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Dayananda Saraswati



Autoconhecimento

Ser livre significa que eu devo ver a mim mesmo como seguro e estar satisfeito comigo mesmo, como eu sou. Somente assim eu serei livre. Se eu estou seguro e satisfeito comigo mesmo, todas as outras buscas tornam-se secundárias porque eu não necessito de segurança ou mudanças de situação para estar seguro e em paz comigo mesmo na situação na qual me encontro.

Dayananda Saraswati

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A Busca Humana

Qualquer coisa que dê a você qualquer tipo de segurança - emocional, econômica ou social - é chamado de artha em Sânscrito. Segurança pode estar na forma de dinheiro, relacionamentos, um lar, reconhecimento, influência, ou poder de qualquer tipo. Tais realizações apóiam o ego e, portanto fornecem alguma segurança para o ego. Embora pessoas procurem várias formas de segurança em tempos diferentes, a busca de segurança é comum a todos.

Buscar prazer é uma outra busca, chamada de kama em Sânscrito. Qualquer coisa que satisfaça seus sentidos, agrade sua mente, toque seu coração e evoque em você uma certa apreciação é kama. Qualquer forma de prazer que você obtenha do seu lar ou relacionamento, por exemplo, é kama. Música e viagens também são kama e não artha, porque buscando-as você está buscando prazer e não segurança. Você não vai ao Havaí ou às Bahamas para buscar segurança. De fato, você perde alguma segurança, em forma de dinheiro, quando você vai a esses lugares.

Há uma terceira busca, dharma, que não é nem artha, segurança, nem kama, prazer. Em Sânscrito, dharma é uma palavra com muitos significados. Aqui, ela se refere a um sentido de harmonia, à satisfação vinda de ações altruístas como compartilhar ou ajudar outras pessoas. A busca do dharma é diferente da de artha e kama, porque você normalmente não ajuda outros para obter segurança ou prazer. Quando você encontra alguém precisando de ajuda e você pode aliviar seu desconforto, você se sente feliz. A alegria que você experimenta não é igual ao prazer que você experimenta indo ao Havaí ou a um concerto.

Um médico, que não trabalha apenas por ganhos financeiros, experimenta este tipo de prazer. Fazer trabalho de caridade tem um resultado similar. Aqueles que estão aptos a descobrir alegria neste tipo de serviço fazem isso, eu diria, por causa de uma certa maturidade e entendimento da parte deles.

Indo atrás de certas seguranças, eu não estou buscando as seguranças por elas mesmas. Eu estou procurando libertar-me de ser inseguro. Da mesma forma, quando procuro prazeres isso revela que eu estou agitado e não satisfeito comigo mesmo. Eu tenho que fazer alguma coisa para achar prazer, o que significa que eu quero ser livre do sentimento de insatisfação comigo mesmo.

Se eu estou sempre procurando segurança e prazer, quando eu serei capaz de dizer "Eu consegui!"? Somente quando eu me vejo como uma pessoa segura e satisfeita. Quando eu não mais sinto a necessidade de procurar prazer e segurança, então eu posso dizer que sou livre.

Apenas o Conhecimento Liberta

O conhecimento funciona porque você já é liberado. O seu ser é Brahman - ele já é livre - e nunca esteve confinado. Neste mesmo momento ele não está confinado! Na hora do ensinamento, ele não está confinado, antes desse momento ele não estava confinado, tampouco pode ele ser confinado depois. Ele está sempre livre, é eternamente livre, portanto é tão somente uma questão de reconhecer que o ser é livre. A única sadhana é bodha, conhecimento, sabedoria.

Mas se o atma é "como se fosse" limitado, então ele não é realmente limitado. No seu ponto de vista, atma é limitado - na visão da sruti, upanisads, ele não é absolutamente limitado. Assim, temos dois pontos de vista: a visão da sruti é de que o "Eu" não é limitado de modo nenhum: não existe nenhum confinamento; mas porque existe uma sensação de limitação é que existe uma luta da parte do indivíduo para se livrar dessa limitação.

Como será que posso me tornar ilimitado? Você não pode se tornar ilimitado; você é ilimitado. É devido tão somente à ignorância que o atma parece ser limitado. Portanto, tudo o que você tem a fazer é eliminar essa ignorância. Uma vez que o problema é a ignorância, toda a sadhana é apenas remover essa ignorância e nada vai remover a ignorância a não ser o conhecimento. Nenhuma forma de ação irá remover a ignorância, pois a ação, não sendo oposto de ignorância, não pode eliminá-la.

Não se pode dizer que a escuridão não existe; até que chegue a luz, ela existe. Algo que não existente não pode criar problemas; somente algo que existe pode criar problemas. A ignorância do Ser é algo que existe, cria problemas, cria erro e cria uma sensação de limitação.

Somente conhecimento é capaz de remover a ignorância do Ser. O fato de que sou saccidananda, existência, conhecimento, plenitude, não vai eliminar a ignorância. Mas o conhecimento de que eu sou saccidananda elimina a ignorância. A noção de que eu sou um agente limitado da ação é negada pelo conhecimento de que eu sou ilimitado, que atma é sempre existente, sempre efulgente, sempre pleno, e é esse conhecimento, o qual se dá no intelecto, que remove a ignorância. Portanto, o conhecimento de minha ilimitação remove a noção de que eu sou um agente limitado.

A ignorância não tem princípio - até que o conhecimento ocorra, a ignorância é soberana. Até mesmo uma escuridão que tenha existido em uma caverna por milhares de anos desaparece instantaneamente ao entrar a luz! Da mesma forma, tudo o que é preciso para remover a ignorância que não tem início é conhecimento - agora.

Não existe nenhuma ação que possa remover ignorância, somente pramana vicara, o questionamento discriminativo com o auxílio das upanisads produz o conhecimento que pode eliminar a ignorância. Essa vicara assume a forma de sravana, ouvir o ensinamento; manana, refletir sobre o ensinamento; e nididhyasana, contemplação. Entretanto, vicara requer uma mente preparada, porque a mente é o local onde o conhecimento tem que ocorrer. Essa mente pode ser fortalecida a fim de receber esse conhecimento, motivo pelo qual você precisa de sadhanas secundárias, e é aí que entram karma yoga, meditação, oração, etc. Através da ação, você adquire uma mente preparada - através do conhecimento você ganha moksa. Sem conhecimento não há liberação.

O sol é autoevidente, não necessitando nenhuma lanterna ou qualquer outra luz para se revelar a seus olhos. De forma similar, o ser é autorevelante, não necessitando qualquer outra luz para se revelar. Uma nuvem pode encobrir a resplandecência do sol, mas não a existência do sol. Do mesmo modo, a ignorância pode encobrir o fato de que "eu sou ilimitado", mas não pode ocultar que "eu sou, eu existo". Da mesma forma como a nuvem, que parece encobrir o sol, só pode ser vista por intermédio da própria luz do sol que ela encobre, assim também o senso de limitação e aparente diversidade na criação é conhecido apenas pela consciência ilimitada que é o ser. Assim como o sol brilha em sua própria luz quando a nuvem se vai, o ser brilha como único, não-dual quando a ignorância é removida.

Autoconhecimento

Através das várias experiências que temos em nossa vida, alcançamos uma maturidade para reflexão. Este é o grande momento, quando não somente vivemos em busca de confortos e prazeres, mas também analisamos o que desejamos com nossas aquisições. O mero acúmulo de objetos não produz felicidade. A insatisfação da mente não se resolve, satisfazendo todos os desejos.

O homem possui a grandeza de ser consciente de si mesmo. Porém o eu, do qual está consciente, não lhe parece completo, nem adequado. Infelizmente ele se sente um ser inadequado e incompleto. E este ser incompleto, o único conhecido, cria o constante desejo de ser diferente, através de mudanças na vida.

Ao analisarmos, percebemos a teia das fantasias e dos erros de interpretação e julgamento na qual estamos emaranhados. O questionamento, a compreensão e a aceitação do mundo como ele é e o processo de eliminar os conflitos que nascem dessa ilusão são necessários para atingirmos uma mente clara e tranquila.

