"

Ramsh Balsekar: Sei, mas isso é a verdade. Sua pergunta real é, "por que Deus criou o mundo como é?" Mas veja, um ser humano é somente um objeto criado que é parte da totalidade da manifestação que veio da Fonte. Portanto minha resposta é: "um objeto criado jamais poderia conhecer seu criador!" Deixe-me trazer uma metáfora. Vamos imaginar que você pinte um quadro, e nesse quadro você pinta uma figura. Então aquela figura quer saber primeiro, por que você, como um pintor pintou esse quadro particular, e segundo, por que você pintou aquela figura de modo tão feio! Veja, como pode um objeto criado jamais conhecer a vontade do próprio criador? Meu ponto de vista é que, embora seja assim, isso não o impede de fazer o que você pensa que você deva fazer! Aceitar que nada acontece a menos que seja a vontade de Deus, isso não impede a qualquer pessoa de fazer o que ela pensa que deva fazer. Poderia ser de outra forma?

WIE: Mas baseado nesta linha de raciocínio, como disse antes, seria bastante fácil concluir que, "Ok, tudo é a vontade de Deus, não importa o que acontece!"

RB: Quer dizer, "Então por que deveria fazer qualquer coisa em vez de ficar na cama o dia inteiro?"

WIE: Sim, por que continuar a fazer qualquer esforço?

RB: A resposta é que a energia dentro deste organismo corpo/mente não permitirá a este organismo corpo/mente permanecer inativo nem mesmo por um momento. A energia continuará a produzir alguma ação, física ou mental, a cada instante, de acordo com a programação do organismo corpo/mente e o destino do organismo corpo/mente, que é a vontade de Deus. Mas isso não impede a você, que ainda pensa que é um indivíduo, de fazer o que você pensa que você deve fazer. Portanto, o que de fato eu digo é, "Aquilo que você pensa que você deve fazer em qualquer situação, em qualquer momento particular, é precisamente aquilo que Deus quer que você pense que você deve fazer!" Definitivamente, aceitar a vontade de Deus não vai impedi-lo de fazer o que você pensa que você deve fazer. Vê? Aliás, você não pode fazer nada mais que fazê-lo!

WIE: De acordo com sua maneira de ver o mundo, isso soa como se, tudo que quer que nós consideremos como sendo nossa escolha, nossa própria vontade e responsabilidade, foi transferida do indivíduo para Deus ou a Consciência. É isso o que você diz?

RB: Quando você pensa que é você quem faz, o que acontece? Há culpa, orgulho, ódio e inveja. Mas isso ainda não impede ao que acontece de continuar a acontecer. Mas quando você pensa que você não faz, então não há nenhuma culpa, nenhum orgulho, nenhum ódio, nenhuma inveja! A vida torna-se mais pacífica.

WIE: Leio algo num folheto escrito por vários de seus estudantes que parece relevante a esse propósito. Diz: "Aquilo que você gosta só pode ser porque é a vontade de Deus que você goste. Nada pode acontecer a menos que seja Sua vontade".

RB: Sim, é isso.

WIE: O folheto também diz: "Não se sinta culpado mesmo que um adultério aconteça. Você, a Fonte, é sempre pura".

RB: Isso é Ramana Maharshi quem disse.

WIE: Meu ponto é que a Fonte pode ser sempre pura, mas novamente, parece-me que isso poderia facilmente ser tomado como uma desculpa para agir sem consciência. Você poderia dizer, "não importa se cometo adultério, não importa se machuco meus amigos porque é simplesmente uma ação que acontece". Poderia facilmente ser tomada como uma permissão para agir segundo meu desejo, só porque me aconteceu de ter aquele desejo.

RB: Mas não é isso que acontece?

WIE: Acontece, certamente, mas...

RB: Quer dizer que aconteceria mais frequentemente?

WIE: Com facilidade, poderia acontecer mais. Eu poderia dizer, "Hei, não importa o que eu faça agora. Eu não devo conter-me se sinto um desejo". É claro o que eu quero dizer?