Esta mente clara e tranquila é o que sempre estivemos procurando.

A descoberta deste ser completo, adequado em si mesmo, que não depende de situações para ser feliz, é o objetivo de Vedanta.

Descobrir que existe uma busca fundamental por detrás dos vários desejos é a maturidade espiritual. É o despertar para o objetivo maior da vida, o conhecimento do ser pleno que sou eu.


O Sucesso

Existem gostos e aversões na mente de todas as pessoas. Eles são o desejo de adquirir e manter o que é prazeroso, e de se livrar ou evitar o que é desagradável. Se você quer ter êxito na satisfação de todos os seus gostos e aversões, você será um fracasso. Desejos não satisfeitos não vão deixar você ficar em paz consigo mesmo. Se você está em paz consigo mesmo, se você se sente confortável e "em casa" com você mesmo, aí, sim, você é uma pessoa bem sucedida. Você não precisa satisfazer todos os seus gostos e aversões. Basta aprender a administrá-los para poder desfrutar do mesmo bem-estar.

Na Gita, Krsna não ensina o que se deve fazer e o que não se deve fazer. Ele diz: "Com relação à ação, você tem uma escolha". Você tem ambições e algumas delas você pode escolher satisfazer através da ação. O problema não está em satisfazer os desejos ou em ter ambições. É natural que se espere os resultados. Se ambições não satisfeitas fazem com que você fique triste, frustrado e perca a objetividade, aí, sim, você está sendo um fracasso. Porém, se você pode aceitar o resultado, qualquer que ele seja, você é uma pessoa bem sucedida; você pode até se permitir ter mais algumas ambições.

A pessoa que pode gerenciar seus desejos é bem sucedida na vida, mas a pessoa que deixa os desejos gerenciarem sua vida apenas luta para ser bem sucedida.

Uma Introdução ao Estudo das Upanishads

Onde há unidade, não há luta. Todo o problema de lutar contra os outros é devido à minha visão do mundo como algo totalmente diferente daquilo que eu sou. As Upaniñads afirmam que isto é devido ao fato de você pensar que existem muitos atmas, mas há apenas um atma, não apenas com referência a indivíduos e seres vivos, mas até mesmo com referência ao mundo que você considera como sendo diferente de você. O mundo também não está separado de você. A assim chamada "separação" não é intrinsecamente verdadeira.

É um fato que atma é um, não-dual e que não há nada separado de você. Você é a totalidade que existe. Você pensa ser uma parte infinitesimal e não gosta nada disso. Mas as Upaniñads dizem "Você é pürëaù, o todo". O fato de que você é o todo é comunicável. Não fosse comunicável, não seria conhecimento. Tornar-se-ia algo subjetivo.

Vedanta comprometido com esta visão da unidade do Ser revela este fato através de palavras próprias para comunicar e, assim, remover a causa para a insatisfação consigo mesmo. Este é o problema básico. Nós desejamos satisfazer o Ser insatisfeito e pensamos: "Eu estou insatisfeito porque não tenho isso, não tenho aquilo". São desvarios. O "eu" é uma entidade que é completa e ilimitada. Na verdade não há outra entidade. Somente há uma entidade e ela é você. Como isto pode ser egoísta? Ser egoísta é reconhecer um outro ser. A beleza aqui é que o Ser é o todo e essa totalidade é aplicável a todos.

Na visão de Vedanta, não há uma segunda entidade. O Ser é o todo e portanto não há qualquer razão de insatisfação. Insatisfação é o anartha. Anartha significa aquilo que eu não quero. Ninguém quer insatisfação, mas ela é universal, nascida da ignorância. O autoconhecimento é oposto àquela ignorância e Vedanta existe para lhe dar este conhecimento.

O Significado da Adoração

Um arthartin é aquele que vai em busca de objetos e situações, considerando-os a fonte de segurança. Achando que seu esforço e planejamento talvez não sejam suficientes para obter o sucesso, ele reza para que o Senhor se torne seu sócio no negócio. Um arta, que é uma pessoa totalmente desamparada, volta-se para o culto para alívio de suas aflições. Um jnanin é aquele que considera que o individual não é diferente do total, e está em condições de manter este conhecimento, apesar de lidar com o mundo dual e dos problemas que enfrenta. Devido a essa unidade da visão, um sábio não pode afastar-se do Senhor. Qualquer coisa que faça é adoração do Senhor, porque ele sabe que todas as ações nada mais são do que o Senhor. Ele é, por definição, incapaz de se confundir a esse respeito.

Assim, jijnasu, arthartin e arta - todos são efetivamente abençoados porque estão em condições de eliminar o sentimento impulsivo de que "Deus é responsável por meus problemas" e voltam-se para Deus, como auxílio na obtenção do que buscam. Um jnanin, devido ao seu conhecimento, não faz mais do que adorar por meio de cada ação. Por isto Krsna diz: "Todos são nobres, mas o sábio (jnanin) eu o considero de fato como Eu mesmo" (Bhagavadgita VII:18). Esses quatro tipos que buscam o Senhor representam a variedade de razões para a adoração.


Olhar Para Si Próprio

O ser humano é realmente bom? Para sua satisfação o indivíduo pode ter passado por um bom homem. Todo criminoso, até que seja descoberto, faz a mesma coisa e, mesmo depois da prisão, tenta provar a existência de circunstâncias que o compeliram ao crime. E ainda continua a se esforçar para ser um bom homem. Mas, então, ele é bom?

Se um homem é bom, não deve haver esforço de sua parte para ser bom. Uma vida boa é espontânea para ele. É neste ponto que ele deve parar para olhar para si mesmo.

Bom, genial, homem respeitável, qualquer que seja seu caráter interior, ele precisa submetê-lo à consideração do mundo. Se ele atribui tão grande importância a uma vida boa e honesta, não é importante que tenha um olhar para dentro e descubra, para si mesmo, o que ele realmente é?

A questão "sou tão bom quanto gostaria de parecer" coloca-o num estado de espírito diferente. Ele agora começa uma vida verdadeira. Ele despertou! Desperto ele está para sua vida, até aqui superficial, mecânica e muitas vezes hipócrita.

Um detalhado olhar para dentro, sem arrependimento ou autopiedade, lhe oferece uma plataforma dentro de si mesmo, através da qual ele olha para o que ele mesmo tem sido. Com isto a velha plataforma de operação é abandonada e também tudo o que foi necessário para criar a vida superficial e falsa.

Ninguém é sincero com os outros se não for consigo mesmo. Porque tentar ser sincero, sem primeiro sê-lo interiormente? Olhe para si mesmo, por favor, é aí que começa a sinceridade, pois até para olhar para si mesmo precisa-se ser verdadeiro.

Podemos descobrir que não temos sido sinceros. O que importa? O reconhecimento de termos sido falsos é necessário para sermos verdadeiros. No reconhecimento de termos sido falsos está o começo da vida sincera.

Portanto, não há razão para lamentação nem para condenar a si próprio. O reconhecimento de que somos falsos é para sermos sinceros com nós mesmos. Neste instante nos tornamos sinceros. Isto não requer nenhum conhecimento de nossa parte nem requer algum apoio externo. Somente um deliberado "olhar para si mesmo" o mudará, o transformará. Isto é possível, não é mesmo?

Como Silenciar os Pensamentos?

O que você quer: silêncio ou conhecimento? Para que você quer o silêncio? Por quanto tempo você quer esse silêncio? Você acha que ele irá resolver seus problemas? Saiba que, no melhor dos casos, você os deixa para mais tarde. Quando você dorme, aliás, os pensamentos estão em silêncio, mas os problemas não são resolvidos.

O que resolve mesmo todas as questões, o sofrimento, as dúvidas, a tristeza e demais emoções destrutivas, é o autoconhecimento, é compreender quem você é. Nada mais. Todos os pensamentos estão centrados no ego. A mente é a voz do ego. A mente é o material do ego pensando, duvidando, desejando ou rejeitando.
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Como Silenciar os Pensamentos? - Dayananda Saraswati



É preciso compreender quem você é, e que tipo de mente precisa cultivar

Esta é a típica pergunta mal formulada. O que você quer: silêncio ou conhecimento? Para que você quer o silêncio? Por quanto tempo você quer esse silêncio? Você acha que ele irá resolver seus problemas? Saiba que, no melhor dos casos, você os deixa para mais tarde. Quando você dorme, aliás, os pensamentos estão em silêncio, mas os problemas não são resolvidos.

Para que você quer o silêncio, então? O que resolve mesmo todas as questões, o sofrimento, as dúvidas, a tristeza e demais emoções destrutivas, é o autoconhecimento, é compreender quem você é. Nada mais. Todos os pensamentos estão centrados no ego. A mente é a voz do ego. A mente é o material do ego pensando, duvidando, desejando ou rejeitando.

Não é necessário "silenciar a mente". É preciso sim, compreender quem você é, e que tipo de mente você precisa cultivar: uma mente objetiva e tranquila. Pare de repetir como um papagaio coisas que você ouviu por aí.

Ouça esta estória: um jovem vê um caçador na floresta, carregando vários pássaros para levar ao mercado. Avisou para um papagaio que o caçador estava por perto. E pediu para o papagaio avisar às demais aves. O papagaio começou a gritar: O caçador está por perto, tomem cuidado! Todos os pássaros, por sua vez, começaram a repetir o mesmo: O caçador está por perto, tomem cuidado! Conclusão, como os demais repetiam sem pensar no que estavam dizendo, acabaram por ser pegos pelo caçador.

Moral da estória: não fique repetindo por repetir palavras bonitas, mas vazias, que você ouve por aí. Pode ser contraproducente.

Dayananda Saraswati

Fonte: http://www.yoga.pro.br/artigos/811/13/como-silenciar-os-pensamentos

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Olhar Para Si Próprio - Dayananda Saraswati


Sou Tão Bom Quanto Gostaria de Parecer

Cada um a seu modo, esforça-se para provar a si mesmo e aos outros que é bom. Se alguém faz tal esforço é porque tem um valor para o que é considerado por ele bom comportamento. Na maneira de se comportar, em resposta aos diferentes acontecimentos e situações na vida, ele faz esforço para comportar-se como uma boa pessoa, pois sabe que a bondade recompensa.

Mas é ele realmente bom? Para sua satisfação ele pode ter passado por um bom homem. Todo criminoso, até que seja descoberto, faz a mesma coisa e, mesmo depois da prisão, tenta provar a existência de circunstâncias que o compeliram ao crime. E ainda continua a se esforçar para ser um bom homem. Mas, então, ele é bom?

Se um homem é bom, não deve haver esforço de sua parte para ser bom. Uma vida boa é espontânea para ele. É neste ponto que ele deve parar para olhar para si mesmo.

Bom, genial, homem respeitável, qualquer que seja seu caráter interior, ele precisa submetê-lo à consideração do mundo. Se ele atribui tão grande importância a uma vida boa e honesta, não é importante que tenha um olhar para dentro e descubra, para si mesmo, o que ele realmente é?

A questão "sou tão bom quanto gostaria de parecer" coloca-o num estado de espírito diferente. Ele agora começa uma vida verdadeira. Ele despertou! Desperto ele está para sua vida, até aqui superficial, mecânica e muitas vezes hipócrita.

Um detalhado olhar para dentro, sem arrependimento ou autopiedade, lhe oferece uma plataforma dentro de si mesmo, através da qual ele olha para o que ele mesmo tem sido. Com isto a velha plataforma de operação é abandonada e também tudo o que foi necessário para criar a vida superficial e falsa.

Ninguém é sincero com os outros se não for consigo mesmo. Porque tentar ser sincero, sem primeiro sê-lo interiormente? Olhe para si mesmo, por favor, é aí que começa a sinceridade, pois até para olhar para si mesmo precisa-se ser verdadeiro.

Nós já temos valor por uma vida sincera.

O problema de alguém ter de nos convencer do valor por uma vida sincera não existe. Sabemos seu valor, por isso exibimos uma fachada para passarmos por bons. Portanto, a única coisa que resta a ser feitos para ser bom é ter um profundo olhar para si mesmo.

Podemos descobrir que não temos sido sinceros. O que importa? O reconhecimento de termos sido falsos é necessário para sermos verdadeiros. No reconhecimento de termos sido falsos está o começo da vida sincera.

Portanto, não há razão para lamentação nem para condenar a si próprio. O reconhecimento de que somos falsos é para sermos sinceros com nós mesmos. Neste instante nos tornamos sinceros. Isto não requer nenhum conhecimento de nossa parte nem requer algum apoio externo. Somente um deliberado "olhar para si mesmo" o mudará, o transformará. Isto é possível, não é mesmo?

Buscando diversões em clubes, cinemas e na companhia de amigos, devemos reconhecer que estamos receosos de nós mesmos, amedrontados de estar com aquilo que hoje somos - vazios, inseguros, inadequados. Suponhamos que fôssemos plenos, seguros, adequados, nós estaríamos felizes com nós mesmos, não seríamos levados a buscar diversões. O que ganhamos em diversões não é nada mais que uma capa para encobrir a nós mesmos, para enganar-nos, pois encarar-nos significa convidar a tristeza e o desespero. Uma vez descoberta uma maneira para fugir de encararmos a nós mesmos, será difícil livrarmo-nos dela.

Os sistemas políticos atuais e as sociedades influenciadas por eles submetem-se a uma variedade de diversões em nome do "bem estar".

As ocasiões para se estar consigo mesmo tornaram-se raras, pois as diversões são muitas. Vivendo em tal sociedade, o homem a despeito de toda a sua educação torna-se a cada dia que passa mais "escapista" do que antes. O conceito de sucesso na vida agora significa a capacidade de dirigir diversões. Os ricos e também aqueles que desejam riqueza, ambos procuram diversões. Os primeiros, as dispendiosas, os outros, as baratas.

Uma vida com uma organização menos artificial pode colocar o homem em seu próprio colo mais vezes do que ele poderia desejar e, nesses momentos solitários, ele pode descobrir mais sobre si mesmo. Isto não é possível nesta era de velocidade e interferência mútua. Mesmo no caso de se fugir para o campo, existe a probabilidade de tornar-se "louco" sentindo falta das diversões habituais. Parece não existir forma de escapar do "escapismo".

Um apelo para voltar-se à religião pode soar como outro chamado para um diferente tipo de diversão. Peregrinações, sat-sangas, estudo de escrituras, preces, rituais, todos estes parecem oferecer as mais variadas fugas. É verdade que podem ser diversões.

O que é uma diversão? Diversão é alguma coisa que o ajuda a afastar-se de si mesmo, de sua não tão feliz pessoa. Uma religião organizada, centrada numa doutrina prometendo liberação depois da morte, só pode oferecer uma forma para escapar e, portanto, nela se pode, talvez, encontrar somente diversão. Mas, uma religião como é nossa tradição, cujo objetivo é o autoconhecimento, é algo diferente das religiões que são condenadas, talvez com razão por alguns psicólogos e dialéticos materialistas.

Se o autoconhecimento é o objetivo e a base da tradição hindu, os vários métodos de prática que ela oferece, incluindo o estudo das escrituras, volta o homem para dentro de si para reconhecer e alcançar o que essencialmente é. Na visão das escrituras hindus, o homem é essencialmente puro, divino, perfeito, pleno, seguro e seu objetivo é, portanto, fazê-lo reconhecer-se a si mesmo. Então, todas as práticas que elas oferecem não são diversões, pois levam o homem não para longe de si mas para si próprio.

No estudo das escrituras, buscamos o conhecimento do Eu. Nas preces, nós buscamos a nossa própria elevação. Nas peregrinações, buscamos a nossa própria companhia. Nos rituais, buscamos o nosso próprio exílio. Na meditação, buscamos a nossa própria dissolução e a descoberta de nós mesmos. Cada prática escolhida, com o conhecimento de seus objetivos e sua própria utilidade, nos colocará em condições de vivermos felizes com nós mesmos e depois na própria felicidade.