RB: A pergunta, normalmente formulada seria essa: "Se eu realmente não faço nada, o que me impede de pegar uma metralhadora e sair por aí e matar vinte pessoas?" É isto que você pergunta, não?

WIE: Bem, isso é um exemplo extremo.

RB: Sim, vamos pegar um exemplo extremo!

WIE: Mas eu acho que seria mais interessante considerar o exemplo do adultério, porque muita gente realmente não faria algo tão extremo como sair por aí de metralhadora para derrubar outras pessoas.

RB: Bem. É a mesma coisa quando conversamos sobre cometer adultério.
Leio que os psicólogos e biólogos, baseados em suas pesquisas, chegaram à conclusão que se você trair sua esposa, você não deve se culpar.

WIE: Bem, eu não creio que essa seja a opinião de toda a comunidade científica.

RB: O que eu digo é isso, cada vez mais os cientistas estão chegando à conclusão que os místicos sempre sustentaram - de que qualquer ação que aconteça, podemos sempre buscar o motivo na programação.

WIE: Dou-me conta de que, em alguns casos, isto pode ser verdade, mas deixe-me dizer, por exemplo, que eu tenha o desejo de cometer adultério. Posso dizer, "deve ser a vontade de Deus que eu faça isto e então seguirei adiante" ou, posso conter-me e não causar tanto sofrimento para meus amigos. Não seria melhor se eu me contivesse?

RB: Então o que é que o impede de se conter? Faça como quiser! O que o impede de conter-se? Contenha-se!

WIE: Meu ponto de vista é que é melhor fazer assim!

RB: Também é o meu.

WIE: Mas de acordo com sua visão, assim eu poderia facilmente dizer, "se eu sinto esse desejo, deve ser porque é a vontade de Deus", e então não me contenho.

RB: Você afirma que você sabe que deveria se conter, então por que você não se contém? Se um organismo corpo/mente não é programado para trair sua esposa, então qualquer coisa que digam os outros, ele não o fará. Se você for programado de maneira que você não levantará sua mão contra ninguém, você começará a matar as pessoas? Agora, se existisse uma lei permitindo que você bata em sua esposa sem que você corra nenhum risco, você começaria a surrar sua esposa? Não, a menos que o organismo corpo/mente seja programado para fazer isso, e se é programado para fazer isso, o fará de qualquer jeito. Então como disse, aceitar a vontade de Deus não vai impedi-lo de fazer qualquer coisa que você pense que você deva fazer. Faça-a! Faça exatamente aquilo que você acha que deva ser feito!

WIE: Todavia, no final, como podemos dizer que sabemos que é destino ou a vontade de Deus? Tudo que nós sabemos é que certos eventos se manifestam. Em seguida, podemos rever algo que fizemos e admitir, "Aconteceu, simplesmente" e se gostamos, podemos chamá-lo de destino. Mas não é mais exato dizer que nós realmente não sabemos se é destino ou não?

RB: Esse é o ponto. Nós não sabemos.

WIE: Mas dizer que não sabemos é diferente de dizer "sabemos que é a vontade de Deus". É diferente de dizer "sabemos que tudo é predestinado". Veja, me parece que você quer afirmar que você sabe que tudo é a vontade de Deus.

RB: Nós não sabemos, e isto é um fato; então se você quiser você pode jogar fora o conceito de destino e dizer que ninguém realmente pode saber alguma coisa sobre nada. Ótimo! Não há nenhuma necessidade de manter o conceito de destino. Afinal de contas, se aceita que o que acontece não está em seu controle, então quem estaria preocupado com o destino?

WIE: Já que muitos buscadores espirituais vêm a você para receber algum conselho sobre o caminho espiritual, eu gostaria de saber que valor, se é que tem algum valor, você dá ao caminho espiritual como instrumento em direção à Iluminação.

RB: Se a sadhana [a prática espiritual] é necessária, um organismo corpo/mente é programado para seguir uma sadhana.

WIE: Em outras palavras, se tem que acontecer, acontece?

RB: Isso mesmo. As pessoas às vezes me perguntam, "Se nada está em nossas mãos, deveríamos meditar ou não?" Minha resposta é muito simples. Se vocês gostam de meditar, meditem; se vocês não gostam de meditar, não se forcem a meditar.