Isto não nos custa muito, como outras diversões, mas significa muito mais para nós. Seja o que for que fizermos, o retorno será infinitamente grande; o que somos agora não é uma barreira, mas exatamente o bastante para começarmos. A época, posição, lugar- nada isto bloqueia o caminho. Enquanto praticarmos, descobriremos uma duradoura emoção que nenhuma diversão pode oferecer.

Estamos nós propensos para tal empreendimento? Isto é possível, não é mesmo?

Dayananda Saraswati

Fonte: http://www.vidyamandir.org.br/textos.htm


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A Busca Humana - Dayananda Saraswati


Não é o Mundo Que Não Satisfaz Você, Você é Insatisfeito Com Você Mesmo

O que é fundamentalmente buscado por todos os seres humanos é chamado de purusartha em Sânscrito. Embora aparentemente cada pessoa busque coisas diferentes na vida, existem quatro objetivos universais que todo mundo busca - artha, kama, dharma e moksa.

Segurança e Prazer

Qualquer coisa que dê a você qualquer tipo de segurança - emocional, econômica ou social - é chamado de artha em Sânscrito. Segurança pode estar na forma de dinheiro, relacionamentos, um lar, reconhecimento, influência, ou poder de qualquer tipo. Tais realizações apóiam o ego e, portanto fornecem alguma segurança para o ego. Embora pessoas procurem várias formas de segurança em tempos diferentes, a busca de segurança é comum a todos.

Buscar prazer é uma outra busca, chamada de kama em Sânscrito. Qualquer coisa que satisfaça seus sentidos, agrade sua mente, toque seu coração e evoque em você uma certa apreciação é kama. Qualquer forma de prazer que você obtenha do seu lar ou relacionamento, por exemplo, é kama. Música e viagens também são kama e não artha, porque buscando-as você está buscando prazer e não segurança. Você não vai ao Havaí ou às Bahamas para buscar segurança. De fato, você perde alguma segurança, em forma de dinheiro, quando você vai a esses lugares.

O prazer tem muitas formas. Por exemplo, prazeres sensoriais pode ser qualquer coisa, de sorvete em diante. Prazeres intelectuais incluem jogar jogos, resolver quebra-cabeças ou enigmas, e pesquisar campos de estudo. Existe outra forma de prazer vinda de observar as estrelas, por exemplo, ou apreciar uma alvorada, uma flor, uma linda pintura ou uma criança brincando. Porque esse prazer não é nem sensorial nem intelectual, eu vou chamá-lo de prazer estético. Mesmo esses prazeres, que vão além dos sentidos e do intelecto, também são kama.

Dharma, Como um Objetivo Humano

Há uma terceira busca, dharma, que não é nem artha, segurança, nem kama, prazer. Em Sânscrito, dharma é uma palavra com muitos significados. Aqui, ela se refere a um sentido de harmonia, à satisfação vinda de ações altruístas como compartilhar ou ajudar outras pessoas. A busca do dharma é diferente da de artha e kama, porque você normalmente não ajuda outros para obter segurança ou prazer. Quando você encontra alguém precisando de ajuda e você pode aliviar seu desconforto, você se sente feliz. A alegria que você experimenta não é igual ao prazer que você experimenta indo ao Havaí ou a um concerto.

Um médico, que não trabalha apenas por ganhos financeiros, experimenta este tipo de prazer. Fazer trabalho de caridade tem um resultado similar. Aqueles que estão aptos a descobrir alegria neste tipo de serviço fazem isso, eu diria, por causa de uma certa maturidade e entendimento da parte deles.

A satisfação que advém do processo de amadurecimento de alguém é um tipo diferente de alegria. Não machucar alguém ou fazer a coisa certa no momento certo, por exemplo, dá a você alegria - se não agora, depois. Suponha que você tenha adiado fazer alguma coisa como lavar roupas, passar o aspirador ou escrever uma carta. No dia em que você decide fazer isso - e faz isso - você descobre que há uma alegria em finalmente fazer o que devia ser feito, uma alegria que não é prazer nem segurança. É apenas fazer o que é para ser feito, isto é dharma.

Dharma é a medida de sua maturidade, quanto mais maduro você é, mais dharmico você é. Para ser maduro, um entendimento do dharma e estar conforme com ele torna-se da maior importância na vida de alguém, como veremos através da Bhagavadgita. Então, sem ferir o dharma, fazendo o que é para ser feito você busca segurança e prazer.

Moksa: Liberdade

A quarta busca, moksa, é liberdade ou liberação. Moksa é reconhecida como uma busca por poucas pessoas em qualquer geração. Porque uma certa apreciação, maturidade ou "insight" sobre a vida e suas lutas é necessária para entender moksa, as pessoas não a buscam claramente, embora todo mundo esteja procurando liberdade, de fato.

Embora nós geralmente pensemos em liberdade num sentido muito positivo, a palavra moksa é definida num sentido negativo. Se há algo limitando você, do qual você quer tornar-se livre, esta liberdade é chamada moksa. Por exemplo, um homem na prisão perdeu sua liberdade de movimento e quer liberdade da prisão. Se alguém está usando muletas por causa de uma fratura na perna, esse alguém deseja libertar-se das muletas. Da mesma forma, uma criança que precisa de ajuda de uma parede ou da mão da mãe quer livrar-se da ajuda externa e esforça-se para ficar de pé por si só. Da mesma forma, moksa significa liberdade de algo que eu não quero. Que eu esteja ligado a formas particulares de segurança revela um certo fato sobre mim mesmo - que eu sou inseguro e que desejo ser livre de qualquer senso de insegurança. Indo atrás de certas seguranças, eu não estou buscando as seguranças por elas mesmas. Eu estou procurando libertar-me de ser inseguro. Da mesma forma, quando procuro prazeres isso revela que eu estou agitado e não satisfeito comigo mesmo. Eu tenho que fazer alguma coisa para achar prazer, o que significa que eu quero ser livre do sentimento de insatisfação comigo mesmo.

Se eu estou sempre procurando segurança e prazer, quando eu serei capaz de dizer "Eu consegui!"? Somente quando eu me vejo como uma pessoa segura e satisfeita. Quando eu não mais sinto a necessidade de procurar prazer e segurança, então eu posso dizer que sou livre.

Quando nós analisamos nossas várias buscas - segurança, prazer e até mesmo dharma - nós descobrimos que não buscamos realmente nenhuma delas. Por fim, todos estão buscando apenas moksa, porque liberação de qualquer tipo de sentimento de falta é o que procuramos em nossas buscas.

Moksa não quer dizer salvação. De fato, não há nenhuma palavra em Sânscrito para salvação, o que é correto já que salvação implica em certa condenação. Implica que alguém tenha que salvar você, o que não é o que significa moksa. A palavra moksa refere-se apenas a libertar-me da noção "Eu sou inseguro" e "Eu estou insatisfeito comigo mesmo".

Ser livre significa que eu devo ver a mim mesmo como seguro e estar satisfeito comigo mesmo, como eu sou. Somente assim eu serei livre. Se eu estou seguro e satisfeito comigo mesmo, todas as outras buscas tornam-se secundárias porque eu não necessito de segurança ou mudanças de situação para estar seguro e em paz comigo mesmo na situação na qual me encontro.

Discernindo o Problema

Se você necessita buscar segurança para estar seguro ou buscar prazer para estar bem consigo mesmo, suas buscas serão infinitas. Você vai gastar toda sua vida manipulando o mundo para satisfazer você mesmo. No processo, você vai descobrir que duas mãos e duas pernas, cinco sentidos e uma mente não são suficientes para lidar com todos os fatores envolvidos. Sua mãe tem que ser satisfeita e sua sogra nunca pode ser satisfeita! Há muitos eventos e situações, bem como forças da natureza, sobre as quais você parece não ter controle.

Com seus poderes limitados e seu conhecimento limitado, você descobre que você nunca conseguirá dimensionar as exigências para obter as seguranças e os prazeres que você busca. É por isso que a vida parece um problema. Apenas quando você atinge trinta e nove ou quarenta anos e entra na crise da meia-idade é que você começa a entender isto. Mesmo que você pense que seu casamento ou emprego é sua crise, você é a crise, de fato. Sua crise não tem nada a ver com seu casamento ou qualquer outra situação da sua vida.

Procurar segurança e prazer é muito natural. Para uma pessoa que não analisou suas buscas, segurança e prazer sempre parecem estar fora de si mesmo. "Eu sou inseguro", por exemplo, é uma conclusão totalmente aceita, uma conclusão que nunca é questionada ou posta em dúvida.

Como criança, minha segurança dependia da constante proteção, amor e cuidado dos meus pais. Agora que sou crescido, a segurança dos meus pais depende de mim, e a minha segurança está em algum outro lugar. Portanto, como criança eu era inseguro e agora eu também sou inseguro. Há uma troca constante no que eu tomo por segurança. Isto é comum a todo mundo. Ninguém, entretanto, merece ter esse problema. Segurança e prazer não são o problema. Que eu careça de algo não é o problema. O problema é que eu careço.

As coisas das quais eu careço sempre mudam: eu careço de uma formação, eu careço de dinheiro, eu careço de filhos, eu careço de netos. Qualquer coisa de que alguém careça é sempre peculiar à própria pessoa num determinado tempo e espaço, e a carência de algo difere de pessoa para pessoa e de cultura para cultura. Entretanto, o sentimento de "Eu careço" é comum a todo mundo.

Existem muitas coisas das quais eu careço. Eu posso carecer de um corpo saudável, um corpo mais alto, um corpo mais magro, um nariz arrebitado, cílios mais longos ou uma cor de pele diferente. E isto pode ser o começo de uma lista sem fim. Quanto mais você tenta obter o que carece, mais você descobre que carece. Isto é como ir a uma loja para comprar algumas coisas que você precisa e voltar para casa com mais alguns desejos a serem preenchidos na próxima semana. É por isso que nós dizemos que o desejo é como o fogo. Não importa o quanto você o alimenta, o fogo nunca diz, "Basta!". Da mesma forma, eu nunca consigo dizer "Basta!" a seguranças e prazeres porque sempre haverá algo mais do qual careço.

Mesmo se um prazer particular é preenchido, isso não será algo duradouro. Considere, por exemplo, a música. Você compra um disco de uma música de sucesso*. Por que essa música é um sucesso? Porque, como um homem violento, ela tira outras músicas da parada. A música de sucesso do mês passado foi ultrapassada e não é mais um sucesso. Ela agora apenas acumula poeira na sua estante. O que fez você feliz antes não mais proporciona a mesma alegria. Você se cansa de tudo. Mesmo se Deus estivesse perto de você todo o tempo, você iria eventualmente cansar-se Dele. Esta mudança constante é natural, porque você está basicamente insatisfeito consigo mesmo.

Se você fechar as portas, deixar o mundo para trás e sentar-se numa cadeira confortável, você descobrirá se está ou não satisfeito consigo mesmo. Você descobrirá que você não necessita de um mundo de objetos, um mundo de livros ou o que quer que seja para estar insatisfeito. Tudo que você necessita é você mesmo. Depois de alguns minutos sentado com você mesmo, você vai querer levantar e ligar o rádio ou fazer alguma coisa.

Para estar insatisfeito, portanto, não é necessário nada além de você mesmo. Não é o mundo que não satisfaz você, você é insatisfeito com você mesmo. E porque qualquer segurança ou prazer são limitados por natureza - em termos de tempo, espaço e conteúdo - aquele que está insatisfeito assim permanece a despeito de momentos de prazer ocasionais.

Quando então você irá preencher completamente seus desejos por segurança e prazer? Eu não estou dizendo que você não deva buscar segurança, este não é o ponto aqui. Nós estamos apenas tentando entender a natureza de nossas buscas. Dinheiro, por exemplo, definitivamente tem seu valor. Mas, se você pensar que há segurança no dinheiro ou em qualquer outra coisa, o processo de busca torna-se infinito.

O eu inseguro, aquele que quer estar seguro, na realidade não se torna seguro pela obtenção de algo que eu considero ser seguro. Por exemplo, enquanto eu necessito de muletas, o sentimento de insegurança permanecerá comigo. Sentir-me seguro porque eu tenho muletas não significa que eu tornei-me seguro. Eu tenho um falso sentimento de segurança por causa das muletas, mas o sentimento de insegurança centrado em mim permanece.

Suponha que eu seja inseguro e que o que eu penso que é seguro seja tão inseguro quanto eu. Quando uma pessoa insegura casa-se com outra pessoa insegura para tornar-se segura o resultado não é segurança. Tudo que resulta é um casamento entre duas pessoas inseguras. Insegurança somada à insegurança não resulta em segurança, apenas resulta em insegurança dupla. Portanto, um eu inseguro somado a qualquer coisa nesse mundo não vai tornar-me seguro.

A Visão de Vedanta

Nós agora já percebemos que o problema é: "Eu sou insatisfeito comigo mesmo", esse é um fato que não será alterado apenas porque eu consigo momentos de segurança ou prazer. Que eu seja inseguro ou infeliz não muda meramente porque eu adquiro certas seguranças. A única solução é que eu me veja como uma pessoa já segura e aceitável.

Se, com todas essas seguranças e prazeres, eu estou insatisfeito comigo mesmo, como eu poderei ver-me satisfeito? Nesse ponto é onde o ensinamento chamado de Vedanta vem e diz a você que o problema não está na carência de alguma coisa, mas em não saber que você não precisa de nada. O ensinamento transforma todas as buscas de uma pessoa em uma busca de conhecimento, ou moksa.

Na visão de Vedanta, não há razão para você estar insatisfeito com você mesmo, porque você é totalmente aceitável para você mesmo - não por atitude , mas por fato. Isto não é uma crença; é um fato, um fato que pode ser descoberto. Somente alguma coisa que possa ser descoberta é um fato e o fato a ser descoberto aqui é que você não necessita de nada. Você é totalmente livre. O único problema é que você pensa que falta algo e a solução é que você veja que nada falta. Portanto, o problema é você e a solução é também você. Esta é a visão de Vedanta.

Dayananda Saraswati

Fonte: http://www.vidyamandir.org.br/textos.htm


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Apenas o Conhecimento Liberta - Dayananda Saraswati


Até Que o Conhecimento Ocorra, a Ignorância é Soberana

O conhecimento é o único meio direto para moksa, liberação. Se é possível ganhar liberação simplesmente pelo conhecimento, então a liberação não pode ser um acontecimento, não pode ser algo produzido por karma, ação. O conhecimento é o único meio direto, comparado a qualquer outro, inclusive meditação, oração, rituais, yoga ou mesmo uma vida de dharma (integridade). Todas essas sadhanas, ou meios, contribuem para se adquirir conhecimento; mas apenas o conhecimento, comparado a qualquer um desses, funciona realmente.

O conhecimento funciona porque você já é liberado. O seu ser é Brahman - ele já é livre - e nunca esteve confinado. Neste mesmo momento ele não está confinado! Na hora do ensinamento, ele não está confinado, antes desse momento ele não estava confinado, tampouco pode ele ser confinado depois. Ele está sempre livre, é eternamente livre, portanto é tão somente uma questão de reconhecer que o ser é livre. A única sadhana é bodha, conhecimento, sabedoria.