WIE: A busca espiritual então é um obstáculo para Iluminação?

RB: Sim, buscar é o maior obstáculo por causa da presença do buscador. O buscador é o obstáculo - não a busca; a busca acontece por si mesma. A busca acontece porque o organismo corpo/mente é programado para buscar. Se a busca da iluminação acontece, então o organismo corpo/mente foi programado para buscar. O obstáculo é o buscador que diz, "quero a Iluminação".

WIE: Então porque tantos sábios falaram sobre a importância da busca? Ramana Maharshi disse que o buscador tem que querer a Iluminação com a mesma intensidade que um homem que esteja afogando-se quer o ar, com o mesmo grau de concentração e sinceridade.

RB: Certamente. Portanto isso quer dizer que tem que ter esse tipo de intensidade na busca. Mas ele também disse, "Se você quer fazer um esforço, você deve fazer um esforço; mas se o esforço não é destinado a acontecer, o esforço não será feito". É isso que Ramana Maharshi disse. Então veja, se alguém busca ou não busca não está em seu controle. Se a busca por Deus ou a busca pelo dinheiro acontece, não é nem seu mérito nem sua culpa.

WIE: Num de seus livros você afirmou que alguém realmente alcançou certa profundidade de entendimento quando pode dizer, "eu não estou nem aí se a Iluminação acontece ou não neste organismo corpo/mente".

RB: É verdade. Quando alcança esse estágio, então significa que o buscador não está mais aí. Está extremamente perto da Iluminação porque se não há ninguém que se interesse, então não há mais nenhum buscador.

WIE: Mas o resultado não pode ser uma indiferença extraordinariamente profunda que não é Iluminação?

RB: Isso poderia levar a Iluminação!

WIE: Tenho mais uma pergunta. Você frequentemente diz que nós deveríamos "somente aceitar o que é".

RB: Sim, se é possível para você fazer isto - e isto não está em seu controle!

Ramsh Balsekar

EPÍLOGO

Enquanto passei meio zonzo pelo porteiro e saia nas ruas tumultuadas de Bombaim, minha mente vacilava. Como poderia ser, perguntei-me enquanto abria caminho no meio da multidão, que um homem educado e inteligente como Ramesh Balsekar pudesse realmente acreditar que tudo seja predestinado, que antes de ter nascido, nosso destino já estava gravado numa espécie de granito etéreo? Poderia ele ser realmente sério em sua insistência de que nossa vida inteira, com seu fluxo aparentemente interminável de escolhas e decisões e oportunidades para sistematizar o próprio curso para melhor ou para pior, seja realmente, desde o primeiro respiro, um destino?

Enquanto atravessava a calçada em busca de um café, onde encontrar um refúgio do caos, os pontos difíceis de nosso breve diálogo iam passando em minha cabeça. Sim, "Assim seja" é a essência da maioria das religiões, pensei comigo, mas para os grandes místicos e sábios que fizeram tais declarações por toda a história, a rendição à vontade de Deus tem um significado muito maior do que simplesmente aceitar que não há nada que ninguém possa fazer para influenciar as circunstâncias da vida. Certamente aquilo que tradicionalmente se referia "a vontade Deus" é algo que alguém descobre quando o ego foi absolutamente abandonado, quando todas as motivações egoísticas foram todas queimadas, deixando-o completamente rendido para cumprir a vontade de Deus, qualquer que ela seja! Para um Jesus ou um Ramakrishna ou um Ramana Maharshi dizer que se rendeu à vontade de Deus é um fato. Mas dizer que isto é verdade para todo o mundo, naquele momento, pareceu-me refletir uma forma perigosa e particular de loucura que poderia ser usada para justificar as mais extremas formas de comportamento.

A declaração de Balsekar, "O que você acha que você deve fazer em qualquer situação... é precisamente aquilo que Deus quer que você ache que deva fazer", significa que para ele o Buda Iluminado não está fazendo em medida maior a vontade de Deus que o assassino em série que ataca sua próxima vítima. Tinha vindo à entrevista esperando que houvesse algum desacordo, mas de qualquer forma até os livros de Balsekar, nos quais todas essas ideias são claramente e repetidamente expressadas, não me tinham preparado para meu encontro com o homem. Como tinham lhe surgido essas ideias? Perguntei-me. E por quê? Meus pensamentos rodavam e rodavam, lembrando-me de sua arrepiante afirmação de que, mesmo quando machucamos alguém, não precisamos sentirmo-nos culpados, pois nós não somos responsáveis por nossas ações - que mesmo "Hitler foi meramente um instrumento através do qual os acontecimentos horríveis que tinham que acontecer aconteceram". Sua afirmação, desafiando todo bom senso, que nós não temos nenhum poder de controlar nosso comportamento ou até de influenciar o dos outros. E tudo isto no contexto de sua descrição fantástica de todos nós como "organismos corpo/mente, exercitando nossa 'programação'".

De repente, a visão bem-vinda de uma loja de chá apareceu através da névoa e enquanto conseguia um espaço para entrar, senti alívio ao achar aquele tipo de oásis tranquilo que tinha esperado encontrar. Foi aí, numa das muitas mesas vazias, enquanto o primeiro gole de chá ao leite de sabor adocicado passava pelos meus lábios, que num flash, minha ficha caiu. Eu não estava bebendo aquele chá! Eu não estava sentado naquela mesa! De fato, eu não era aquele que tinha entrado na loja de chá. E eu não era aquele que acabava de se atormentar durante uma hora numa conversa com um homem que naquele momento começava a parecer como um indivíduo são. Aliás, eu nunca tinha feito alguma coisa. Era como se um peso que eu tinha carregado durante minha vida inteira de repente fosse levantado no céu graças a um balão de ar quente, e levado para longe, para nunca mais voltar novamente. Todos aqueles anos eu tinha lutado para virar um ser humano melhor, mais generoso mais honesto - todo aquele esforço que eu tinha feito para renunciar a minhas inclinações de superioridade, egoísmo e agressividade - foram todos uma louca empreitada, todos estupidamente e sem necessidade, baseados na ideia importante de que eu tinha algum controle sobre meu destino e a mesquinha presunção de que aquilo que eu fazia pudesse importar aos "outros". Como podia ter me desviado tanto? Mas espera , não era sequer eu quem se tinha desviado! Como se as nuvens se abrissem, de relance agora eu vejo claramente que aquilo que eu tinha pensado como "a minha vida" tinha sido na verdade somente um processo mecânico. A pessoa que eu pensava ser, sempre tinha sido somente uma máquina. E o mundo em que eu pensei que eu tinha vivido não era, como tinha suposto, um mundo de complexidade humana, mas um mundo de simplicidade mecanicista, de ordem perfeita, um matemático desenrolar de programas em movimento, desde o começo do tempo. Como a perfeição clínica do plano científico de Deus começou a abrir-se perante mim, a emoção extática da liberdade absoluta - da preocupação, do cuidado, da obrigação, da culpa - começou a fluir pelas minhas veias como uma torrente sem margens. E com isso veio uma paz envolvente e retumbante, uma cessação absoluta de tensão, no reconhecimento de que nenhuma ambiguidade aparente ou incerteza eu poderia encontrar daí pra frente, não importa quais decisões aparentemente difíceis poderia encontrar, eu poderia sempre descansar na certeza de que qualquer escolha que eu fizer era exatamente a escolha que Deus queria que eu fizesse. A sensação misteriosa de um desconhecido que tinha me arrastado por tanto tempo tinha evaporado. Os outros no café viraram suas cabeças enquanto eu ria alto, uma risada longa, de barriga, e fiquei pensando comigo mesmo que jogo fantástico seria a vida se todo o mundo entendesse como ela realmente funciona, se todo o mundo pudesse pelo menos ter um vislumbre de como poderíamos ser livres se todos vivêssemos no Planeta Advaita."

Fonte: http://editoraadvaita.blogspot.com/2009/10/planeta-advaita.html








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