A superimposição da limitação sobre o Atma devido à ignorância

Atma, o ser, é "como se fosse" limitado. A limitação aparente divide-se em três partes. A primeira é a de kala, o tempo. Eu sou sujeito a nascimento, envelhecimento e finalmente à morte. Ao longo do tempo, atma parece limitado. A segunda limitação é de desa, lugar. Eu estou aqui neste corpo somente; fora deste corpo eu não estou. O corpo e o atma parecem ser idênticos e, assim, parece que o atma ocupa apenas um determinado lugar, que não está em toda a parte. Assim, atma parece limitado em termos de localização. A terceira limitação é vastu, limitação a nível de objeto, que se expressa na forma de atributos: conhecimento, memória, saúde, força, altura e assim por diante. Kala, desa, vastu são responsáveis por todas as formas de limitação. Todos os seres humanos sabem ter essas três limitações: "Eu sou mortal, eu sou pequeno, eu tenho atributos limitados."

Ninguém aceita a limitação - podemos apenas ser passíveis de uma limitação, mas não aceitá-la. Eu não posso dizer que sou limitado e me sentir feliz com isso, existe uma luta constante para se ver livre da limitação. Se atma for realmente limitado vai permanecer sempre limitado, não importa quantas modificações você introduzir. Vamos imaginar que você assuma um corpo celestial - ainda assim ele será limitado. Se você mudar o lugar e for para o céu, ainda terá limitação. Portanto o status de limitado não será anulado ou modificado mesmo se você assumir um novo corpo ou um novo lugar. Não importa que mudanças você fizer nesse corpo - ele ainda assim permanecerá limitado! Se atma for realmente limitado em algum momento, em algum lugar - ele permanecerá sempre limitado.

Mas se o atma é "como se fosse" limitado, então ele não é realmente limitado. No seu ponto de vista, atma é limitado - na visão da sruti, upanisads, ele não é absolutamente limitado. Assim, temos dois pontos de vista: a visão da sruti é de que o "Eu" não é limitado de modo nenhum: não existe nenhum confinamento; mas porque existe uma sensação de limitação é que existe uma luta da parte do indivíduo para se livrar dessa limitação.

Como será que posso me tornar ilimitado? Você não pode se tornar ilimitado; você é ilimitado. É devido tão somente à ignorância que o atma parece ser limitado. Portanto, tudo o que você tem a fazer é eliminar essa ignorância. Uma vez que o problema é a ignorância, toda a sadhana é apenas remover essa ignorância e nada vai remover a ignorância a não ser o conhecimento. Nenhuma forma de ação irá remover a ignorância, pois a ação, não sendo oposto de ignorância, não pode eliminá-la.

A ação implica num agente. Se a autoria de uma ação é considerada como uma qualidade intrínseca de uma pessoa, existe ignorância do ser, atma, que não é agente de nenhuma ação. A autoria, que é confirmada pela ação e que está por trás de cada ação, é uma superimposição no atma; uma superimposição devida tão somente à ignorância. Essa superimposição não é deliberada, como ao superimpor uma nação inteira na sua bandeira, ou superimpor o Senhor em um ídolo. Aqui eu não estou deliberadamente superimpondo autoria em atma - eu erradamente acredito ser um agente. "Eu fiz isso, eu fiz aquilo, eu deveria ter feito isto". Isso tudo porque atma é considerado como limitado, considerado como aquele que faz a ação.

A ignorância se manifesta na forma de autoria da parte do atma. Ações feitas com um sentido de autoria da ação produzem resultados na forma de punya, mérito, e papa, demérito. Punya e papa por sua vez se tornam a causa de se assumir sucessivos nascimentos. Esse processo continua até que a ignorância tenha sido eliminada.

Somente o conhecimento se opõe à ignorância

Somente o conhecimento remove a ignorância. Como a luz se opõe à escuridão, da mesma forma conhecimento se opõe à ignorância. Da mesma forma que a escuridão não pode estar onde a luz está, a ignorância não pode estar no mesmo lugar onde o conhecimento se encontra. A escuridão não pode ser removida por nenhuma ação e, sim, somente pela luz. Similarmente, a ignorância não pode ser removida pela ação porque a ação não se opõe à ignorância; ação é um produto da ignorância. Qualquer medida de ação é apenas uma confirmação da ignorância, da noção de limitação e autoria da ação. Somente o conhecimento se opõe à ignorância.

Ignorância do Ser não é meramente ausência de conhecimento, muito embora essa ignorância desapareça ao despontar o conhecimento. Isso é muito importante. Não se pode dizer que a escuridão não existe; até que chegue a luz, ela existe. Algo que não existente não pode criar problemas; somente algo que existe pode criar problemas. A ignorância do Ser é algo que existe, cria problemas, cria erro e cria uma sensação de limitação.

Somente conhecimento é capaz de remover a ignorância do Ser. O fato de que sou saccidananda, existência, conhecimento, plenitude, não vai eliminar a ignorância. Mas o conhecimento de que eu sou saccidananda elimina a ignorância. A noção de que eu sou um agente limitado da ação é negada pelo conhecimento de que eu sou ilimitado, que atma é sempre existente, sempre efulgente, sempre pleno, e é esse conhecimento, o qual se dá no intelecto, que remove a ignorância. Portanto, o conhecimento de minha ilimitação remove a noção de que eu sou um agente limitado.

Tendo a ignorância ido embora, ela não pode regressar e substituir o conhecimento, da mesma forma que a escuridão não pode entrar onde a luz estiver, a ignorância não pode entrar onde o conhecimento estiver. A ignorância pode existir tão somente enquanto o conhecimento não tiver ocorrido. A ignorância não tem princípio - até que o conhecimento ocorra, a ignorância é soberana. Até mesmo uma escuridão que tenha existido em uma caverna por milhares de anos desaparece instantaneamente ao entrar a luz! Da mesma forma, tudo o que é preciso para remover a ignorância que não tem início é conhecimento - agora.

Não existe nenhuma ação que possa remover ignorância, somente pramana vicara, o questionamento discriminativo com o auxílio das upanisads produz o conhecimento que pode eliminar a ignorância. Essa vicara assume a forma de sravana, ouvir o ensinamento; manana, refletir sobre o ensinamento; e nididhyasana, contemplação. Entretanto, vicara requer uma mente preparada, porque a mente é o local onde o conhecimento tem que ocorrer. Essa mente pode ser fortalecida a fim de receber esse conhecimento, motivo pelo qual você precisa de sadhanas secundárias, e é aí que entram karma yoga, meditação, oração, etc. Através da ação, você adquire uma mente preparada - através do conhecimento você ganha moksa. Sem conhecimento não há liberação.

O problema do aprisionamento existe porque, devido à ignorância, atma é considerado como limitado. Quando essa ignorância é destruída pelo conhecimento, atma é revelado como auto-evidente, auto-efulgente, uno e não dual. Ao despontar do conhecimento, o atma que parecia limitado devido à ignorância, deixa de ser visto como limitado. Atma é a única coisa que existe - não existe mais nada. Se houvesse outros atmas, cada um seria novamente limitado por tempo, lugar e objetos - haveria um e mais muitos outros. Somente atma é satyam, verdadeiro, tudo o mais é reconhecido como mithya, tendo apenas realidade aparente. É assim que o mundo todo é. Tempo e lugar e todo o mundo dentro dos parâmetros brilham a partir de atma e têm sua existência em atma.

O sol é auto-evidente, não necessitando nenhuma lanterna ou qualquer outra luz para se revelar a seus olhos. De forma similar, o ser é auto-revelante, não necessitando qualquer outra luz para se revelar. Uma nuvem pode encobrir a resplandecência do sol, mas não a existência do sol. Do mesmo modo, a ignorância pode encobrir o fato de que "eu sou ilimitado", mas não pode ocultar que "eu sou, eu existo". Da mesma forma como a nuvem, que parece encobrir o sol, só pode ser vista por intermédio da própria luz do sol que ela encobre, assim também o senso de limitação e aparente diversidade na criação é conhecido apenas pela consciência ilimitada que é o ser. Assim como o sol brilha em sua própria luz quando a nuvem se vai, o ser brilha como único, não-dual quando a ignorância é removida.

É por isso que o conhecimento é adequado para promover a liberação. É somente devido à ignorância que atma parece ser limitado. Quando a ignorância vai embora, atma é visto brilhando como ilimitado em sua própria glória. Ele não necessita de nenhuma luz porque ele é a própria luz graças à qual você conhece a tudo. Atma é auto-revelante; somente a noção de que eu sou aprisionado é negada. O ser é libertado da noção de limitação, e é desta forma que moksa é atingido através do conhecimento. O conhecimento é o único meio direto para se conquistar a liberdade porque o aprisionamento é devido à ignorância.

Dayananda Saraswati

Fonte: http://www.vidyamandir.org.br/textos.htm

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O Sucesso - Dayananda Saraswati


O Que é o Sucesso?

Todas as pessoas devem ter ambições - por si só, a ambição não é, de maneira alguma, um problema. Mas, quando a ambição transgride as normas e começa a comprometer os valores, ela se torna ganância. Se a pessoa não faz concessões com relação aos valores, não é necessário haver limites para a sua ambição. Na Gita, o Senhor Krsna diz que ele é ambição que não se opõe à virtude, ao dever (dharma), isto é, ambição em consonância com o dharma é uma de suas formas gloriosas.

O sucesso é entendido em termos do que alguém conseguiu adquirir. Se uma pessoa tem alguns poucos desejos que se destacam, e consegue satisfazê-los, então, na sua visão, ela é uma pessoa bem sucedida. Do ponto de vista de outrem, o sucesso pode não ser sucesso, de forma alguma. Você só é bem sucedido quando você mesmo diz, "eu sou um sucesso", e para isto você tem que satisfazer suas ambições.

Nós queremos que as pessoas mudem, que as culturas mudem, que os políticos mudem, etc. Todas essas ambições nunca poderão ser satisfeitas, porque ninguém pode mudar alguém a menos que este alguém queira mudar. Na infância acalentamos muitos desejos. Com o passar do tempo, desistimos de muitos deles ou nos contentamos com menos. Os desejos não satisfeitos constituem o âmago da pessoa - uma pessoa chorosa, preocupada e frustrada. Portanto, ninguém poderia dizer que esta é uma pessoa bem sucedida.

Existem gostos e aversões na mente de todas as pessoas. Eles são o desejo de adquirir e manter o que é prazeroso, e de se livrar ou evitar o que é desagradável. Se você quer ter êxito na satisfação de todos os seus gostos e aversões, você será um fracasso. Desejos não satisfeitos não vão deixar você ficar em paz consigo mesmo. Se você está em paz consigo mesmo, se você se sente confortável e "em casa" com você mesmo, aí, sim, você é uma pessoa bem sucedida. Você não precisa satisfazer todos os seus gostos e aversões. Basta aprender a administrá-los para poder desfrutar do mesmo bem-estar.

Na Gita, Krsna não ensina o que se deve fazer e o que não se deve fazer. Ele diz: "Com relação à ação, você tem uma escolha". Você tem ambições e algumas delas você pode escolher satisfazer através da ação. O problema não está em satisfazer os desejos ou em ter ambições. É natural que se espere os resultados. Se ambições não satisfeitas fazem com que você fique triste, frustrado e perca a objetividade, aí, sim, você está sendo um fracasso. Porém, se você pode aceitar o resultado, qualquer que ele seja, você é uma pessoa bem sucedida; você pode até se permitir ter mais algumas ambições.

Quanto aos resultados de nossas ações, existem quatro possibilidades. O resultado pode ser maior, igual, menor ou o contrário do que era esperado. A pessoa que pode lidar bem com as quatro possibilidades é um sucesso. São as Leis do Senhor que dão o resultado. E este tem que ser aceito como uma graça (prasada), com alegria - e aí, então, gostos e aversões não vão criar nenhum problema.

A pessoa que pode gerenciar seus desejos é bem sucedida na vida, mas a pessoa que deixa os desejos gerenciarem sua vida apenas luta para ser bem sucedida.

Dayananda Saraswati

Fonte: http://www.vidyamandir.org.br/textos.htm

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O Significado da Adoração - Dayananda Saraswati


É o Senhor que a sua mente superimpôs num objeto, que você venera, e essa adoração beneficia apenas você mesmo

"Quatro tipos de pessoas me buscam, Arjuna: o aflito, o que aspira ao conhecimento, o que procura riqueza material e o sábio." (Bhagavadgita VII:16).

Um arthartin é aquele que vai em busca de objetos e situações, considerando-os a fonte de segurança. Achando que seu esforço e planejamento talvez não sejam suficientes para obter o sucesso, ele reza para que o Senhor se torne seu sócio no negócio. Um arta, que é uma pessoa totalmente desamparada, volta-se para o culto para alívio de suas aflições. Um jnanin é aquele que considera que o individual não é diferente do total, e está em condições de manter este conhecimento, apesar de lidar com o mundo dual e dos problemas que enfrenta. Devido a essa unidade da visão, um sábio não pode afastar-se do Senhor. Qualquer coisa que faça é adoração do Senhor, porque ele sabe que todas as ações nada mais são do que o Senhor. Ele é, por definição, incapaz de se confundir a esse respeito.

Um "jnanin-em formação" é um jijnasu, alguém que quer apenas conhecimento. Tendo visto a inerente limitação do que a vida é capaz de dar - uma mistura de poucos prazeres e alguns estímulos positivos - ele quer em vez disso libertar-se de todas as formas de limitação, e avalia que isso não é possível pelo emprego de qualquer quantidade ou qualidade de ação. Esta pessoa não está apta a ver a unidade, e ao mesmo tempo não está em condições de se sentir feliz na dualidade: como última esperança, procura um professor. No processo do estudo, devido à frustração ou à incapacidade para entender as escrituras ou manter o ensinamento, e percebendo seu desamparo, compreende que seu único refúgio é o Senhor. Com isso, sua adoração passa a ter maior força.

Assim, jijnasu, arthartin e arta - todos são efetivamente abençoados porque estão em condições de eliminar o sentimento impulsivo de que "Deus é responsável por meus problemas" e voltam-se para Deus, como auxílio na obtenção do que buscam. Um jnanin, devido ao seu conhecimento, não faz mais do que adorar por meio de cada ação. Por isto Krsna diz: "Todos são nobres, mas o sábio (jnanin) eu o considero de fato como Eu mesmo" (Bhagavadgita VII:18). Esses quatro tipos que buscam o Senhor representam a variedade de razões para a adoração.

Dayananda Saraswati






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Uma Introdução ao Estudo das Upanishads - Dayananda Saraswati


Não Há Nada Separado De Você. Você é a Totalidade Que Existe

Atmavijïäna, autoconhecimento não é subjetivo porque o "eu" é um e não muitos. Mas a nossa crença é de que existem muitos "eus". É por isso que eu sou um ninja. O mundo é diferente, Deus é diferente, os devatäs4 são diferentes, eu sou diferente. Nós não vemos o atma5 como um. Nós vemos o atma como se fossem muitos. É dessa mesma visão que surge o ninja, pois existem outros me ameaçando. Antes que eles me ataquem, eu os ataco! Mas, se conforme a visão de Vedanta, o Ser é um e não dois, isto significa que eu não tenho ninguém contra quem lutar. Por toda a nossa vida nós nos posicionamos com uma das mãos levantada para nos defendermos e a outra pronta para bater. Alguém me perguntou o que é paciência, o que é tolerância, o que é esta capacidade de suportar o que acontece, chamada titikñä. Você sabe o que é isso quando morde a língua. Você não puxa a língua para fora da boca e a decepa! Você não pode realmente fazer coisa alguma, pois você não pode ser um ninja contra você mesmo. Você está presente em sua língua, assim como em seus dentes também. Onde há unidade, não há luta. Todo o problema de lutar contra os outros é devido à minha visão do mundo como algo totalmente diferente daquilo que eu sou. As Upaniñads afirmam que isto é devido ao fato de você pensar que existem muitos atmas, mas há apenas um atma, não apenas com referência a indivíduos e seres vivos, mas até mesmo com referência ao mundo que você considera como sendo diferente de você. O mundo também não está separado de você. A assim chamada "separação" não é intrinsecamente verdadeira.

Se esta é a visão de Vedanta sobre você, ela é comunicável. É um fato que atma é um, não-dual e que não há nada separado de você. Você é a totalidade que existe. Você pensa ser uma parte infinitesimal e não gosta nada disso. Mas as Upaniñads dizem "Você é pürëaù, o todo". O fato de que você é o todo é comunicável. Não fosse comunicável, não seria conhecimento. Tornar-se-ia algo subjetivo. Um sujeito diz que o atma é bonito, mas um outro diz: "que tipo de beleza?", pois o seu gosto é diferente. Vedanta comprometido com esta visão da unidade do Ser revela este fato através de palavras próprias para comunicar e, assim, remover a causa para a insatisfação consigo mesmo. Este é o problema básico. Nós desejamos satisfazer o Ser insatisfeito e pensamos: "Eu estou insatisfeito porque não tenho isso, não tenho aquilo". São desvarios. O "eu" é uma entidade que é completa e ilimitada. Na verdade não há outra entidade. Somente há uma entidade e ela é você. Como isto pode ser egoísta? Ser egoísta é reconhecer um outro ser. A beleza aqui é que o Ser é o todo e essa totalidade é aplicável a todos.

Um katori, uma cumbuca, tem um certo espaço dentro de si que é chamado "espaço de katori". O espaço dentro de um copo é chamado "espaço de copo". O espaço dentro de um pote é chamado "espaço de pote". Suponha que o katori pense: "Oh, eu sou um espaço pequeno. Veja este pote, esta sala, que espaços grandes!" Se este espaço de katori tivesse uma mente e uma identidade própria para dizer "eu sou um espaço de katori", e se o katori for o seu corpo, ele então, naturalmente, irá ter um senso de limitação e irá se comparar com outros espaços de pote e de sala. Vedanta diz: "Você não é espaço de katori. Você é espaço, o espaço que em todos os lugares existe, espaço que a tudo acomoda, o espaço que tudo penetra". Agora, quantos espaços existem? Existe apenas um espaço. Não há um segundo espaço. Todo o universo físico está acomodado no espaço. O espaço é ilimitado e o "espaço de katori" existe somente de um determinado ponto de vista. O espaço que é "eu" é ilimitado, há apenas um espaço.

Não existe a questão da limitação e qualquer sofrimento devido à limitação é devido ao desconhecimento de que eu sou aquele único, total, ilimitado espaço. Devido a esta ignorância, existe o erro. O problema de sentir-se pequeno é o problema da insatisfação consigo mesmo. Para resolver este problema, o katori quer tornar-se pote, o pote quer tornar-se a sala, a sala quer tornar-se uma sala ainda maior. Por um processo de vir-a-ser, como é possível tornar-se o Todo? Não há necessidade de tornar-se. Já é o espaço ilimitado. Na visão de Vedanta, não há uma segunda entidade. O Ser é o todo e portanto não há qualquer razão de insatisfação. Insatisfação é o anartha. Anartha significa aquilo que eu não quero. Ninguém quer insatisfação, mas ela é universal, nascida da ignorância. O autoconhecimento é oposto àquela ignorância e Vedanta existe para lhe dar este conhecimento. Diga-me: existe opção quanto a este conhecimento? Quais as opções que você tem? É como perguntar: "devo respirar ou não?" Neste conhecimento de atma, ekatva - a unidade do Ser - você não tem escolha, não tem opções. Para tudo o mais você tem opção. Todo o mundo, todos os seus puruñärthas, seus objetivos, estão cheios de opções. Por ninguém querer ser descontente, ninguém quer ser um ninja, portanto não há escolha quanto a este conhecimento. Você tem que conhecer a você mesmo. E com o objetivo de levar você a compreender a unidade do atma, todas as Upanishads se iniciam.

Dayananda Saraswati

Fonte: http://www.vidyamandir.org.br/swami10.htm

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Autoconhecimento - Dayananda Saraswati


O Despertar Para o Objetivo Maior da Vida

Ao nascermos, nos deparamos com um mundo cheio de nomes e formas que determinam os limites e as diferenças aparentes entre objetos. A cada instante vivemos inúmeras experiências de prazer e desprazer e aprendemos a interpretá-las a partir de conceitos, valores e significados, que assimilamos dos outros e do ambiente em que vivemos.

Impulsivamente buscamos realizar os nossos desejos, repetindo experiências de prazer, e assim nos dizemos felizes; ou tentamos evitar sensações de desconforto e desprazer, que nascem da impossibilidade de realizar nossos desejos, e então nos dizemos infelizes.

Esse refúgio no conforto implica num afastamento da realidade interna (sentimentos, sensações, etc.) e externa, que são vividas como conflitantes, resultando numa percepção distorcida de nós mesmos e do mundo, ancorada numa série de tensões e resistências físicas e psíquicas.

A partir dessas experiências e interpretações crescemos, construindo uma identidade, uma noção de eu diferente e separado dos outros, e esse eu, por sua vez, torna-se o sujeito que julgará a si mesmo e as situações.

Assim, a vida é vivida sob a constante tensão de nos sentirmos inadequados, desejosos sempre de algo diferente. Sempre imaginamos que alguém, diferente de nós, é feliz, vivendo com confortos. Isso acontece por valorizarmos e termos fantasias com relação ao que o outro possui.

Sob essa ilusão, ninguém é completamente feliz. A única diferença é que alguns são infelizes com confortos e outros infelizes sem confortos. Todo mundo deseja ser diferente do que é ou que o mundo seja diferente do que ele é. Este problema é comum a todos os seres humanos.

Solucionar este problema é o objetivo da vida. Não se pode permanecer indiferente a ele. Através das várias experiências que temos em nossa vida, alcançamos uma maturidade para reflexão. Este é o grande momento, quando não somente vivemos em busca de confortos e prazeres, mas também analisamos o que desejamos com nossas aquisições. O mero acúmulo de objetos não produz felicidade. A insatisfação da mente não se resolve, satisfazendo todos os desejos.

O ser humano possui a capacidade de discernimento, o intelecto, e está consciente de si mesmo e do mundo ao redor. Diferente neste aspecto dos animais, que são governados por instintos, o homem possui a grandeza de ser consciente de si mesmo. Porém o eu, do qual está consciente, não lhe parece completo, nem adequado. Infelizmente ele se sente um ser inadequado e incompleto. E este ser incompleto, o único conhecido, cria o constante desejo de ser diferente, através de mudanças na vida.

Não existe problema algum em desejar e causar mudanças na vida. Aliás, as mudanças não podem ser evitadas; a vida é um processo de constante mudança. O problema é a expectativa que existe na mudança.

A expectativa é de que, produzindo uma nova situação em nossa vida ou modificando nosso passado, estaremos mais adequados, mais completos.

Tentamos fazer algo, não pela ação ou pela mudança, mas para sermos felizes, para eliminarmos a insatisfação.

Em todas as mudanças que procuramos realizar em nossas vidas, o que buscamos é uma mudança em nós mesmos. Buscamos estar bem em qualquer situação, estar completos, adequados, de forma que nenhuma situação possa nos perturbar.

Ao analisarmos, percebemos a teia das fantasias e dos erros de interpretação e julgamento na qual estamos emaranhados. O questionamento, a compreensão e a aceitação do mundo como ele é e o processo de eliminar os conflitos que nascem dessa ilusão são necessários para atingirmos uma mente clara e tranquila.

Esta mente clara e tranquila é o que sempre estivemos procurando.

Yoga e Vedanta oferecem os meios para este despertar.

Yoga é um conjunto de técnicas que visam o equilíbrio do indivíduo para que ele possa descobrir-se como ser completo.

A descoberta deste ser completo, adequado em si mesmo, que não depende de situações para ser feliz, é o objetivo de Vedanta.

Descobrir que existe uma busca fundamental por detrás dos vários desejos é a maturidade espiritual. É o despertar para o objetivo maior da vida, o conhecimento do ser pleno que sou eu.

Dayananda Saraswati

Fonte: http://www.vidyamandir.org.br/textos.htm




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